Folha de S. Paulo


Apple contrata executivos da Sony ligados a 'Breaking Bad' e 'Black List'

A Apple acaba de fazer sua maior declaração de intenções quanto à produção original de vídeos, ao contratar dois dos executivos mais cobiçados do setor de televisão.

A fabricante do iPhone contratou Jamie Erlicht e Zack Van Amburg da Sony Pictures Television, onde eles comandaram a produção de sucessos como "Breaking Bad", "The Crown" e "The Black List".

"Jamie e Zack são dois dos executivos de TV mais talentosos do planeta, e foram decisivos para a era de ouro que a televisão está vivendo", disse Eddy Cue, vice-presidente sênior de software e serviços de Internet da Apple.

A contratação sinaliza uma mudança no balanço do poder em Hollywood, em favor do Vale do Silício. Erlicht e Van Amburg, que comandam a Sony Pictures TV desde 2005, eram muito cobiçados e poderiam ter escolhido qualquer estúdio para trabalhar.

A Apple vem experimentando com a produção de conteúdo original, tendo encomendado duas séries originais para a Apple Music, sua plataforma de streaming musical.

A primeira das séries, "Planet of the Apps", estreou no começo do mês mas foi recebida sem entusiasmo pelos críticos.

No entanto, a empresa ainda não está concorrendo com grandes rivais como a Netflix e a Amazon, que investem bilhões de dólares ao ano na produção de séries e filmes.

A Apple vinha sondando importantes executivos de Hollywood há mais de um ano sobre como desenvolver uma estratégia para conteúdo original, ciente de que programas atraentes levarão os clientes a usar seus aparelhos por mais tempo e a ajudarão a se destacar diante da concorrência.

As receitas recorrentes de serviços como a Apple Music e os mais de 150 milhões de assinaturas que os clientes da Apple pagam por meio da App Store também ajudam a contrabalançar a natureza muitas vezes cíclica das vendas do iPhone.

No ano passado, a Apple considerou por breve período a possibilidade de adquirir a Time Warner, e também negociou com a Imagine Entertainment, produtora controlada por Brian Grazer e pelo cineasta Ron Howard.

Ao contratar Erlicht e Van Amburg, a Apple sinaliza sua intenção de operar por conta própria. "Queremos levar ao vídeo o que a Apple fez com tanto sucesso em outros produtos e serviços ao consumidor", disse Erlicht.

A Apple anunciou que planeja dobrar a receita de suas operações de serviços, comandadas por Cue, para US$ 50 bilhões ao ano em 2020.

Atingir essa meta, que significa construir um negócio quase tão grande quanto o da Disney, pelo critério de faturamento, vai exigir o lançamento de novos tipos de serviço, disse Tim Cook, o presidente-executivo da Apple.

"Percebemos que o mundo do vídeo atingiu uma espécie de bolsão de ar", disse Cook à rede de TV CNBC, em maio, acrescentando que o abandono das assinaturas de TV paga estava "se acelerando maciçamente", o que representa uma oportunidade para empresas de tecnologia como a Apple.

Cook descreveu as encomendas de conteúdo existentes da Apple como "uma maneira de testar as águas".

Depois de veicular shows de Taylor Swift e outros artistas, os novos programas da Apple Music incluirão a série "Carpool Karaoke", que nasceu no talk show de James Corden em TV aberta, e o documentário "Can't Stop Won't Stop", sobre a gravadora Bad Boy Records, de Sean "Puff Daddy" Combs.

As novas contratações da Apple sugerem que ela agora planeja investir mais agressivamente em novos programas de TV e filmes, que irão além da música e entretenimento.

"As coisas que estamos tentando fazer não estão sendo feitas por ninguém", disse Cue na conferência Code Media, em fevereiro.

Ele acrescentou, em sua declaração da sexta-feira, que "temos planos empolgantes à espera dos consumidores, e mal podemos esperar para que [Erlicht e Van Amburg] tragam seus conhecimentos para a Apple - há muito mais por vir".

Até agora a Apple Music - que tem 27 milhões de assinantes - se provou um sucesso maior do que o Apple TV, um produto reformulado que chegou ao mercado em 2015 mas registrou queda de vendas na temporada de festas do ano passado.

Em fevereiro, a Apple contratou Tim Twerdahl, que comandava as operações da divisão Fire TV da Amazon, para acelerar o desenvolvimento do novo Apple TV.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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