Folha de S. Paulo


Amazon anuncia plano de compra da rede Whole Foods por US$ 13,7 bilhões

Mike Segar/Reuters
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Amazon anuncia plano de compra da rede Whole Foods por US$ 13,7 bilhões

A Amazon vai tomar o controle da cadeia de varejo Whole Foods por US$ 13,7 bilhões, na maior aquisição já realizada pela empresa de Jeff Bezos, que deseja explorar a escala propiciada pelo seu alcance online para desafiar rivais como o Wal-Mart no comércio de alimentos.

A Amazon pagará US$ 42 por ação da Whole Foods, sediada no Texas, em uma transação em dinheiro que incluirá a absorção das dívidas da empresa adquirida.

Adquirir a Whole Foods, a maior cadeia de varejo de mantimentos finos dos Estados Unidos, acelerará radicalmente as ambições da Amazon no mercado americano de alimentos e mantimentos, que movimenta US$ 800 bilhões anuais. A empresa de comércio eletrônico sediada em Seattle vem tentando ganhar espaço no segmento de serviços de compra on-line e entrega de mantimentos.

Tendo acompanhado o desordenamento causado pela Amazon em setores como as livrarias, a computação em nuvem e a produção de TV e cinema, em sua ascensão de duas décadas de duração a uma cotação de mercado de US$ 467 bilhões, os investidores reagiram com uma onda de vendas que derrubou os preços das ações das cadeias de varejo físico de alimentos nos Estados Unidos e Europa.

O Wal-Mart, maior companhia de varejo do planeta, registrou queda de até 5,4%, perdendo US$ 12,9 bilhões em valor de mercado. A Costco, que opera lojas de baixo preço e alto volume, perdeu US$ 5,2 bilhões em valor de mercado, e a Target, que vende a preços baixos, perdeu US$ 3,5 bilhões em capitalização. A Kroger, uma das maiores cadeias mundiais de supermercados, viu sua capitalização de mercado cair em US$ 3 bilhões.

A Whole Foods, conhecida pelos altos preços cobrados por seus produtos orgânicos e alternativos, registrou queda em sua média de vendas por unidade de varejo nos últimos dois anos. O faturamento total da empresa subiu em 1,1%, para US$ 3,7 bilhões, em seu trimestre mais recente, e os lucros da empresa caíram em 30%, para US$ 99 milhões.

A Amazon vai financiar a transação via dívida, o que inclui um empréstimo ponte bancado pelo Goldman Sachs e Bank of America, informou a empresa em documentos encaminhados às autoridades regulatórias norte-americanas.

As ações da Whole Foods subiram em mais de 28% na sexta-feira, para US$ 42,26, e as da Amazon subiram em 2,7%, para US$ 990,10.

Charlie O'Shea, analista da Moody's, disse que a aquisição era "uma transação transformadora, não só para o varejo de alimentos mas para o varejo em geral".

ESTRATÉGIA

A aquisição dará a Amazon —uma empresa que construiu a maior parte de seus negócios on-line— uma presença física muito mais significativa. O grupo de comércio eletrônico opera um serviço de venda de mantimentos chamado AmazonFresh desde 2007, e estava testando quiosques para retirada de pedidos de mantimentos em Seattle. A empresa também abriu algumas livrarias físicas nos Estados Unidos, nos últimos 12 meses.

John Mackey, fundador e presidente-executivo da Whole Foods, estava sendo pressionado a vender sua empresa pelo Jana Partners, um fundo de hedge ativista que adquiriu 9% de participação na empresa em abril.

Naquele mês, a Jana atacou os executivos da Whole Foods por "desempenho cronicamente insatisfatório para os acionistas", e apelou por mudanças de comando e de estratégia, além de mencionar a possibilidade de uma venda.

A Whole Foods foi criada há 35 anos e é pioneira no comércio de produtos orgânicos nos Estados Unidos, mas vem enfrentando dificuldades para reverter a queda das vendas médias por unidade em sua cadeia, e no mês passado substituiu o presidente de seu conselho, o vice-presidente de finanças do grupo e diversos conselheiros.

Esta semana, Mackey contra-atacou a Jana, em entrevista à revista "Texas Monthly", definindo a empresa como "bastardos gananciosos" que "terão de derrubar o papai aqui se desejam tomar o controle" da empresa.

"John [Mackey] teve de engolir o orgulho e vender a contragosto... ele estava sob imensa pressão", disse uma pessoa próxima ao executivo. "Se pudesse, teria fechado o capital da empresa".

"Já que isso não era possível, Bezos [Jeff Bezos, o presidente-executivo da Amazon] era a melhor pessoa a quem vender sua companhia", disse a fonte. "Veja como ele reviveu o 'Washington Post' [que Bezos comprou em 2013]. A Amazon pode fazer o mesmo pela Whole Foods".

A venda à Amazon "representa uma oportunidade de maximizar valor para os acionistas da Whole Foods Markets", disse Mackey.

COMPETIÇÃO NO MERCADO

A batalha no setor de mantimentos vem no momento em que as cadeias alemãs de baixo preço Aldi e Lidl começam a se expandir nos Estados Unidos, o que acarreta o risco de uma guerra de preços contra os atuais líderes do mercado. A Walmart planeja cortar os preços até mesmo dos produtos orgânicos, para reter sua fatia de mercado.

O'Shea acrescentou que "as implicações vão bem além do segmento de alimentos, onde empresas dominantes como Walmart, Kroger, Costco e Target agora terão de ficar olhando pelo retrovisor a aproximação do trem da Amazon".

Ele apontou que, dados os mais de US$ 2 bilhões em reservas de caixa e investimentos da Amazon, "fica evidente que eles possuem flexibilidade financeira significativa".
Rupesh Parikh, analista do banco Oppenheimer & Co., disse que o preço de oferta de US$ 42 por ação da Whole Foods "parece deixar algum dinheiro na mesa", ao subestimar "as perspectivas e a forte marca da empresa".

"Não se pode descartar uma oferta rival, mesmo que como medida defensiva contra a ameaça da Amazon", ele acrescentou.

A Amazon anunciou neste mês que ofereceria descontos nas mensalidades do programa Prime para os americanos que estejam recebendo assistência do governo, em um esforço para convencer os participantes do programa de assistência alimentar do governo a comprar comida online. A decisão foi vista como ataque direto contra a Walmart, cuja base de clientes são os cidadãos de baixa renda.

Na entrevista à "Texas Monthly", Mackey disse que, como parte da promoção de um livro que escreveu, ele fez uma palestra no banco Goldman Sachs, antes do ataque da Jana.
"O presidente-executivo do Goldman Sachs queria me conhecer porque, é claro 'o Goldman Sachs adoraria representá-los. Se vocês vão ser vendidos, adoraríamos ganhar US$ 100 milhões com isso. Não se esqueça dos seus amigões no Goldman Sachs'", afirmou.

O banco de investimento Evercore assessorou a Whole Foods e o Goldman Sachs assessorou a Amazon.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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