Folha de S. Paulo


Oferta de lítio pode não ser capaz de acompanhar avanço de carro elétrico

Yuya Shino/Reuters
Panasonic Corp's lithium-ion batteries, which are part of Tesla Motor Inc's Model S and Model X battery packs, are displayed in front of a poster of a Tesla Model S during a news conference at the Panasonic Center in Tokyo, ahead of the 2013 Tokyo Motor Show, November 19, 2013. The Tokyo Motor Show will be held from November 22 to December 1. REUTERS/Yuya Shino (JAPAN - Tags: TRANSPORT BUSINESS) ORG XMIT: TOK300
Baterias com lítio produzidos pela Panasonic para carros elétricos da Tesla

Há um ano, o fundador e presidente-executivo da Tesla, Elon Musk, brincou que o lítio era apenas o "sal na salada" para as baterias tão importantes para as companhias de carros elétricos.

Passados 12 meses, aquilo que o pioneiro da Tesla chamou de "apenas sal" virou motivo de preocupação para um número crescente de analistas -e algumas montadoras.

O temor é que a oferta de lítio não seja capaz de acompanhar o aumento da demanda com a expansão na produção de veículos elétricos.

"Existe um consenso sobre a demanda, não discutimos mais sobre isso", afirmou John Kanellitsas, vice-presidente do conselho da Lithium Americas, mineradora que desenvolve um projeto de lítio na Argentina.

"A conversa agora envolve a oferta e se nós, a indústria, conseguiremos atender."

Os preços do carbonato de lítio, usados em cátodos de bateria, mais que dobraram desde 2015, segundo a consultoria CRU.

Algumas pessoas falam na possibilidade de um "superciclo do lítio", repetindo o que ocorreu com o minério de ferro no início deste século, com a disparada no preços, resultado da demanda chinesa.

"Levou muitos anos para a oferta de minério de ferro alcançar a demanda. E o mesmo vai acontecer com os materiais para bateria, se não houver dinheiro para desenvolver novos projetos", disse Reg Spencer, analysta da Canaccord Genuity.

Spencer estima que sejam necessários investimentos de US$ 3 bilhões para extrair mais lítio na América do Sul e na Austrália.

Na semana passada, um executivo da Volkswagen afirmou em evento em Londres que o fornecimento de lítio e cobalto (metal usado em baterias) é grande preocupação da montadora.

Em abril, a chinesa BYD, fabricante de veículos elétricos, disse que estava em negociação com produtores chilenos para garantir o fornecimento de lítio.

O banco UBS prevê que, em 2025, 14% dos carros no mundo serão elétricos. Mas alerta para os possíveis riscos, ainda que temporários, de um gargalo na capacidade de mineração do material.

Essa crescente preocupação sobre o oferta também se deve porque a produção está concentrada nas mãos de poucas empresas: a americana Albemarle, a Sociedad Química y Minera de Chile e as chinesas Tianqi Lithium e Ganfeng Lithium (ambas têm produção na Austrália).

Para David Deak, diretor técnico da Lithium Americas e ex-engenheiro da Tesla, a produção de lítio precisa passar em 20 anos de 182 mil toneladas para uma média de 3,1 milhões de toneladas para abastecer a frota mundial.

"Muita gente superestima a facilidade de aumentar a oferta", afirma Richard Seville, presidente-executivo da Orocobre, a primeira a investir em um projeto de extração de salmoura de lítio, há 20 anos, na Argentina.

Tudo isso indica que a caçada pelo "sal" deve ficar ainda mais intensa.


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