Folha de S. Paulo


PF faz operação na sede da JBS para apurar atuação no mercado financeiro

Danilo Verpa - 13.fev.2017/Folhapress
Polícia Federal faz operação na sede da JBS, em São Paulo
Polícia Federal faz operação na sede da JBS, em São Paulo

A Polícia Federal cumpriu nesta sexta (9) mandados de busca e apreensão na sede da JBS, em São Paulo. Três funcionários da empresa de alimentos foram conduzidos coercitivamente para prestar depoimentos e posteriormente foram liberados. Um quarto funcionário não foi encontrado para ser conduzido.

Batizada de Tendão de Aquiles, a operação apura o suposto uso indevido de informações privilegiadas pela JBS e por sua controladora, a FB Participações, no mercado financeiro. Foram apreendidos documentos, mídias, celulares e informações de HDs.

A notícia assustou investidores, e as ações da JBS fecharam com queda de 2,67%.

A operação foi autorizada pelo juiz João Batista Gonçalves, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo.

Em sua decisão, ele aponta como motivo "operações feitas em condições fora dos padrões e durante período em que os dirigentes da empresa estavam negociando termos de acordo de delação premiada, ainda em fase de sigilo absoluto naquela ocasião".

O magistrado baseou-se em análise de relatórios técnicos apresentados pela PF, feitos após diligências e compartilhamento de informações com a CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

CRONOLOGIA

Joesley Batista, um dos donos da JBS, gravou uma conversa com o presidente Michel Temer em 7 de março. Em seguida, ele e seu irmão, Wesley Batista, firmaram acordo de delação com a Procuradoria-Geral da República.

Em 24 de abril, a FB Participações começou a vender ações da JBS, o que durou até o dia 27 daquele mês. Em 28 de abril, funcionários da JBS e da J&F (holding dos Batista) ordenaram operações no mercado de câmbio, indicam elementos reunidos pela CVM. Tais operações cessariam em 17 de maio, quando foi noticiada a existência da delação.

Segundo a PF, há indícios de uso de informação privilegiada, "gerando vantagens indevidas no mercado de capitais num contexto em quase todos os investidores tiveram prejuízos financeiros".

No dia seguinte à notícia sobre o acordo, que jogou o governo Michel Temer numa profunda crise, as ações da JBS na Bovespa despencaram e a cotação do dólar disparou.

O inquérito foi instaurado pela Polícia Federal no dia 19 de maio, depois que tomou conhecimento de que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) havia instaurado cinco processos administrativos para apurar uso de informação privilegiada pela empresa e seus controladores.

Os investigados, caso venham a ser condenados, podem responder por crimes cujas penas variam de 1 a 5 anos de reclusão e multa de até três vezes o valor ilícito obtido, de acordo com a PF.

CORRETORAS

Inicialmente o Ministério Público Federal havia requerido que a busca e apreensão se estendesse também às corretoras Credit Suisse, Ativa, Goldman Sachs, XP Investimentos, BGC Liquidez, que não haviam apresentado informações solicitadas pela CVM.

Mas como as instituições atenderam, ao menos parcialmente, os requerimentos da CVM os procuradores entenderam ser desnecessária a busca e apreensão.

OUTRO LADO

Em nota, a JBS afirmou que as empresas entregaram os materiais e documentos solicitados e que segue está à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos.

Sobre a compra e venda de moedas, ações e títulos, diz que as operações realizadas pela J&F, suas subsidiárias e seus controladores foram feitas dentro da lei. Sobre as operações de câmbio, afirma que gerencia "de forma minuciosa e diária" a sua exposição cambial e de commodities.

"A empresa tem como política a utilização de instrumentos de proteção financeira visando, exclusivamente, minimizar os seus riscos cambiais", afirmou.


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