Folha de S. Paulo


Caixa e Petrobras agem contra empresas controladas pela J&F

Zanone Fraissat - 29.ago.13/Folhapress
SAO PAULO/SP-BRASIL,29/08/13 wesley Batista (esq) e Joesley Batista (dir), donos da friboi na cerimonia de entrega do premio as Melhores da Dinheiro 2013 no Credicard Hall.(Foto: Zanone Fraissat /MONICA BERGAMO)
Joesley e Wesley Batista, da J&F, dona de marcas como a JBS e a Flora, de higiene e limpeza

A Caixa Econômica Federal e a Petrobras tomaram medidas que podem provocar perdas para a J&F, alegando preocupação com os crimes revelados pelos irmãos Joesley e Wesley Batista em seu acordo de delação premiada.

A Caixa decidiu cobrar antecipadamente um empréstimo de R$ 50 milhões da Flora, empresa de higiene e limpeza dona das marcas Minuano e Neutrox. O financiamento só venceria em 2018.

Com prejuízos acumulados de R$ 57 milhões em 2014 e 2015, a Flora enfrenta dificuldades financeiras e trocou recentemente de presidente. A cobrança antecipada da dívida pode agravar os problemas.

PROBLEMAS À VISTA - Maior grupo empresarial do país, a J&F acumula cerca de R$ 70 bilhões em dívidas

FATORES DE PRESSÃO
Governo e autarquias aumentam pressão sobre a empresa, que enfrenta crise de reputação

Caixa
Maior credor da J&F, com cerca de R$ 10 bilhões emprestados ao grupo, o banco estatal tenta bloquear o acesso de empresas dos irmãos Batista a crédito

AGU
A ministra Grace Mendonça afirmou que a AGU irá processar a JBS por danos ao sistema financeiro caso a CVM conclua que a empresa lucrou com a divulgação da delação premiada de seus executivos

Petrobras
Estatal usou uma cláusula anticorrupção para extinguir contrato de fornecimento de gás para térmica do grupo J&F, controlador da JBS, em Cuiabá. Empresa vai cobrar do grupo empresa multa
de R$ 70 milhões

CVM
A Comissão de Valores Mobiliários já abriu 11 investigações contra a empresa; os processos podem resultar em multas à empresa e punições a seus administradores

*

Executivos próximos ao grupo disseram à Folha que a companhia não rompeu nenhuma cláusula do contrato que pudesse justificar a cobrança antecipada. Procurada, a Caixa não comentou.

A Petrobras cancelou contrato de fornecimento de gás para usina termelétrica da Âmbar, que também pertence à J&F, em Cuiabá. A estatal diz que cobrará da empresa multa de R$ 70 milhões.

O relacionamento das duas companhias já enfrentava problemas desde que a J&F apelou ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para forçar a Petrobras a vender gás a preços bolivianos para a usina.

Em sua delação premiada, Joesley disse que ofereceu propina ao presidente Michel Temer e ao ex-deputado Rodrigo Rocha Loures para influenciar a decisão do órgão antitruste.

Em nota, a Petrobras diz que o contrato de fornecimento de gás à Âmbar tem uma cláusula anticorrupção e que "tomou conhecimento" dos depoimentos em que os executivos da J&F admitem que "cometeram atos que violam a legislação anticorrupção".

A Âmbar informou que "não é nem nunca foi alvo de investigações de atos de corrupção" e que "os fatos relatados na colaboração se dão no âmbito da holding".

A empresa diz ainda o acordo de leniência com o Ministério Público Federal liberou as controladas da J&F para celebrar contratos com instituições e empresas públicas.

Grupo J&F - Em R$ bilhões

RETALIAÇÃO

Pessoas próximas aos Batista dizem que a empresa é alvo de retaliação do governo por causa do impacto político da delação dos irmãos Batista.

Joesley entregou às autoridades a gravação de uma conversa com Temer.

Além dos problemas com a Caixa e a Petrobras, os executivos dizem que o grupo está sendo alvo de um pente-fino da Receita Federal e do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e de vários processos abertos pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

Mas as medidas tomadas até agora atingiram negócios menores, por causa do receio do impacto da crise do grupo no setor financeiro e nos pecuaristas.

A J&F é dona da JBS, maior processadora de proteína animal do mundo.

Com pelo menos R$ 23 bilhões a receber do grupo J&F, BB, Bradesco, Itaú, Santander e Caixa temem o risco de um calote da empresa, que os obrigaria a lançar provisões volumosas em seus balanços.

Segundo um banqueiro, não há disposição para dar dinheiro novo ao grupo, mas executar suas dívidas seria pior para todos, já que ele não teria condições de pagar tudo.

A Caixa é a que teria mais a perder, porque é o maior credor das empresas dos Batista.

Para alongar os prazos de pagamento, os bancos estão pedindo mais garantias, como mandatos de venda de ativos. A dívida das empresas da J&F supera os R$ 70 bilhões, mas é concentrada na JBS e na Eldorado Celulose.

Wesley Batista já teve várias reuniões com o setor financeiro para explicar a situação.

Conforme uma pessoa presente a um desses encontros, o empresário deixou claro que o grupo pode quebrar se os bancos interromperem os financiamentos de capital de giro.


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