Folha de S. Paulo


Varejistas estudam saídas em caso de boicote a produtos do grupo J&F

Preocupados com eventual boicote do consumidor a produtos das marcas da J&F, grandes varejistas começam a sondar a capacidade dos concorrentes de elevar o fornecimento para substituí-los.

A delação dos executivos da JBS na Lava Jato há 15 dias desencadeou uma série de campanhas e reclamações de consumidores nas redes sociais chocados com as revelações de corrupção.

Apesar das ameaças, ainda não há registros de efetiva queda na demanda pelos produtos de marcas como Seara, Doriana, Neutrox, Minuano, todos de empresas pertencentes ao grupo J&F.

A Abras (associação de supermercados) diz não ter ainda levantamento definitivo.

NA PRATELEIRA - Participação da JBS entre os fabricantes de cada categoria em 2016, em %

Executivos de uma grande rede dizem ter percebido uma mudança no comportamento de consumidores que preferiram produtos de concorrentes, mas ainda leve.

Para Olegário Araújo, diretor da consultoria especializada Inteligência de Varejo, a consolidação de um boicote com consequências desastrosas é improvável, mas é importante o varejo traçar cenários para se precaver devido ao porte do grupo J&F.

Uma rejeição drástica por parte dos consumidores prejudicaria a gestão de estoque dos varejistas, principalmente no caso de categorias de produtos em que o grupo é muito forte, como carnes processadas, em que a JBS tem quase 25% do mercado, segundo a Euromonitor, e refeições prontas (9,5%).

"Apesar do impacto nas redes sociais, a mudança de comportamento é lenta. Não vimos isso na época da Carne Fraca, em que o receio era risco a saúde. Não sei se agora, em que a questão é de consciência política, haverá."

A baixa adesão ao boicote pode estar ligada à dificuldade do consumidor em relacionar o nome das marcas da J&F. Nem todos têm consciência da relação entre Faixa Azul e Leco, por exemplo.

Em seu apoio ao boicote, o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) divulgou a lista de marcas.

A JBS afirma que as atividades seguem normalmente, sem queda na demanda.

A crise de imagem que a empresa vive hoje poderia também impactar as negociações com o varejo, de acordo com o diretor da Inteligência de Varejo.

Um enfraquecimento da demanda fortaleceria o poder de negociação das grandes redes em relação ao fabricante, exigindo melhores prazos e condições de pagamento. Mas precisaria ser uma mudança muito drástica para enfraquecer um fornecedor como a J&F.

Procuradas, as assessorias de imprensa de GPA, Carrefour e Walmart não revelam em que pé estão as negociações com a J&F.

Elas dizem repudiar atos de corrupção, mas, por enquanto, estão apenas acompanhando o caso e não assumem qualquer corte de relações com o fornecedor.


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