Folha de S. Paulo


Investidores apostam em ações brasileiras, contrariando tendência

Joel Silva/Folhapress
Mais de US$ 750 milhões fluíram para fundos de ações brasileiras nos sete dias até 24 de maio
Mais de US$ 750 milhões fluíram para fundos de ações brasileiras nos sete dias até 24 de maio

Apostando contra a tendência do mercado, investidores colocaram mais dinheiro em fundos de ações brasileiras na semana passada do que em em qualquer semana desde 2012, em uma corrida dos administradores para comprar na baixa em um momento de distúrbio político no país.

Mais de US$ 750 milhões fluíram para fundos de ações brasileiras nos sete dias até 24 de maio, alimentados por investimentos institucionais em fundos negociados em bolsa, de acordo com a EPFR. A virada veio na esteira de uma queda de 9% no índice Bovespa, a referência do mercado brasileiro, quinta-feira da semana passada —um dia em que os interruptores automáticos suspenderam as transações com o índice de ações por breves períodos, e de fraqueza para o real depois que o presidente Michel Temer foi acusado de endossar subornos.

Os novos investimentos no Brasil, direcionados a fundos como o iShares MSCI Brazil Capped ETF e First Trust Brazil AlphaDEX, também beneficiaram o Direxion Daily MSCI Brazil Bull 3X Shares, de acordo com dados separados acompanhados pela Factset. Este último fundo negociado em bolsa sofreu queda de 48% em suas cotas na quinta-feira da semana passada.

"Para os investidores que têm estômago, boa sorte a todos", disse Brian Jacobsen, estrategista para mercados emergentes na Wells Fargo Fund Management, sobre o ingresso de dinheiro nos fundos relacionados ao Brasil. "Nossos administradores de fundos de ações de mercados emergentes veem o momento como boa oportunidade de entrar no Brasil porque entendem a situação política como ruído que está obscurecendo a melhora de fundamentos que está por vir".

O investimento em papéis brasileiros, que inclui US$ 83 milhões em fundos de títulos que investem exclusivamente no país, contrariou o universo mais amplo dos mercados de ações emergentes, que passou por forte desaceleração em ingressos de capital, comparado à semana anterior.

Os estrategistas acautelam que muitos investidores de varejo compram cotas em fundos mais amplos de mercados emergentes, quando começam a investir nessa categoria de ativos, e não cotas de fundos dedicados a um só país.

Menos de US$ 1 bilhão entraram nos fundos de ações de mercados emergentes no período, cerca de um quarto dos ingressos da semana anterior, demonstram os dados da EPFR. Os fundos de títulos de mercados emergentes registraram ingressos de US$ 1,1 bilhão nos sete dias até 24 de maio, 31% abaixo dos ingressos do período de sete dias precedente.

"O fato de que o dinheiro tenha sido direcionado principalmente a fundos negociados em bolsa é coerente com a pressa dos investidores em estabelecer posições curtas", disse Cameron Brandt, diretor de pesquisa da EPFR. "Mas é igualmente verdade que nos últimos anos os investidores foram condicionados a ver qualquer onda de vendas como oportunidade de compra que desaparecerá rapidamente".

Brandt apontou que os fundos de ações russas avançaram em mais de 20% nos três meses e meio posteriores à anexação da Crimeia por Moscou.

Guillermo Osses, diretor de estratégia para mercados emergentes na Man GLG, alertou que os investidores estavam demonstrando "extraordinária complacência" quanto à situação do Brasil., e que a dinâmica da dívida do país se tornaria "insustentável" se as reformas propostas por Temer fracassarem.

"As pessoas aumentaram substancialmente sua exposição [aos mercados emergentes] e esse aumento aconteceu em níveis de avaliação não muito distantes do valor de pico", disse Osses. "As chances de correção nos mercados emergentes como um todo e no Brasil especialmente são significativas".

Desde o começo do ano, mais de US$ 60 bilhões entraram nos fundos de títulos e ações de mercados emergentes.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Endereço da página: