Folha de S. Paulo


Com mais de 700 empresas, setor de drones vive aquecimento

Divulgação/Eldorado Brasil
Drone da Eldorado Brasil sobrevoa uma plantação de eucaliptos em Três Lagoas (MS)
Drone da Eldorado Brasil sobrevoa uma plantação de eucaliptos em Três Lagoas (MS)

Recém-regulamentados para uso como câmeras voadoras, os drones têm cada vez mais aplicações. Já são mais de 700 as empresas brasileiras que criam, importam ou implementam hardware e software desses aparelhos, segundo Emerson Granemann, organizador da feira DroneShow, que aconteceu em São Paulo neste mês.

A regulamentação, ocorrida no início de maio, deverá fazer o mercado crescer, já que grandes contratos não vinham sendo fechados "por falta de segurança jurídica", explica Granemann.

O país já conta com uma cadeia produtiva completa no setor, de fabricantes a prestadores de serviços. Boa parte dessas empresas foi formada nos últimos dois anos, por empreendedores com pouco mais de 30 anos.

Drones nacionais para uso comercial custam de poucos milhares a centenas de milhares de reais, dependendo da tecnologia embarcada: nela está a maior parte do valor dessas pequenas aeronaves.

A Xmobots, com sede em São Carlos (SP), criou câmeras próprias, oblíquas, que captam o dobro da área alcançada por uma câmera comum. São duas lentes posicionadas a um ângulo. Com isso, é possível fazer menos voos para cobrir a mesma área.

"Nossa câmera pode fazer imagens de Ilhabela inteira em um só voo", diz Giovani Amianti, diretor. Formado em mecatrônica, percebeu o potencial dos drones quando fazia doutorado, há dez anos. O primeiro projeto experimental da empresa ocorreu no monitoramento da obra da usina hidrelétrica de Jirau.

Ilustração Marcelo Cipis

No exterior, segundo estudo da PriceWaterhouseCoopers, 45% desse negócio está em obras de infraestrutura e 32% na agricultura.

Aqui, a maior parte das aplicações se dá na agricultura. Cada cultura, porém, exige um tipo de solução. "Os pousos na soja e na cana são diferentes; a soja é macia, na cana é preciso pousar como um míssil", diz Gabriel Klabin, do Santos Lab, que aposta em adaptar seus drones às necessidades do contratante. "Customizar sai mais barato que solução de prateleira."

A empresa passou a projetar drones em 2006, tendo como cliente incidental a Marinha. Ainda estudante, Klabin criava drones por hobby e postava vídeos. Foi apresentado a um oficial numa loja de aeromodelismo que frequentava. A Marinha estava prestes a comprar drones do exterior e queria modelos baratos brasileiros para treinar.

Durante o contrato, Klabin e colegas tiveram de adaptar os aparelhos às várias condições necessárias, incluindo pouso no mar, habilidade rara em drones comerciais.

VISÃO COMPUTACIONAL
Já há possibilidades de aplicação dos drones no monitoramento de torres de energia e transmissão, o que poupa o risco em escaladas de técnicos. Segundo estudo da Gartner, 30% do mercado mundial comercial de drones até 2020 deve estar em inspeções de óleo, gás, energia, infraestrutura e transporte.

"No tempo que um técnico leva para vestir o equipamento de proteção antes de escalar uma torre, um drone já inspecionou cinco", compara o norte-americano Chase Olsen, sócio da start-up 4Vants, de Curitiba.

Isso é possível por meio da "visão computacional", tecnologia de processamento de imagens para captação de dados. Sensores de calor podem mostrar pontos de superaquecimento. Hoje, eles conseguem uma assertividade de 80% nos dados captados pela imagem. Até outubro, pretendem chegar a 95%.

Aplicações da visão computacional se comparam às de exames médicos por imagem. Não por acaso, o sócio brasileiro de Olsen, Michel Sehn, vem da área da saúde. Filho de cardiologista, tem uma empresa de telemedicina, que faz mamografia e eletrocardiograma à distância.

Essa tecnologia pode ser usada para monitorar o trânsito ou contar multidão num protesto, por meio da localização de rostos em imagens.

O sistema da 4Vants processa imagens captadas por drones para criar uma nuvem de pontos georreferenciados em 3D, com altura, largura, profundidade e cor. Com isso, dois cliques do mouse permitem estimar o volume de uma pilha de madeira, por exemplo. A plataforma deve estar disponível até outubro.


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