Folha de S. Paulo


Brasileiros exportam em rotas alternativas

Marcelo Justo/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 15.maio/2017, 15h30: Carla Franco (branco) e Bela Frugiueli, socias da grife Tryia, que exportam para a Grécia, Dubai e Miami. (Foto: Marcelo Justo/Folhapress)
As empresárias Carla Franco (à esq.) e Bela Frugiuele, sócias da grife Tryia

Empresas brasileiras do ramo da moda estão buscando alternativas para conquistar o mercado exterior. Destinos como Paris, Milão e Nova York, que formam o circuito mais concorrido, estão dando lugar a cidades menos glamorosas, mas com grande potencial de consumo.

"Outros mercados podem ser uma boa porta de entrada para quem quer expandir os negócios para o exterior, sobretudo por apresentar uma oferta menor e, portanto, menos concorrência às marcas brasileiras", afirma Paulo Lourenço Bartholomei, presidente da Abest (Associação Brasileira de Estilistas).

De acordo com a Abest, o principal destino para as exportações brasileiras em 2016 foi o vizinho Paraguai, com 23,5%; Estados Unidos e Uruguai completam o pódio.

"Antes de entrar em grandes mercados, a sugestão é começar pelo que está em volta, como Chile, Uruguai, Colômbia e México, todos com grande potencial", diz Bianca Scampni, diretora da Mood Negócios da Moda.

Já Paula Milena, responsável pela start-up We the Fashion Brands, criada para a internacionalização de marcas de consumo, acredita que a Flórida (EUA) é um bom começo para ganhar o mundo.

"Traz uma boa combinação entre visibilidade, presença internacional e localização estratégica para distribuição. Está no meio do caminho entre Brasil e o restante da América do Norte e possui clima similar ao nosso."

Para Lilian Kaddissi, gerente executiva da TexBrasil, programa de internacionalização da indústria têxtil, o país ainda não tem uma imagem tão estabelecida e faltam acordos comerciais para garantir competição em grandes mercados.

"Começar pela América Latina é uma boa opção. Poucos exportam para a Bolívia, por exemplo, mas eles têm muito interesse em comprar marcas brasileiras", afirma.

FEIRAS

Foi de olho nos mercados menos competitivos que a Triya percebeu que havia uma área para explorar. "Há três anos iniciamos nossa caminhada pelo exterior", diz a estilista e sócia Bela Frugiuele, 39, que se valeu de feiras em Miami e Paris como a porta de entrada, ou de saída, para seus produtos.

"Dali começamos a vender para vários países e hoje estamos presentes no Chile, na Grécia e na França", conta Frugiuele. As exportações representam hoje 15% do faturamento total da marca.

Editoria de Arte/Folhapress
DE DENTRO PRA FORAPrincipais destinos das exportações de vestuário*

Presente em 20 países, a empresa 2 Rios Lingerie também aproveita feiras internacionais para estabelecer novos negócios.

"Existem diversas oportunidades fora do circuito, mas não podemos deixar de lado algumas feiras e eventos que ajudam na imagem da marca", diz o presidente da empresa, Matheus Fagundes.

Os eventos são oportunidades para conhecer a dinâmica de diferentes mercados, avalia o empresário."Precisamos sempre analisar a proposta de valor e os concorrentes no mercado, isso evita investimentos errados."

Contudo, feiras podem não ser o melhor caminho para operações de menor porte, com foco em peças exclusivas. Essa é a avaliação da estilista Heloísa Faria, 39. A grife que leva o seu nome tem showroom em Tóquio, no Japão.

"Somos pequenos, achamos que ainda não é o momento de participar de feiras internacionais. Mas encontramos na parceria com o Japão a oportunidade de ganhar novos mercados", diz a estilista.

Faria conta que se trata de uma operação bastante restrita: a empresa manda entre 40 e 50 peças de vestuário para Tóquio por ano.

"Tenho interesse em enviar produtos para outros países, mas trabalhamos de uma forma bastante conceitual e exclusiva, com matéria-prima totalmente nacional, por isso, planos de expansão requerem ainda mais cuidado para manter a qualidade dos produtos", explica a estilista.

INVERNO E VERÃO

Com um investimento inicial de US$ 350 mil, a estilista Fabiana Milazzo, dona da grife que leva seu nome, resolveu abrir loja própria em Los Angeles (EUA).

"Já exportávamos para lá, mas estávamos sempre uma coleção atrasada. Quando lançava a linha verão aqui era inverno lá, então optamos por abrir uma loja", diz Milazzo.

A unidade norte-americana foi aberta há dois meses, mas a marca já participa do mercado internacional. A empresa está em 70 pontos de vendas multimarcas.

PADRONIZAÇÃO

Uma das dificuldades encontradas pelas empresas brasileiras é a falta de padronização do tamanho entre as roupas de diferentes empresas. Isso dificulta estabelecer correlações com numerações estrangeiras, o que cria obstáculos às exportações.

Para tentar reduzir o impacto disso, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) iniciou em 2009 o processo de padronização das marcas.

"A ideia é usar o tamanho do corpo como definição das dimensões da roupa. No caso de uma calça, por exemplo, o quadril é a medida mais limitante, então usa-se ele como base. Essa é a forma mais assertiva de definir o molde correto", afirma a superintendente da ABNT, Maria Adelina Pereira.

Segundo a executiva, as normas de padronização para roupas masculinas e infantis já estão prontas. "Agora estamos trabalhando nas roupas femininas".

Para Maria Adelina, estabelecer esses padrões vai levar à redução nas trocas e facilitar a compra de itens especialmente na internet.

Para facilitar a inserção global das roupas, a ABNT tem feito correlações com os tamanhos disponíveis em, outros países, o que possibilita a criação de tabelas de equivalências.

"Pegamos a norma internacional e já estamos a aplicando no Brasil, mas ainda não vemos muitas etiquetas usando essa base", diz a executiva da ABNT.


Endereço da página: