Apesar de o nome Netshoes fazer referência à internet, o início da loja virtual não teve nada de digital.
A companhia nasceu na rua Maria Antônia, em São Paulo, em espaço vago de um estacionamento aberto pelos pais de um dos criadores da empresa, Hagop Chabab.
De ascendência armênia, ele iniciou seu negócio com o primo Marcio Kumruian, atual presidente da empresa.
Quando a loja foi aber- ta, em 2000, seu forte era vender calçados femininos para as alunas do Mackenzie, universidade que fica na mesma rua do primeiro endereço da Netshoes.
Como um negócio comum se tornou a principal varejista de itens esportivos da internet brasileira é o tema do livro "Sem Limites", do jornalista José Eduardo Costa.
Escrita a partir do ponto de vista de sócios, fornecedores e funcionários da Netshoes, a obra oferece uma grata surpresa por narrar com objetividade os principais momentos da história de crescimento
explosivo da empresa, evitando clichês motivacionais do universo empreendedor.
Em vez disso, dedica atenção tanto a acertos como também a erros dos primos.
Provavelmente o maior insucesso deles, a abertura de uma filial no shopping Ibirapuera, logo no primeiro ano da empresa, acabou levando a companhia para a rede.
Depois de a segunda loja da empresa fechar por falta de movimento e de capital de giro, os sócios se viram endividados e com estoque imenso de produtos que tinham dificuldades de pagar com as vendas
da rua Maria Antônia, mesmo após uma expansão.
O jeito era sortear qual conta pagar e esperar as que sobravam serem protestadas em cartórios para terem um pouco de prazo, mesmo que com multa e juros. A internet surgiu como meio de desovar
estoques sem muito custo.
Logo os primos viram que, como tênis costumam ter tamanho mais padronizado do que sapatos femininos, eram mais fáceis de serem vendidos na rede. A conveniência fez a Netshoes mudar de mercado e
isso deu certo.
O leitor perceberá como a família dos sócios teve papel decisivo nos primeiros anos do negócio, oferecendo o primeiro ponto da loja sem cobrar aluguel, emprestando capital inicial e colocando imóveis como
garantia quando a companhia decidiu comprar o centro de distribuição de sua prestadora de serviços de logística que havia falido.
Costa também mostra como, ano após ano, a empresa dobrou de tamanho. Até receber seu primeiro investimento externo, em 2010, tinha como principais trunfos a obsessão dos sócios por manter bom
atendimento aos clientes e agilidade nas entregas, posição agressiva para negociar boas compras com grandes marcas e decisões arrojadas na hora de definir plataformas tecnológicas.
Uma discussão, porém, poderia ser mais explorada: como foi a evolução e o aprendizado dos dois jovens pouco experientes, na faixa dos 20 anos, que se tornaram experts em comércio virtual?
HISTÓRIA SEM O FIM
Apesar dos pontos positivos do livro, "Sem Limites" termina antes da hora e deixa alguma frustração.
Sabidamente a história da Netshoes foi baseada mais em investimentos altos que permitissem seu crescimento do que na busca por tornar a empresa lucrativa.
O fim do livro deixa antever o momento em que a história começa a mudar. A companhia vem tentando diminuir o ritmo de investimentos, especialmente em marketing, para alcançar a rentabilidade.
O livro mostra que executivos importantes na história da Netshoes deram lugar a profissionais que levariam a empresa a ficar mais perto do azul, mirando uma abertura de capital.
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| JosÉ Eduardo Costa |
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Acontece que esse momento decisivo na história da companhia ocorreu em abril deste ano, na Bolsa de Valores Nasdaq, em Nova York. Não há referência à estreia das ações da empresa, como foi tomada
a decisão, os preparativos, a avaliação dos resultados e suas possíveis consequências. Um pouco mais de tempo para incluir o tema beneficiaria muito a obra.
Sem Limites 
QUANTO: R$ 34,90 (224 PÁGS.)
AUTOR: JOSÉ EDUARDO COSTA
EDITORA: GENTE