Folha de S. Paulo


Dólar dispara e Bolsa trava negócios após crise no governo Temer

O mercado financeiro foi tomado pelo pânico nesta quinta-feira (18), com dólar operando em seu limite superior e a Bolsa brasileira interrompendo as operações após registrar queda de mais de 10%.

Os investidores reagem à notícia de que o presidente Michel Temer foi gravado sugerindo a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.

A informação foi dada pelo colunista Lauro Jardim, do jornal "O Globo", e confirmada pela Folha.

O dólar abriu com alta superior a 5%, cotado a R$ 3,315. Por volta de 11h, intensificou a valorização e passou a ser cotado a R$ 3,409. Na quarta-feira, a moeda americana tinha fechado cotada a R$ 3,13.

Às 14h28, o dólar comercial subia 7,08%, para R$ 3,356. O dólar à vista tinha alta de 8,68%, para R$ 3,373.

A forte valorização do dólar fez o Banco Central anunciar leilão adicional de 40 mil contratos de swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro), na tentativa de oferecer ao mercado proteção adicional para empresas e investidores.

Mais cedo, a autoridade monetária tinha emitido um comunicado indicando que atuaria para manter a funcionalidade dos mercados.

No segmento Bovespa, o Ibovespa, que reúne as principais ações do mercado brasileiro, interrompeu os negócios após cair 10,46%, para 60.470 pontos.

As ações da Petrobras chegaram a cair 20%, enquanto os papéis do setor financeiro, que tem maior peso no índice, recuaram quase 20%.

Os negócios ficaram interrompidos até 10h50. Na reabertura, a Bolsa moderou a queda e passou a cair em torno de 10%.

"Nos últimos 12 meses, o mercado subiu pautado no otimismo com o governo Temer, que ele iria conseguir aprovar as reformas da Previdência e trabalhista. Com a delação, os investidores fizeram um primeiro movimento de pânico, pois ninguém quer ficar exposto a um grau de incerteza muito grande", afirma Lucas Marins, analista da Ativa Investimentos.

Às 14h28, o Ibovespa caía 9,23%, para 61.301 pontos.

JUROS

A instabilidade também afetou o mercado de juros. Os contratos mais negociados passaram a prever queda menor da taxa de juros na próxima reunião do Copom (comitê de política monetária), no final de maio.

Antes da crise que atingiu o governo, o mercado trabalhava com um corte de 125 pontos-base a 150 pontos-base. Agora, passa a ver uma queda menor na taxa Selic, de apenas 75 pontos-base, o que levaria o juro básico a 10,50%.

"Todo mundo apostava em juros para baixo. Agora, não sei se vai ter corte de juros nesta reunião ou se o BC vai esperar o cenário se definir", avalia Marins.

O contrato de juros futuros mais negociado, com vencimento em julho de 2017, subiu de 10,361% para 10,750%.

O contrato com vencimento em janeiro de 2018, que indica a perspectiva para a Selic no final deste ano, avançou de 8,975% para 10,075%.

A instabilidade gerada nas taxas de títulos públicos fez o Tesouro cancelar os leilões previstos para esta quinta-feira.

"O Tesouro Nacional informa que, em razão da volatilidade observada no mercado, não realizará os leilões de venda de Letras do Tesouro Nacional - LTN, com vencimentos em 01/04/2018, 01/04/2019 e 01/07/2020 e Letras Financeiras do Tesouro Nacional - LFT, com vencimento em 01/03/2023, programados para hoje."

O risco-Brasil medido pelo CDS (credit default swap) tinha alta de 28,46%, para 264,7 pontos, às 14h30.

Índice Bovespa - Em pontos

DÓLAR - EM R$

O DÓLAR VINHA EM QUEDA - A expectativa de aprovação das reformas trabalhista e da Previdência vinha colaborando para a queda da moeda americana em relação ao real

O IMPACTO NAS EMPRESAS - Variação no valor de mercado no Ibovespa

Valor de mercado, em R$ bilhões

Bolsas pelo mundo também tiveram dia de queda -

A BOLSA VINHA EM SUBIDA CONSTANTE - A perspectiva de retomada da economia levava os investidores a apostarem em resultados melhores das empresas, impulsionando o Ibovespa, que reúne as ações mais negociadas na Bolsa


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