Folha de S. Paulo


Empresas da Espanha criticam tributo e burocracia no Brasil

Em sua visita ao Brasil na semana passada, o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, encontrou-se com o presidente Michel Temer e apoiou as reformas pretendidas pelo governo brasileiro, mas levou na bagagem um retrato pouco satisfeito realizado pelas empresas espanholas instaladas no país.

Pesquisa realizada pela Câmara Espanhola de Comércio entre suas associadas, que foi enviada ao gabinete de Rajoy, mostrou que apenas 26% dos entrevistados consideram o ambiente de negócios no Brasil favorável. A avaliação dos outros 74% varia de regular a desfavorável.

As queixas dos espanhóis repetem as reclamações manifestadas por empresários de outras nacionalidades, os velhos conhecidos problemas relatados no ranking "Doing Business", do Banco Mundial, em que o Brasil apareceu na 123ª posição entre 190 países em 2016.

Mais de 50% se queixam dos tributos, e 44% citam a burocracia elevada. Também há reclamações sobre a dependência da política econômica (32%) e a legislação trabalhista (28%).

Foram ouvidos 88 executivos de empresas que, juntas, reúnem R$ 230 bilhões em investimentos diretos realizados no Brasil até 2016.

O levantamento da Câmara Espanhola também conclui que 45% das companhias ouvidas não pretendem elevar seus investimentos no Brasil entre 2017 e 2018.

Esta é a primeira vez em que a entidade realiza um estudo do tipo e, portanto, não há como fazer comparações com a confiança do empresário em anos anteriores.

LONGO PRAZO

Carolina Carvalho de Queiroz, diretora-executiva da Câmara, pondera que os resultados da pesquisa podem ser considerados positivos e que os empresários espanhóis pretendem seguir no país.

"O investimento dessas empresas é de longo prazo. No evento que realizamos em São Paulo, tivemos 350 empresas participando dos encontros bilaterais. A vinda de Rajoy é um sinal de que ele acompanha os interesse das empresas é um motivador", afirma Queiroz.

Os investimentos realizados por empresas espanholas no Brasil caíram de US$ 6,6 bilhões em 2015 para US$ 3,5 bilhões no ano passado, segundo o Banco Central.

O primeiro trimestre deste ano já mostra uma retomada. De janeiro a março, o montante alcança US$ 685 milhões, ante US$ 190 milhões em igual período de 2016.

Durante o evento empresarial da Câmara, do qual participou o premiê espanhol, o presidente da Iberia, Luis Gallego, falou da necessidade de alinhar a regulação brasileira de serviços aéreos aos padrões internacionais.

"As companhias aéreas sofrem no Brasil porque ficam sem referências nesse mercado. A infraestrutura do país também necessita de melhorias e é importante uma revisão das estruturas de taxas, custos, de custo de combustível", disse Gallego.

Em seu setor de atuação, o presidente da Telefônica Brasil, Eduardo Navarro, cita dois gargalos: "A maior carga tributária do mundo, de até 45,7%, que restringe os investimentos, e a evolução do marco regulatório".

"A Lei Geral das Telecomunicações, de 1998, é focada na telefonia fixa, obriga a continuidade de um serviço que não responde mais às demandas da sociedade. É obsoleta. Enquanto as pessoas querem banda larga e internet, as operadoras são obrigadas a manter telefones públicos", afirma.


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