Folha de S. Paulo


Greve dá argumentos para privatizar, afirma presidente dos Correios

Juca Varella/Folhapress
Fila em agência dos Correios na rua Vergueiro, em SP
Fila em agência dos Correios na rua Vergueiro, em São Paulo

O presidente dos Correios, Guilherme Campos, disse neste quarta-feira (26) que a decisão dos trabalhadores da empresa de entrar em greve "dá argumentos para a parte que defende a privatização" da estatal.

"A greve reduz o nível do serviço entregue, dá argumentos nesse sentido", afirma.

"É muito difícil privatizar, mas se a empresa não se mostrar viável, qual outro caminho nós vamos ter?", questiona Campos.

Em março, o ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia e Comunicações) já havia ameaçado vender a estatal caso ela não recuperasse sua situação financeira. "Senão vamos rumar para a privatização", afirmou à época.

A "ameaça" da privatização tem sido usada pelo comando do governo como "última instância" para forçar o enxugamento de gastos e de pessoal na empresa.

Nesta quarta, Campos afirmou que a aprovação da greve tem motivação política contra a gestão de Michel Temer, em razão das manifestações marcadas para a sexta-feira (28) contra as reformas patrocinadas pelo Planalto.

Entre as reivindicações dos grevistas, o presidente da estatal diz que a principal é a de que se revogue a suspensão das férias.

"Foi uma decisão difícil de tomar, mas era o único recurso disponível para segurar o caixa da empresa", afirma.

Ele diz que sugeriu a manutenção das férias em maio e junho, mas que o comando da greve exige também a suspensão em julho.

Os trabalhadores dos Correios decidiram entrar em greve por tempo indeterminado a partir das 22h desta quarta.

As ameaças de privatização e demissões, o fechamento de agências e o "desmonte fiscal" da empresa, com diminuição do lucro devido a repasses ao governo e patrocínios, são os principais motivos pontuados pela Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares).

A estatal afirma que teve prejuízos de R$ 2,1 bilhões em 2015 e R$ 2 bilhões no ano passado.

Em dezembro do ano passado, foi anunciado um plano de demissão voluntária e o fechamento de agências para reduzir os gastos. Já a Federação alega que a receita tem crescido.


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