Folha de S. Paulo


Mesmo sem plano, empresa pode ter sucesso com rapidez no aprendizado

Bruno Santos/Folhapress
O empresário Paulo da Silva em frente ao forno de sua pizzaria, no bairro do Morumbi
O empresário Paulo da Silva em frente ao forno de sua pizzaria, no bairro do Morumbi

Não faltam consultores para explicar ao empreendedor de primeira viagem como montar sua empresa. As orientações são mais ou menos parecidas: deve-se planejar as finanças, observar a concorrência e criar um plano de negócios viável.

Mas há quem, por desconhecimento ou pressa, ignore alguns desses conselhos e mesmo assim seja bem-sucedido na empreitada.

Em geral, o que une esses empreendedores "sortudos" é a capacidade de se adaptar rápido, de aprender com os erros e de enxergar um nicho de atuação promissor.

O ex-garçom Paulo da Silva, 42, dono de uma pequena pizzaria no Morumbi (zona sul de São Paulo) desde 2007, achava que seu produto venderia na região, predominantemente residencial.

Ele estava certo: hoje, a empresa cresce 20% ao ano. Silva atribui o sucesso a preços competitivos, ingredientes de qualidade e atendimento cuidadoso. "Somos uma pizzaria de bairro, procuro tratar os clientes como amigos. Acho isso vital."

A trajetória teve percalços. Silva abriu o negócio sem fazer muitos planos ou contas, quando tinha apenas o contrato de aluguel do ponto em mãos. "Saí em busca de um pizzaiolo, montei um cardápio e iniciei a reforma."

A falta de planejamento ao criar a empresa fez o ex-garçom acumular despesas que sugaram suas reservas em apenas oito meses, antes de a pizzaria dar lucro.

"Comecei errado e não me estruturei. O resultado foi desesperador", afirma Silva.

A saída foi recorrer à consultoria gratuita do Sebrae em São Paulo, que diagnosticou problemas de gestão, precificação e marketing.

Para Carlos Caldeira, doutor em administração e professor do Insper, cabe ao empreendedor rever os planos caso suas hipóteses em relação ao mercado não se confirmem. Essa mudança, no jargão dos consultores, é chamada de "pivotação".

"Não se pode criar um plano difícil de mudar logo de cara, já que em muitos casos a primeira ideia não será perfeita", diz Caldeira.

É o que preconiza o "lean start-up", metodologia que defende substituir relatórios de mercado muito fechados por uma tela em branco em que o empreendedor possa colocar suas ideias e ter espaço para mudá-las.

Mas isso não significa que basta jogar proposições vagas ali, diz Alexssandro Mello, coordenador da pós em administração de PMEs da FIA (Fundação Instituto de Administração). "É preciso estudar um pouco de tudo para que as decisões sejam corretas: operações, marketing, gestão e finanças."

Prever de onde virá o dinheiro para bancar os primeiros meses da empresa faz parte do aprendizado. Segundo Caldeira, a principal fonte de financiamento é o dinheiro de parentes e amigos. "O acesso ao crédito é limitado e caro no Brasil."

Pedir emprestado foi a solução do programador Márcio Motta, 36, da plataforma de vendas on-line Monetizze, aberta em 2015. "No início, precisei recorrer a dois amigos para pagar despesas como a do servidor", diz.

Quando teve que devolver os R$ 50 mil, Motta encontrou problemas e precisou buscar um novo sócio. O escolhido foi um antigo chefe, que recebeu uma participação de 9% da nova empresa.

Foi quando a Monetizze, que não revela seu faturamento, ganhou fôlego. A empresa teve crescimento de 60% ao mês em 2016 e já atende 500 mil usuários.

Risco de quebra


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