Folha de S. Paulo


Análise

Comercial ativa alto-falante e causa controvérsia nos EUA

Justin Sullivan/Getty Images/AFP
MOUNTAIN VIEW, CA - MAY 18: Google Vice President of Product Management Mario Queiroz shows the new Google Home during Google I/O 2016 at Shoreline Amphitheatre on May 19, 2016 in Mountain View, California. The annual Google I/O conference is runs through May 20. Justin Sullivan/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
O Google Home é um aparelho criado para concorrer com o alto-falante inteligente da Amazon

Faz parte do evangelho do marketing que os melhores anúncios são aqueles que levam as pessoas a comentar.

Na semana passada, a cadeia de fast food Burger King conseguiu capturar a atenção dos usuários de mídia social com um jogada engenhosa que poderia ter saído de um livro de ficção científica.

Um comercial de 15 segundos –veiculado inicialmente no YouTube e depois na TV americana– foi direcionado ao Google Home, o aparelho criado pela gigante das buscas para concorrer com o alto-falante inteligente Amazon Echo.

O comercial perguntava: "Vamos lá, Google, o que é o hambúrguer Whopper?".

Em resposta, o assistente digital comandado por voz criado pelo Google respondia com uma lista de ingredientes do Whopper, extraída da página sobre o sanduíche na Wikipedia.

Não é a primeira ocasião em que a TV gerou resposta de um alto-falante inteligente, mas parece ser a primeira vez em que um comercial o fez de maneira tão deliberada.

O exemplo mais famoso –que já se tornou parte do folclore do setor de tecnologia– envolve uma reportagem de TV sobre uma menina de seis anos que encomendara uma casa de bonecas sem autorização dos pais, usando o Amazon Echo.

Comercial Burger King

COMPRAS INDESEJADAS

A repetição pelo apresentador da frase "foi Alexa que pediu a casa de bonecas" teria supostamente causado um dilúvio de compras indesejadas disparadas pelos Echos de telespectadores, que teriam entrado em atividade ao ouvir a voz na TV.

É difícil confirmar o incidente. O Snopes, um site de verificação de informações, não encontrou legiões de consumidores indignados em San Diego, ou carteiros carregando dezenas de casinhas de bonecas. O Snopes aponta que a assistente digital Alexa, a voz do Echo, solicita confirmação verbal de qualquer pedido antes de encaminhá-lo à Amazon, o que permite que as pessoas evitem gastos indesejados.

Mesmo assim, a história parece ter inspirado os publicitários do Burger King.

Depois dos previsíveis uivos de indignação no Twitter, parece que o Google encontrou uma maneira discreta de impedir que o comercial ativasse o Google Home. A empresa não respondeu às perguntas sobre se e como havia agido para isso, mas parece claro que não ficou nada satisfeita com o sequestro temporário de seu sistema.

Uma pessoa informada sobre o assunto disse que o Google não participara no desenvolvimento do anúncio do Burger King.

No entanto, o Google mesmo nunca se mostrou avesso a usar o Home para fins promocionais inesperados e em geral recebidos com desagrado pelos usuários.

A BELA E A FERA

Algumas semanas atrás, o Google lançou uma promoção não solicitada para o novo "A Bela e a Fera", da Disney, que era disparada se os usuários do Home pedissem que o sistema os informasse sobre o que tinham para fazer durante o dia.

O Google cancelou a promoção imediatamente, depois da reação negativa.

Os dois exemplos de spam com ajuda de inteligência artificial mostram que sabemos pouco sobre assistentes virtuais como o Assistant, do Google, e a Alexa, da Amazon, e não há como determinar de que forma nos afetarão agora que começam a ser adotados em maior escala.

O que aprendemos sobre o Google Home é que a empresa pelo menos sabe como desligar um determinado gatilho de voz, quando assim deseja, provavelmente por meio de uma comparação entre um determinado arquivo de áudio e uma lista negra mantida na nuvem, antes de permitir que o sistema responda.

O que não sabemos é sob que circunstâncias o Google opta por usar a censura dessa maneira, ou que outros gatilhos constariam da lista.

É claro que jogadas como a do Burger King só funcionam algumas vezes, antes que deixem de ser novidade e os executivos publicitários corram atrás da próxima novidade (spam em realidade virtual, que tal?).

Enquanto isso, a controvérsia garantiu que pessoas –e robôs– comentassem bastante sobre o anúncios.

Tradução PAULO MIGLIACCI


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