Folha de S. Paulo


Crítica

Jornalista descreve evolução das preferências humanas em livro

Não é à toa que o jornalista americano Tom Vanderbilt usa conversa com a filha de cinco anos para abrir o livro "Talvez Você Também Goste. Por que Gostamos do que Gostamos Numa Era de Opções Infinitas", lançado no Brasil em março pela Objetiva.

Quando a garota questiona quais são a cor e o número de que o pai mais gosta, ele prepara o leitor para o que virá: as preferências são categóricas, contextualizadas, comparativas e construídas, entre outras complexidades.

Em outras palavras, é possível gostar de azul, mas não ter um carro azul, no caso do autor. Também pode acontecer de alguém simpatizar com o rosa numa semana, mas mudar de opinião para o vermelho poucos dias depois, como faz a pequena filha de Vanderbilt.

Para esmiuçar o gosto, o autor recorre a centenas de trabalhos desenvolvidos por psicólogos, economistas e neurocientistas sobre o tema (pesquisas que apresenta em mais de cem páginas de um anexo de notas). Ele também faz referência a cânones no assunto, como o filósofo Immanuel Kant e o sociólogo Pierre Bourdieu.

Repetindo a fórmula usada na introdução, durante todo o livro, o jornalista descreve momentos cotidianos antes de sustentar suas reflexões em achados de especialistas que demonstram como as preferências humanas evoluem.

Talvez na tentativa de se aproximar do leitor recorrendo às situações corriqueiras, Vanderbilt exagera ao especular sobre qual cabine as pessoas preferem usar quando entram num banheiro público. E lá vai ele mencionar um estudo conduzido em um banheiro público na Califórnia para mostrar a preferência pelas cabines do meio, em detrimento das que ficam localizadas nas pontas.

Antes de deixar o assunto "banheiro", o autor ainda elucubra um pouco sobre a escolha entre pendurar o papel higiênico por cima ou por baixo do rolo.

ESCOLHAS SEM FIM

Como o próprio título sugere, as reflexões trazidas por Vanderbilt são especialmente úteis num momento em que a internet expõe seus usuários a uma variedade de escolhas sem precedentes, de streaming de música a oferta de serviços e produtos de todos os tipos.

A leitura de "Talvez Você Também Goste" expande a visão do leitor que procura ganhar consciência como consumidor. O livro também esclarece especialistas do marketing e profissionais que precisam estar atentos às expectativas de seus clientes.

Não se trata, contudo, de um roteiro objetivo e organizado para o leitor utilitarista.

Vanderbilt relembra cases como o da Crystal Pepsi, refrigerante transparente lançado nos anos 1990 na esteira de uma tendência de produtos sem cor que abrangiam desde detergentes a desodorantes. A decepção das vendas pode ser atribuída à frustração do consumidor em relação à mensagem passada pela cor da bebida, que não correspondia ao sabor esperado.

Talvez o lado mais contemporâneo do livro esteja na obsessão do autor pelo sistema de recomendação algorítmica do Netflix e a possibilidade de delegar escolhas de filmes, uma atividade tão particular, a um computador.

Talvez Você Também Goste
Tom Vanderbilt
l
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É com ironia que ele conta como foi rigoroso no treinamento de seu algoritmo da Netflix, classificando todos os filmes que via para que o sistema ficasse bem afinado e capaz de prever suas preferências cinematográficas.

Por fim, diante da constatação de que nossas preferências são marcadas por inclinações inconscientes e influências contextuais e sociais, Vanderbilt conclui que mais importante do que a pergunta "do que gostamos?" é o questionamento "por que gostamos?".

"TALVEZ VOCÊ TAMBÉM GOSTE"
QUANTO: R$ 64,90 (448 PÁGS.)
AUTOR: TOM VANDERBILT
EDITORA: OBJETIVA


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