Folha de S. Paulo


Acordo entre acionistas da BRF dá novo fôlego para Abilio Diniz

Philippe Wojazer/Reuters
Abilio Diniz dá palestra em março de 2017
Abilio Diniz dá palestra em março de 2017

O empresário Abilio Diniz ganhou uma nova chance dos maiores acionistas da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, para tentar reverter a profunda crise vivida pela gigante de alimentos.

Na sexta (24), os principais sócios decidiram lançar uma única chapa para o conselho de administração da companhia e renovar o mandato de Abilio na presidência.

Se não aparecer outra chapa proposta por minoritários, o que é pouco provável, os nomes serão referendados na assembleia no fim de abril.

OPERAÇÃO CARNE FRACA
PF deflagra ação em grandes frigoríficos

Com o empresário no comando, acertou-se ainda manter a presidência nas mãos de Pedro Faria, que chegou ao cargo com as bênçãos de Abilio e do fundo Tarpon.

A gestão de Faria vem sendo duramente criticada pelos acionistas depois que a empresa apurou no ano passado o primeiro prejuízo desde sua criação em 2009, um rombo de R$ 372 milhões.

Os sócios decidiram que é preciso "pacificar" a empresa para reagir às acusações da Operação Carne Fraca, que investiga um esquema de pagamentos a fiscais do Ministério da Agricultura por frigoríficos.

Se a BRF não responder rapidamente, corre o risco de perder o esforço de décadas para conquistar o mercado internacional.

O controle da companhia, que tem ações em Bolsa, é difuso. Os principais sócios são o fundo Tarpon (12%), o fundo dos funcionários da Petrobras, a Petros (11,4%), e o fundo de pensão do Banco do Brasil, a Previ (10,7%).

Luiz Fernando Furlan e Walter Fontana Filho, herdeiros do fundador da Sadia, Attilio Fontana, têm participações minoritárias, assim como Abilio Diniz.

VIGILÂNCIA

O comando foi mantido, mas o restante do conselho passou por transformação com a troca de cinco membros —entre eles, o consultor Vicente Falconi e o ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine— e a criação de um novo posto.

As mudanças indicam que Abilio conta com a confiança dos fundos, mas terá passos seguidos de perto.

A Petros, que estava afastada da BRF e cogitava vender parte de suas ações, apontou o novo vice-presidente do conselho de administração, o advogado Francisco Petros.

Também foi criado um "comitê especial de resposta à crise", que irá avaliar as decisões tomadas pela empresa.

Ele será presidido por Furlan, ex-presidente do conselho da Sadia e ex-ministro do Desenvolvimento. Furlan esteve em Brasília na semana passada para reuniões com o governo sobre os desdobramentos da Carne Fraca.

IMAGEM

Abilio, no entanto, mostrou que tem força ao emplacar como conselheira Flávia Almeida, executiva da Península, empresa de investimentos do empresário.

Com as outras trocas na composição do conselho, os acionistas querem passar a imagem de que equiparam a cúpula com quadros mais "técnicos".

Para isso, entram Marcos Grasso, que foi presidente no Brasil da Mondelez, dona de marcas como Royal, Bis e Oreo; José Aurélio Drummond Jr., ex-presidente da Alcoa no Brasil e da Whirpool na América Latina; e Carlos Parcias, executivo da CPFL.

Os herdeiros da Sadia chegaram a tentar emplacar o nome de Eduardo Fontana D'Avila, mas não tiveram adesão.

FRUSTRAÇÃO

Até a deflagração da operação da PF, na sexta (17), havia um debate intenso sobre o futuro da atual administração, muito criticada por perder mercado para a rival da JBS e cometer erros graves na gestão de estoque, que prejudicaram a margem de lucro.

Em reunião antes do Carnaval, o representante da Previ no conselho chegou a pedir que se deliberasse sobre a permanência de Faria. Decidiu-se por mantê-lo.

Os sócios seguiam ainda mais aborrecidos, porque Abilio tinha prometido elevar o preço das ações a R$ 100, após tomar o controle da empresa junto com o fundo Tarpon, substituindo Nildemar Secches, executivo responsável pela criação da BRF.

Na sexta-feira (23), as ações da BRF estavam cotadas a apenas R$ 35,80.


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