Folha de S. Paulo


Açougues e mercados descumprem regras da Vigilância Sanitária

Rivaldo Gomes/Folhapress
Supermercado Ruby, na zona leste de São Paulo, tinha moedor de carne sujo e outros problemas
Supermercado Ruby, na zona leste de São Paulo, tinha moedor de carne sujo e outros problemas

Supermercados e açougues da capital desrespeitam regras da Vigilância Sanitária para o acondicionamento e a venda de carnes. O "Agora" visitou 16 comércios em quatro regiões e constatou problemas como erro na calibração do termômetro de refrigeradores, falta do uso de luvas por açougueiros, temperatura acima do padrão, inexistência de data de validade e coloração suspeita de carne.

Desde a semana passada, a venda e o consumo de carne estão no centro de discussões no país, em razão da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que investiga um esquema de fraude dos frigoríficos com fiscais do Ministério da Agricultura para liberar produtos sem qualidade.

No supermercado Nagumo, em Itaquera (zona leste), os produtos a granel refrigerados no balcão do açougue não tinham data em que haviam sido colocados ali. Placas colocadas ali informavam que o balcão é abastecido diariamente e a validade é de três dias, mas não havia nenhuma data na placa, como determinam as regras.

OPERAÇÃO CARNE FRACA
PF deflagra ação em grandes frigoríficos

No Supermercado Ruby, em Guaianases (zona leste), os funcionários do açougue estavam sem luvas, o moedor de carne estava sujo, com diferentes sobras de alimentos, e havia grande concentração de moscas no local.

Já no Supermercado Katucha, em Americanópolis (zona sul), o refrigerador não tinha termômetro na parte externa, para o consumidor consultar. Na Casa de Carnes Nara, no Jabaquara (zona sul), as carnes de porco, boi, aves, peixes e linguiças ficavam lado a lado nas prateleiras refrigeradas.

Não havia termômetro e o açougueiro fazia manuseio de carne sem luvas. No Supermercados Ricoy, em Diadema (ABC), funcionários estavam sem luvas. Em uma geladeira, o termômetro registrava -30ÚC, porém as carnes estavam resfriadas, e não congeladas. Mesmo se estivesse funcionando, a temperatura estava abaixo do permitido, que é -12ÚC. Além disso, o balcão do açougue não tinha termômetro.

Foram encontradas duas peças de carne com coloração alterada no Pão de Açúcar da rua Abílio Soares, no Paraíso (zona sul). No Extra da rua Brigadeiro Luís Antônio (região central), havia muita água de frango dentro da geladeira, assim como bandejas com produtos a granel descobertas.

VIGILÂNCIA PODE TIRAR PRODUTOS

Estabelecimentos da capital paulista que comercializam carnes de empresas investigadas na operação deflagrada pela PF (Polícia Federal) Carne Fraca poderão receber fiscalização da Vigilância Sanitária e ter os produtos retirados de comercialização. Informações como números dos lotes dos produtos denunciados por adulteração serão informadas pelo Ministério da Agricultura para a Vigilância Sanitária, que realizará as ações de fiscalização.

Os alimentos em desacordo serão retirados dos pontos de venda e enviados para análise. Ainda não há data marcada para o inicio das fiscalizações.

EMPRESAS NEGAM FALHAS CITADAS

As empresas citadas negam irregularidades. O Extra e o Pão de Açúcar, da mesma rede, informaram que "possíveis alterações de cor na carne podem ser decorrentes da exposição à luz do balcão e não configuram necessariamente impropriedade para o consumo" e que a "utilização de filme para a cobertura das bandejas não é obrigatória".

Para o proprietário da Casa de Carnes Nara, o plástico filme que cobre parte dos frangos é suficiente para não causar contaminação cruzada entre as carnes. Diz que o refrigerador possui termômetro interno. O gerente do supermercado Ricoy diz que após revelações de fraudes, o estabelecimento parou de fazer pedidos à empresa Friboi, citada nas irregularidades.

Disse ainda que todas as geladeiras têm controlador de temperatura, que medições são realizadas por funcionários e que a lavagem das mãos substitui o uso de luvas. O mercado Katucha afirma que a leitura de temperatura é realizada três vezes ao dia. O Ruby Supermercado não foi encontrado e o Nagumo não respondeu.

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Veja as principais regras

Funcionários

>> Devem usar luvas descartáveis, que têm de ser trocadas toda vez que o procedimento for interrompido ou houver contato com outros produtos e locais não higienizados

>> Devem usar luvas de malha de aço durante o corte de carnes

>> Na manipulação dos alimentos, não podem falar, cantar, assobiar, tossir, cuspir, mascar goma, chupar bala, tocar qualquer parte do corpo e objetos alheios à atividade, como maçanetas e dinheiro

>> Cartazes sobre a higienização das mãos de funcionários devem ser colocados em pias exclusivas para eles

Refrigeração

As vitrines devem ter termômetros visíveis para o consumidor

TABELA DE TEMPERATURAS

Congelados
>> No máximo a -12ºC

Refrigerados
>> Carnes: de 4ºC a 7º C
>> Pescados: de 2ºC a 3º C
>> Demais produtos: de 4ºC a 10 ºC

Exposição dos produtos

>> Carnes a granel devem estar em recipiente adequado e identificadas com o rótulo original contendo o fornecedor, prazo de validade e data em que a embalagem foi aberta

>> Produtos crus têm que estar em espaços diferentes dos processados

Fonte: Vigilância Sanitária do Estado e Covisa (Coordenação de Vigilância em Saúde), da Prefeitura de São Paulo


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