O Egito, um dos principais compradores da carne bovina brasileira, decidiu no final de semana manter seus portos abertos ao produto, na contramão das medidas restritivas adotadas pela União Europeia e pela China.
A decisão foi motivada, em parte, porque o Egito já pede que a carne tenha um certificado islâmico, obtido pelas empresas exportadoras após inspeções adicionais.
O selo, conhecido como "halal", atesta que a produção e o abate foram feitos de acordo com as exigências religiosas e sanitárias islâmicas. Grandes frigoríficos, como BRF e JBS, têm linhas de produtos a esse mercado.
"Isso significa que há mais procedimentos", diz à reportagem da Folha Hamid Abd al-Daim, porta-voz do Ministério da Agricultura do Egito.
O governo egípcio investigou as supostas irregularidades na carne brasileira, monitorada em seus portos, e concluiu não haver por enquanto motivos para cortar o suprimento.
O Egito foi em 2016 o terceiro principal importador da carne bovina brasileira, atrás de Hong Kong e da China.
Esse país —o mais populoso entre os árabes— importou o equivalente a US$ 528 milhões (R$ 1,6 bilhões) do produto, o que correspondia naquele ano a quase 30% do total de suas importações vindas do Brasil.
EMBAIXADAS
Ali Zoghbi, vice-presidente da Fambras (Federação das Associações Muçulmanas do Brasil), afirma que há nesses casos "a segurança dessas auditorias independentes".
Dessa maneira, a Fambras —que emite seu próprio certificado— tem atuado junto às embaixadas árabes para insistir nessas garantias.
"É um certificado independente emitido por entidades que não estão sob o comando dos frigoríficos", diz.
O selo "halal" segue uma série de condições religiosas, como a presença de um muçulmano durante o abate.
Mas há também diversas exigências técnicas que poderiam ser estudadas pelo restante do setor, diz Mohamed Habib, professor de ciências biológicas na Unicamp e membro da comissão nacional de biosegurança.
O processo de abate inclui, por exemplo, a eliminação quase total do sangue da carne, considerada uma fonte de contaminação. Essa exigência dá, diz Habib, um maior tempo de prateleira.
"Não precisa chamar de 'halal'. Não é sobre o termo, mas a metodologia", diz.
O processo de certificação de um produto com o selo "halal" por entidades como a Fambras envolve auditorias e acompanhamentos específicos tanto da questão religiosa quanto da técnica. O serviço é pago pelas firmas.
Mohamed Zoghbi, presidente da federação muçulmana, diz que o processo pode durar entre 15 dias e um mês, a depender da empresa e da quantidade de adequações a serem implementadas no processo produtivo.