Folha de S. Paulo


Carne da BRF com salmonela foi barrada na Europa, segundo PF

Charles Guerra/Agência RBS/Folhapress
Complexo industrial da BRF Brasil Foods em Videira, Santa Catarina
Complexo industrial da BRF em Videira (SC); empresa é alvo de operação da PF

Diálogos interceptados na Operação Carne Fraca, deflagrada nesta sexta-feira (17), indicam que um carregamento de carnes do frigorífico da BRF em Mineiros (GO) foi barrado em um porto da Itália por conter indícios de Salmonella, bactéria que causa infecção com vômitos e fortes diarreias.

A bactéria foi identificada em pelo menos quatro contêineres. A planta da empresa, porém, continuava em operação —segundo a PF, por interferência ilícita de fiscais do Ministério da Agricultura, que recebiam propina da empresa.

A conversa entre o executivo André Baldissera, diretor da BRF para o Centro-Oeste, e um interlocutor não identificado ocorreu na última segunda-feira (13).

OPERAÇÃO CARNE FRACA
PF deflagra ação em grandes frigoríficos

Os dois afirmam que as autoridades italianas identificaram "infrações repetitivas", e que, no caso de mais um alerta, a planta de Mineiros poderia ser suspensa em definitivo das exportações ao mercado europeu.

"Não é demais lembrar que a tal unidade de Mineiros/GO já corria risco de ser interditada em 2016 pelo Ministério da Agricultura, mas, ao que tudo indica, não o foi por influência de fiscais junto ao chefe do SIPOA naquele Estado", diz o juiz Marcos Josegrei da Silva, que autorizou a operação desta sexta (17).

Eles também falam em fazer "uma força no ministério" para impedir novos alertas, e de passar em exportar a carne para o porto de Roterdã, na Holanda.

O executivo da BRF foi alvo de uma prisão preventiva nesta sexta (17).

O juiz autorizou a intimação do Ministério da Agricultura para a adoção de providências administrativas e fiscalizações na fábrica da BRF em Mineiros. A PF pedia a paralisação imediata da fábrica.

A BRF informou neste sábado (18) que a unidade foi interditada, de forma preventiva e temporária, pelo Ministério da Agricultura. "A medida deve durar até que a BRF possa prestar as informações que atestem a segurança e a qualidade dos produtos produzidos, o que deve acontecer em breve, uma vez que a companhia tem confiança em seus processos e padrões, que estão entre os mais rigorosos do mundo", afirmou a empresa em comunicado.

vídeo operação Carne Fraca

OUTRO LADO

A JBS, por meio de sua assessoria, afirma em nota que a empresa "e suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulatórias em relação à produção e a comercialização de alimentos no país e no exterior e apoia as ações que visam punir o descumprimento de tais normas".

"A Companhia repudia veementemente qualquer adoção de práticas relacionadas à adulteração de produtos –seja na produção e/ou comercialização– e se mantém à disposição das autoridades com o melhor interesse em contribuir com o esclarecimento dos fatos", diz a nota.

A BRF diz, por meio de comunicado, que está colaborando com as autoridades. Ela afirma não compactuar com práticas ilícitas e que seus produtos e a comercialização deles seguem "rigorosos processos e controles"

"A BRF assegura a qualidade e a segurança de seus produtos e garante que não há nenhum risco para seus consumidores", afirma a empresa.

Sobre o tema, diz que "existem cerca de 2.600 tipos de Salmonella, bactéria comum em produtos alimentícios de origem animal ou vegetal. Todos os tipos são facilmente eliminados com o cozimento adequado dos alimentos."

Segundo a empresa, não houve irregularidade no caso da Itália, porque "em 2011, a União Europeia definiu um novo regulamento (CE 1086/2011) para controle de Salmonella em carne de aves produzidas localmente ou importadas. Segundo este regulamento, produtos in natura não podem conter dois tipos de Salmonella: SE e ST (Salmonella Enteritidis e Salmonella Typhimurium). O tipo de Salmonella encontrado em alguns lotes desses quatro contêineres é o Salmonella Saint Paul, que é tolerado pela legislação europeia para carnes in natura e, portanto, não justificaria a proibição de entrada na Itália."

A empresa decidiu, de acordo com a nota, encaminhar a mercadoria para o porto de Roterdã, na Holanda. "Este porto holandês segue à risca o regulamento europeu. O produto obviamente passaria por todos os testes exigidos, com os mesmos padrões técnicos".

Sobre a interlocução com o Ministério da Agricultura, a BRF explica que "o acordo entre Brasil e União Europeia para importação de produtos alimentícios determina que não-conformidades gerem um "rapid alert" (alerta rápido) para todos os países da comunidade, para o produtor e para as autoridades sanitárias do país de origem. Portanto, a intenção da BRF foi, antes mesmo da emissão do "rapid alert", antecipar a comunicação ao Mapa e iniciar sua defesa com argumentos técnicos e científicos."

Em nota, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, afirma que determinou o afastamento imediato de todos os envolvidos e a instauração de procedimentos administrativos. "Todo apoio será dado à PF nas apurações. Minha determinação é tolerância zero com atos irregulares no MAPA", diz.

Ele afirma que suspendeu uma licença de dez dias que tiraria da pasta diante da deflagração da operação e que, neste momento, "toda a atenção é necessária para separarmos o joio do trigo". "Muitas ações já foram implementadas para corrigir distorções e combater a corrupção e os desvios de conduta e novas medidas serão tomadas".

O grupo Argus também divulgou comunicado em que nega irregularidades, diz obedecer "rigorosamente" as observações sanitárias e de qualidade do Ministério da Agricultura e que se solidariza com a ação da PF, "entendendo que a mesma (operação) trará benefícios significativos ao setor, através de uma competitividade justa e adequada entre seus players".

O frigorífico Souza Ramos, do grupo Central de Carnes Paranaense Ltda, diz que "colaborou no que foi possível" e que vai continuar colaborando com a Polícia Federal. A empresa afirma seguir as exigências de qualidade.

Por meio de nota, o grupo disse ainda ser importante "que se desvincule a ideia de que todas as empresas investigadas pela polícia, de fato adulterem e/ou burlem a lei, e sim fazem parte da investigação pois necessitam dos serviços do MAPA".

A Princípio Alimentos Ltda disse que foi chamada pela Polícia Federal como testemunha e que não tinha mais anda a declarar. A Sub Royal Comercio De Alimentos também disse que não vai se manifestar.

A reportagem entrou em contato e aguarda resposta das empresas Medeiros, Emerick & Advogados Associados, o frigorífico Rainha da Paz, Unifrango Agroindustrial S/A, Frigomax - Frigorifico E Comercio De Carnes Ltda, Bio-Tee Sul Am. Industria De Produtos Químicos E Op. Ltda e Primor Beef Jjz Alimentos S.A,

Peccin, Dagranja Industrial, Sidnei Donizeti Bottazzari ME, Fortesolo Servicos Integrados Ltda, Fratelli E.H. Constantino, Pavin Fertil Industria E Transporte Ltda, Primocal ind. E com. De fertilizantes ltda, Frigorífico 3D e Frango a Gosto, Santa Ana Comercio De Alimentos LTDA, Dalchem Gestão Empresarial LTDA, Fênix Fertilizantes LTDA, Multicarnes Representacoes Comerciais Ltda, Doggato Clínica Veterinária LTDA, Mc Artacho Cia Ltda, Smartmeal Comercio de Alimentos LTDA e Unidos Comércio De Alimentos Ltda não foram localizados.


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