Folha de S. Paulo


Comida artesanal chega a aplicativos de entrega

Karime Xavier / Folhapress
SÃO PAULO / SÃO PAULO / BRASIL -03 /03/17 - :00h - Chefs via aplicativo. Novos serviços pela internet vem permitindo comprar comida caseira e artesanal diretamente de cozinheiros. Jade e o marido fazem massas orgânicas. Metade de suas vendas são feitas a partir do aplicativo Apptite. Os dois eram publicitários e, cansados da antiga profissão, foram empreender juntos. Ela aluga semanalmente essa cozinha na Pompeia, onde prepara suas massas. ( Foto: Karime Xavier / Folhapress). ***EXCLUSIVO***MERCADO
O casal Jade Stipp e Mauricio Senise, que produz massa em cozinha compartilhada em SP

Novos serviços para pedir comida on-line querem deixar de lado as pizzarias e restaurantes japoneses, predominantes em apps como iFood e UberEats, e apostar em comida caseira ou artesanal.

As start-ups (empresas iniciantes de tecnologia) Apptite e LocalChef permitem que cozinheiros se cadastrem para vender seus pratos em plataformas na internet (a primeira via aplicativos para celular e a segunda em seu site).

A proposta vem atraindo de estudantes de gastronomia em busca de oportunidades a chefs insatisfeitos com o trabalho em restaurantes e quem cozinha por hobby, segundo Guilherme Parente, cofundador do Apptite.

Antes de terem seus cardápios incluídos no serviço, os chefs são avaliados pela equipe das empresas, sendo submetidos até a degustação dos pratos, diz Celso Misaki, cofundador da LocalChef.

São atualmente entre 150 e 200 cozinheiros ativos em cada uma das plataformas. Até o momento, os serviços só estão disponíveis na cidade de São Paulo.

As empresas se responsabilizam pela entrega da comida e pelo recebimento via cartão de crédito, em troca de uma fatia do valor das vendas feitas a partir de seus serviços, que pode chegar a 25%.

COMPARTILHADA

A possibilidade de vender a partir dessas plataformas tem ajudado o casal Jade Stipp, 36 e Mauricio Senise, 36, em seu projeto de trabalhar com gastronomia.

Eles deixaram o mercado publicitário em 2015 e criaram há um ano a marca Massa Verde, atualmente em processo de certificação para receber o selo de orgânica.

As massas vendidas por eles são produzidas em cozinha compartilhada, onde o casal aluga espaços duas vezes por semana.

Stipp diz que, além de oferecer as massas pelo aplicativo, ela e o marido usam canais como Facebook, WhatsApp e vendem diretamente para restaurantes. Hoje saem até quatro massas por dia no Apptite, e o aplicativo gera 50% das vendas do casal.

"Como buscamos oferecer um produto orgânico, nosso custo é maior. Quem entra no app dá mais valor a isso."

SEM GLÚTEN

A perda de um emprego de mais de 20 anos na área de tecnologia da informação em 2016 levou Emilio Muno, 47, a se descobrir cozinheiro.

Desde o início do ano, ele vende salgadinhos sem glúten pelo serviço LocalChef.

"Vi que precisava fazer alguma coisa para ter uma renda paralela. Minha mulher é alérgica a trigo, já fazíamos muito salgadinho assim e achamos que isso poderia interessar a mais gente."

Ele diz que tem recebido um pedido por dia, de kits de 20 a 200 salgados.

"É um mercado receptivo, mas ainda não cobre minhas despesas. Se começar a cobrir, vou querer investir mais nessa área."

PEDIDOS

Quem quiser usar os serviços para comprar comida caseira tem de levar em conta que não adianta abrir o aplicativo na hora em que a fome chegar.

A maior parte dos cozinheiros avisa em seus perfis nas plataformas de comida que o pedido deve ser feito com antecedência, às vezes de até dois dias, para que o prato fique pronto em tempo.

A cozinheira Renata Gouveia, 50, por exemplo, afirma que pede pelo menos 14 horas de prazo a fim de atender adequadamente seu público.

"Sempre tenho ingredientes guardados, mas nem tudo dá para deixar no freezer. Já aconteceu de eu ter de sair para comprar peixe após receber um pedido", diz a cozinheira.

PEQUENA ESCALA

A produção dos cozinheiros também é feita em pequena escala.

Vivien Mazziotti, 55, que é formada em gastronomia, mas deixou os restaurantes há 12 anos, afirma que precisa de duas horas para entregar seu prato principal, frango com cuscuz marroquino.

Porém antecedência também é importante para conseguir provar a comida dela. Por dia, Mazziotti cozinha no máximo oito frangos do tipo.


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