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Popular, GuiaBolso vai gerar receita com empréstimos

Claudio Belli/Valor/Folhapress
Data: 10/01/2017 Editoria: Financas Reporter: Adriana Cotias Local: Sao Paulo Setor: aplicativo Pauta: Perfil do GuiaBolso, aplicativo de financas em que o usuario conecta as contas bancarias e cartoes de credito ao aplicativo, fazendo com que receba suas informacoes financeiras automaticamente quando ha uma saida ou entrada de dinheiro. Personagem: (esq-dir) Benjamin Gleason e Thiago Alvarez, fundadores e Co-CEOs do GuiaBolso Tags: aplicativo, internet, consumo, cartoes de credito, organizacao financeira, financeira, financeiro, financas Fotos: Claudio Belli/Valor ***FOTO DE USO EXCLUSIVO FOLHAPRESS***
Da esquerda para a direita, Benjamin Gleason e Thiago Alvarez, fundadores e Co-CEOs do GuiaBolso

Quase três anos, 3,2 milhões de usuários e US$ 23,5 milhões em investimentos depois, o GuiaBolso -uma das mais relevantes fintechs do Brasil, ao lado da emissora de cartão de crédito Nubank- começa a colocar seus primeiros reais em caixa.

A receita vem da comissão recebida por empréstimos que usuários contratam dentro do aplicativo com bancos parceiros. Por enquanto, clientes conseguem visualizar apenas ofertas de duas instituições, sendo que uma delas tem como sócios as mesmas pessoas do GuiaBolso.

A fintech surgiu como um aplicativo para controlar gastos pessoais. O usuário sincroniza dados de conta-corrente e cartões e, assim, consegue enxergar para onde vai o salário todo mês.

Da mesma forma que a pessoa acompanha os próprios gastos, a empresa consegue estimar o risco dessa pessoa não conseguir pagar dívidas.

Com o histórico financeiro, é possível saber quantas vezes alguém atrasou contas ou ficou no negativo. E, por isso, há como prever melhor o risco de calotes, barateando o custo do crédito -um dos componentes da taxa de juros é a despesa para cobrir inadimplência.

Ao fazer a ponte para empréstimos entre usuários e bancos, o aplicativo funcionará como os birôs de crédito (SPC e Serasa, por exemplo) na hora de avaliar o risco.

No entanto, as informações dos clientes não serão abertas aos bancos. A análise de risco é entregue pronta para quem quiser conceder o empréstimo.

Público-alvo

Dos mais de 3 milhões de usuários do aplicativo, 60% usam de forma recorrente linhas caras, como cheque especial e rotativo do cartão de crédito. O público-alvo, no entanto, é de 40% da base, porque há um universo de pessoas que usam o serviço, mas estão inadimplentes e em cadastro de devedores.

Se o modelo de oferecer crédito der certo, o ponto de equilíbrio de receitas para o GuiaBolso e gastos chegará em 2018, diz Thiago Alvarez, copresidente-executivo do aplicativo, sem informar quanto espera colocar em caixa.

"Poderíamos atingir o 'break-even' no fim do ano, mas pretendemos continuar crescendo, estamos investindo."

O passo seguinte, também para o ano que vem, é oferecer alternativas de investimentos diretamente pelo aplicativo. Essa deve ser mais uma fonte de receitas.

Inicialmente os sócios Thiago Alvarez e Benjamin Gleason esperavam ganhar dinheiro cobrando pelo aplicativo, plano que foi abandonado em prol do crescimento da base de usuários.

"Já foi o tempo em que investidores não tinham pressa em gerar receita. A tese é primeiro ter usuários e depois monetizá-los, mas se só vai descobrir como vai ganhar dinheiro lá na frente, esse dinheiro vai ser pouco no começo", diz Pedro Waengertner, CEO da Ace, empresa que ajuda start-ups a crescer.

"O mercado americano é mais preparado para ter essa abordagem de primeiro formar uma base de clientes para, lá na frente, encontrar uma maneira de gerar dinheiro", destaca Rafael Ribeiro, diretor-executivo da ABStartups (associação que reúne start-ups brasileiras).

As fintechs brasileiras, diz Ribeiro, tendem a nascer com fonte de receita definida, mesmo que insuficiente para gerar lucro.

No caso do Nubank, ela vem da comissão que lojistas pagam cada vez que um faz uma compra com o cartão.

Nova empresa

Antes de convidar bancos a oferecer crédito em sua plataforma, o GuiaBolso decidiu criar as regras do que desejava oferecer a seus clientes: crédito mais barato que o ofertado pelas grandes instituições financeiras e que pudesse ser contratado integralmente pelo aplicativo.

Para mostrar que era possível, os mesmos sócios do GuiaBolso abriram uma segunda fintech.

O Just Bank é um correspondente bancário -figura jurídica criada pelo Banco Central para ajudar na distribuição de crédito e aumentar a competição com grandes instituições.

Oferece empréstimos com juros máximos de 130,3% ao ano. O crédito pessoal tem taxa média de 140% ao ano, segundo o BC.

"O custo do crédito depende de captação. Se captar mais barato, consegue emprestar mais barato. O Nubank começou oferecendo juros baixos porque usava dinheiro de investidores", argumenta Guilherme Horn, da consultoria Accenture e membro do conselho consultivo do GuiaBolso.

"O spread no Brasil sempre foi alto, mesmo no momento em que a gente teve juros reais baixos. Por isso, sempre vai ter espaço para quem for eficiente."

O GuiaBolso já distribui crédito do banco mineiro Semear. Há outros acordos por fechar, afirma o executivo Thiago Alvarez.

Uma das medidas de sucesso da oferta de crédito dever justamente o fim do Just Bank.

"É uma operação-modelo. Ele usa tudo que a gente sabe, e estamos replicando para outras instituições. Pode ser que todas as outras ofereçam taxas tão boas quanto as do Just, e aí ele não precisa existir", afirma Alvarez.


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