Folha de S. Paulo


Mudanças em ferrovia histórica esbarram em construções do século 19

Antigas construções do século 19, à beira de uma ferrovia centenária, viraram o centro do debate sobre uma mudança na estrada de ferro que leva ao porto de Paranaguá (PR), um dos principais destinos do agronegócio do país.

A concessionária Rumo, que administra a ferrovia, quer ampliar o raio de uma curva que, hoje, tem risco de descarrilamento e reduz a velocidade dos trens a 15 km/h.

A mudança, segundo a empresa, permitiria o uso de locomotivas mais modernas e triplicaria a capacidade de carga da ferrovia, aumentando sua competitividade.

O governo do Paraná apoia a mudança, que representaria um ganho logístico na exportação de grãos do Estado, mas exige uma compensação —já que a linha férrea, projetada por volta de 1870, é tombada pelo patrimônio histórico estadual desde 1986.

A estrada de 110 quilômetros de extensão, que venceu a serra do Mar com túneis e pontes impensáveis à época, foi finalizada em 1885, e alavancou a economia do Paraná por meio da exportação de erva-mate e madeira.

Hoje, é uma das principais vias de escoamento da safra de grãos do Sul e Centro-Oeste, e seu trem de passageiros, um dos destinos turísticos mais procurados do Estado.

A restauração de algumas construções antigas, entre estações e bases de apoio para engenheiros, foi sugerida pelo Conselho do Patrimônio Histórico do Paraná como condição para que a Rumo modificasse a curva. A maioria está fechada, e parte delas foi abandonada. Em algumas, só sobraram as paredes.

A empresa, porém, considera que as exigências "não têm relação direta com a obra". Em reunião, sugeriu, em lugar disso, a distribuição de folders sobre a importância da ferrovia.

Por ser tombado, o trajeto só pode ser alterado com a anuência do Conselho Estadual do Patrimônio. O licenciamento ambiental da obra está parado, aguardando a aprovação.

PRÓS E CONTRAS

A necessidade de alteração da ferrovia é unanimidade no setor logístico.

Por causa da sinuosidade, o trajeto pela serra do Mar dura até sete horas para os trens de carga. A maior parte da safra chega ao porto de Paranaguá por caminhões.

"O produtor quer alternativas", diz Murilo Noronha da Luz, coordenador de um grupo de trabalho sobre o corredor de exportação paranaense, na secretaria de Planejamento do Estado.

Para ele, a alteração na curva é relevante e bem-vinda, mas o grupo recomenda a construção de uma nova linha, mais moderna e com mais capacidade de carga.

"A urgência de mais capacidade na ferrovia é imediata. Mas o interesse histórico também deve ser levado em conta", diz o engenheiro.

"Essa ferrovia é um monumento; uma das sete maravilhas da engenharia brasileira", afirma o engenheiro Paulo Sidnei Ferraz, especialista em logística.

Para ele, a Rumo nunca se interessou em preservar as estações. "O negócio foi só faturar. Mas o custo [de restaurá-las] seria mínimo pelo retorno de imagem que daria."

A equipe técnica do Patrimônio Cultural do Paraná defende que a restauração das estações poderia viabilizar um espaço museológico da serra do Mar e da história da rede ferroviária.

A Rumo, em nota, destacou que está disposta a cumprir todas as compensações ambientais necessárias à mudança, mas voltou a destacar que as propostas do setor de patrimônio "não têm relação direta com a obra ou com a operação" da empresa.


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