Folha de S. Paulo


Livro descreve engenharia por trás dos fenômenos pop

Depois de uma vitória acachapante no Globo de Ouro, "La La Land" é uma das principais apostas para levar o Oscar de melhor filme neste domingo (26).

O longa dirigido por Damien Chazelle é um sucesso de crítica e bilheteria mundial –superior aos US$ 300 milhões, segundo o site especializado "Deadline".

O que explica esse boom? Qual é a engenharia por trás da aparente mágica dos fenômenos pop?

São essas as perguntas que Derek Thompson, editor da revista "The Atlantic", tenta responder em "Hit Makers - The Science of Popularity in an Age of Distraction" (criadores de hit: a ciência da popularidade em uma era de distração, sem tradução para o português).

Embora o favorito ao Oscar deste ano não seja analisado no livro, ele se encaixa perfeitamente à tese de Thompson: tudo o que estoura é ao mesmo tempo surpreendente sem deixar de ser familiar.

Ou, como no mantra do designer industrial americano Raymond Loewy, ponto de partida da obra, é tudo aquilo que consegue avançar ao máximo em relação ao que já existe sem deixar de ser aceitável para o público.

"La La Land" reaviva o tradicional gênero dos musicais, celebrando clichês do cinema para montar o enredo mais velho do mundo, o da história de amor.

Só que, apesar de Chazelle fazer tudo isso, não é exatamente isso o que ele faz: o longa ousa em forma e estilo e culmina em desfecho atípico para um romance.

Assim, enquanto satisfaz as expectativas do público já familiarizado com o caminho, o filme subitamente dobra uma esquina.

Essa é a engenharia por trás de praticamente todo blockbuster do século 20 para cá e se aplica não só à indústria cinematográfica mas também à música, à televisão e aos aplicativos de celular, defende Thompson.

Duvida? Então pense em "Star Wars" como um faroeste, mas ambientado no espaço. Ou na playlist de novidades da semana do Spotify, nada mais do que faixas de bandas desconhecidas, mas semelhantes às que o usuário ouve normalmente.

A receita não basta, porém, para fazer um produto "pegar". Popularidade depende também de repetição.

Essa é uma lição antiga para a indústria fonográfica: rádios tocam uma mesma faixa de novo e de novo até elas subirem ao topo das paradas. O insight de Thompson é observar que uma faixa também sobe ao topo simplesmente porque a audiência quer ouvi-la de novo e de novo.

Há um prazer inerente à repetição, argumenta o jornalista, sabiamente explorado por políticos para ganhar o público mais pela emoção do que pela razão. "Yes, we can" (sim, nós podemos) foi repetida ao final de cada parágrafo no discurso que lançou o icônico –e vencedor– slogan de Barack Obama.

CRIADOR E CRIATURA

O problema é que nem o próprio livro escapa da tese que apresenta, como reconhecido pelo autor.

Todas as explicações soam familiares e repetitivas. Do primeiro ao último capítulo, o mesmo argumento é retomado como uma moral da história para cada fenômeno pop analisado.

A princípio, a coerência do autor em praticar seu discurso é admirável, mas seu fracasso em conquistar o leitor prova a maior falha da tese: a fórmula apresentada pode desconstruir hits, mas não tem força suficiente para criar novos sozinha.

hit makers - the science of popularity in an age of distraction
QUANTO: (R$ 65,49, 352 PÁGS.)
AUTOR: DEREK THOMPSON
EDITORA: PENGUIN PRESS


Endereço da página:

Links no texto: