Folha de S. Paulo


Brasil se torna laboratório de criação para montadoras de veículos

O departamento de engenharia da Honda do Brasil teve de esperar 20 anos para, de fato, desenvolver um carro. Os japoneses concentravam o desenvolvimento, cabendo à equipe brasileira fazer ajustes e adaptações. Agora é a vez de um produto local ganhar o mundo.

Os pré-requisitos que deram origem ao compacto WR-V estão no cotidiano. O país se tornou laboratório para montadoras que desenvolvem produtos voltados a mercados semelhantes, além de soluções tecnológicas aplicáveis mundo afora.

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"As más condições do nosso pavimento pedem um carro com suspensão mais alta. Isso aumenta a sensação de segurança do motorista", afirma Luis Marcelo Kuramoto, da Honda do Brasil.

A base do projeto foi o Fit, que passou por grandes mudanças para se transformar em um utilitário compacto. Os reforços na suspensão e o visual agradaram. O carro, que será lançado em março, despertou o interesse de outras unidades da Honda.

O que acontece agora com a montadora japonesa é um fenômeno recente: a engenharia automotiva nacional tornou-se mundialmente relevante no início dos anos 2000, com desenvolvimento de projetos globais.

Algumas soluções locais não se aplicam apenas a carros vendidos em mercados da América Latina ou do Leste Europeu. Um exemplo é o sistema flex, que chegou à ruas em 2003 a bordo do VW Gol e tornou-se uma solução para países nórdicos que precisam do combustível de origem vegetal para melhorar resultados de emissões.

A tecnologia desenvolvida pela Volkswagen foi aplicada em regiões com temperaturas abaixo de zero, até então incompatíveis com o etanol. O flex foi adaptado para o E85 –composto que, grosso modo, mistura 85% de etanol com 15% de gasolina.

Outra solução com vantagens ambientais está prestes a ganhar a Europa em carros do grupo PSA Peugeot Citroën. A empresa desenvolveu no Brasil revestimentos a partir de cortiça e do couro de alguns peixes, que ganham visual sofisticado.

"A cortiça pode ser uma solução para tapetes e guarnição de teto, enquanto o couro é aplicado em detalhes de bancos, painel, alavanca de câmbio, volante e freio de mão", diz a empresa, em nota. Um modelo já foi apresentado com essas soluções: o Peugeot 208 Natural.

Entre os produtos, um dos marcos da indústria nacional foi a criação do EcoSport. Enquanto os europeus tinham um compacto desengonçado chamado Fusion –sem relação com o sedã atual–, a Ford no Brasil apostou num estilo diferente, com ares de utilitário esportivo, e criou um segmento.

"Ter uma engenharia local é importante, permite adaptar-se ao país e trabalhar as características sensoriais dos clientes", afirma Rogelio Golfarb, vice-presidente de assuntos corporativos da Ford América do Sul.

A nova geração do EcoSport chega em breve ao Brasil. Pela primeira vez, o carro será vendido também nos EUA, além de outros países.


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