Folha de S. Paulo


Viagem ao Caribe com Funaro e Cleto foi coincidência, diz Joesley

Danilo Verpa/Folhapress
SAO PAULO - SP - 13.02.2017 - Entrevista Joesley Batista, dono da JBS, durante entrevista a Folha na sede da empresa em Sao Paulo. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, MERCADO) ***EXCLUSIVO***
Joesley Batista, dono da JBS, durante entrevista na sede da empresa, em São Paulo

Presidente da J&F, conglomerado que é dono de empresas como JBS, Alpargatas e Eldorado, Joesley Batista afirma que nunca teve "conexão" com Fábio Cleto, ex-executivo da Caixa Econômica Federal que se tornou delator.

Em acordo firmado com a Lava Jato, Cleto afirmou que ele e o ex-deputado Eduardo Cunha, preso em Curitiba, receberam propina para atuar na liberação de empréstimo do FI-FGTS, o bilionário fundo de investimento do FGTS, à Eldorado Brasil, empresa do grupo J&F.

Em entrevista à Folha, Joesley admite que viajou ao Caribe na companhia de Cleto e do operador Lúcio Bolonha Funaro, que é réu na Lava Jato e está preso desde o ano passado.

Mas sustenta que os encontrou por uma coincidência no exterior e os convidou para a casa de um amigo. Os três viajaram no avião de Joesley.

O empresário diz que "nunca pediu nada" a Cleto e não entende por que o delator o envolveu no caso.

*

Folha - Fábio Cleto, que era diretor da Caixa, disse em delação que participou de um esquema para privilegiar empréstimos na Caixa e que beneficiou a Eldorado Brasil. O senhor negociou com Cleto ou com intermediários dele essa facilidade?

Joesley Batista - Eu nunca tive nenhuma conexão com Fábio. Nunca pedi nada ao Fábio. Nem eu nem ninguém em nosso nome. Eu li sobre a delação dele. E o que mais me causa estranheza é que ele se refere a valores que não tem conexão.

Ele diz que recebeu dinheiro da Carioca, que não conheço, nunca vi essa empresa na vida. E que essa propina que a Carioca deu teria sido para me beneficiar, sendo que essa operação não é dele.

Era na área do Marcos Vasconcelos [ex-vice-presidente da Caixa]. Não era na área dele. Toda a operação [da Eldorado] foi discutida não na vice-presidência do Fábio. Toda a operação foi discutida na vice-presidência do Marcos Vasconcelos, não me lembro o nome...

DONO DA JBS
Outros trechos da entrevista com Joesley

Na Viter [Vice-presidência de ativos de terceiros]. Mas o empréstimo do FI-FGTS era deliberado no comitê de investimento do fundo, do qual Cleto participava.

Mas são doze membros. Daí ele dizer que fez alguma coisa? O que estou vendo na imprensa é que ele ficou passando informação, aí já ligando com os achados da "Cui Bono?". Ele ficava passando. Agora, qual interesse? Até colocamos isso em nota também, que é muito estranho funcionário público ficar passando informação se aquilo é realmente.. para o Eduardo Cunha, enfim.

Resumindo: não são tantas operações. Estão questionando nossas relações com a Caixa Econômica. Ponto. É isso. Seja Lúcio Funaro, seja Fábio Cleto, seja Geddel Vieira Lima. Tudo gira em torno da mesma história. O que tem de ponto em comum é que tivemos mesmo relação comercial com Lúcio [Funaro]. E que agora estão ligando Lúcio a esquema com empresa

O senhor diz que não tem conexão com Cleto. Mas esteve com ele algumas vezes, viajou ao Caribe com ele e Lúcio Funaro.

Primeiro, sou uma pessoa pública, né? Ao Caribe, fui bem mais que uma vez. Enfim, não tiro férias. Não tenho por hábito tirar férias. Então, meu hábito é aproveitar finais de semana ou feriados para fazer viagens curtas.

Teve realmente uma coincidência. Eu estava numa viagem internacional. Eu estive em Atenas e eles estavam lá. Eu estava lá indo para o Caribe passar o fim de semana na casa de um amigo. Estava sozinho no avião, chamei eles e eles vieram comigo. Mas não tenho conexão nenhuma com o Fábio.

Mas como senhor encontrou com eles lá? Ninguém se esbarra simplesmente em Atenas.

Eu estava numa viagem internacional e estive em Atenas. Coincidentemente eles estavam lá e fiquei sabendo que eles estavam. Que o Lúcio estava lá. Nós nos encontramos. Eu estava numa agenda e ele em outra. Estava numa questão minha. Eu estava lá sozinho no avião, [então disse] vem comigo. Entramos no avião e fomos.

Minha mulher estava aqui —na época era minha namorada que eu tinha acabado de conhecer. Ela entrou num avião aqui com as esposas [de Cleto e Funaro] e foram. Como eu não ia ficar em hotel, nem nada. Ia para a casa de um amigo que tinha lá os quartos. Cabe mais dois? Cabe. Então vamos. Aí junta uma coisa que é verdade...

Quando digo que não tenho conexão é: não sei onde ele mora, nunca liguei para ele, nunca mandei uma mensagem para ele, ele nunca mandou mensagem para mim, não conheço os filhos dele, ele nunca foi na minha casa, não sei se ele é paulista ou carioca. Tive lá esse momento. Alguém me falou que ele foi na inauguração da Eldorado. Eu nem sabia disso. Foi uma comitiva da Caixa, vários vice-presidentes. Mas de todos os bancos.

Ele diz que conheceu o senhor na casa do Lúcio Funaro.

Não. Eu nunca me conectei com o Fábio. Ele nunca foi uma pessoa das minhas relações.

E uma prática comum convidar uma pessoa que o senhor não tem proximidade, convidar para a casa de um amigo seu ainda por cima?

É engraçado, né? É que na época eu estava solteiro indo para a casa de um solteiro.

O senhor ir para a casa do seu amigo, tudo bem. Mas levar pessoas que o senhor não tem proximidade É algo que acontece com frequência?

Eu sou uma pessoa pública, eu me relaciono com muita gente. Já fiz muitas viagens com pessoas que não são meus amigos. São pessoas que eu me relaciono. Fiquei seis anos solteiro.

Então todo fim de semana eu viajava. Eu me relaciono com muita gente que eu não sou amigo. Cada um tem um estilo.

Isso acontece por quê? O senhor acha que é importante para os negócios?

Estilo. Gosto de jantar em casa. Eu não viajo, gosto de fazer viagens curtas. Não sou de círculos de amizade. Meus amigos são os funcionários da empresa, os clientes, os fornecedores. Meus amigos são as pessoas que, no momento, estão se relacionando...

Se não houve nenhum pedido do senhor ou de alguém da sua empresa, porque o senhor acha que Fábio Cleto fala de vantagens à J&F?

Não faço ideia. Alguém pode ter falado para ele ou pode estar falando isso Não sei qual interesse dele. Não sei se isso melhora a vida dele. Esse não é o primeiro delator que fala de nós.

O senhor afirma que o Max [diretor da Funcef, que o acusou de interferir em trabalho de auditoria na Eldorado] está mentindo, que o Cleto também. Por que a J&F é alvo?

Somos uma empresa grande, participamos de diversos segmentos. Já fomos citados em outras também, com coisas absolutamente descabidas. Não sei o que eles ganham. Não sei.

Max é um delator? Não sei. O que eu sei é que volta e meia aparecem coisas relacionadas ao Fábio Cleto. Não tenho relação com Fábio. E a operação nem era na área dele. O mais intrigante é isso. Toda operação foi tratada com Marcos Vasconcelos.

Mas depois passava pelo comitê de investimento FI-FGTS.

Eram 12 membros.

Mas ele tinha o poder de segurar a liberação do crédito. Você pode segurar a pauta.

Acho que não. No nosso caso, eu te afirmo: eu nunca pedi nada a ele. E ele nunca me atrapalhou em nada.

ENTENDA OS CASOS

Operação Greenfield

Investiga prejuízos em fundos de pensão de estatais. A Justiça viu indícios de que Funcef e Petros adquiriram cotas superfaturadas da Eldorado, que pertence à J&F. A empresa nega

Bloqueio de bens

Joesley e Wesley Batista fizeram acordo para suspender ordem de bloqueio de bens e de afastamento do comando de suas empresas. A Justiça analisa novo pedido de sanções a Joesley por suposto descumprimento do acordo, o que ele nega.

Fábio Cleto

Em delação, ex-executivo da Caixa diz que ele e Eduardo Cunha receberam propina para atuar na liberação de R$ 940 milhões do FI-FGTS à Eldorado e apontou Joesley como autor do pagamento (negado por ele).

Operação Cui Bono?

Mensagens do celular de Cunha mostraram o ex-deputado discutindo com Geddel Vieira Lima, então executivo da Caixa, o andamento de pedidos de empréstimos feitos pela J&F (Joesley nega envolvimento).


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