Falta café no mercado, depois de uma quebra de safra no Espírito Santo. Mesmo assim, produtores têm pressionado parlamentares para barrar a liberação temporária da importação do grão que produz a mais tradicional bebida dos brasileiros.
O Ministério da Agricultura irá recomendar ao governo federal a importação de café para abastecer torrefadoras que enfrentam uma crise de abastecimento, mas não garante que a medida será aprovada, por receber forte oposição de parlamentares ligados aos cafeicultores, disse o ministro Blairo Maggi.
"Tecnicamente estamos bem embasados e eu estou convencido que isso (importação) deverá ser feito. Mas é um tema muito delicado para o Brasil. Raríssimas vezes o Brasil importou café e tem uma resistência muito forte por parte dos produtores, especialmente os do Espírito Santo, e os políticos do Espírito Santo estão mobilizados", disse Blairo. "É uma briga grande!"
Indústrias de café torrado, moído e solúvel têm enfrentado dificuldade nos últimos meses para adquirir café, principalmente da variedade robusta, após uma forte seca prejudicar a safra capixaba.
O café robusta é uma variedade mais simples (e mais amarga), usada principalmente na produção de café solúvel. No país, o principal produtor é o Espírito Santo. O café arábica, cujo principal produtor é Minas Gerais, é mais nobre e mais caro para o bolso do consumidor.
Segundo a Conab, a produção de café nesta safra será de 45,6 milhões de sacas, 11% menor que a colheita passada, que havia sido recorde.
É normal que as safras de café sejam menores no ano seguinte a uma produção cheia, por uma característica dos cafezais. Isso é chamado da bienalidade negativa do café.
No entanto, a queda da produção do tipo robusta não é meramente sazonal. A safra deste ano deve ser de apenas 9,6 milhões de sacas, pouco maior que os 8,4 milhões produzidos no ciclo passado e muito próxima das mínimas. O recorde histórico de 13 milhões de sacas foi batido em 2014.
O Ministério da Agricultura fez recentemente um levantamento do atual estoque privado de café robusta, segundo Blairo.
"Os números que nós levantamos são números que recomendam uma importação para a manutenção da indústria brasileira, especialmente a de exportação", afirmou o ministro.
Contudo, ele relatou que foi chamado para discutir o assunto com o presidente Michel Temer, que pediu "muita calma".
"É uma decisão que, no momento que se tomar, ela vai criar arestas políticas", afirmou Blairo.
O ministro disse que a decisão será tomada no âmbito da Câmara de Comércio Exterior (Camex), envolvendo Casal Civil, ministérios da Fazenda, Relações Exteriores e Indústria e Comércio Exterior, além do próprio ministério da Agricultura.
"A decisão que sairia de lá eu não tenho como precisar", admitiu Blairo.