Folha de S. Paulo


Falta café, mas deputados querem que barreira a importação seja mantida

Ze Carlos Barretta - 24.set.2015/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 24-09-2015, 12h00: Cafezal no terreno do Instituto Biologico na Vila Mariana. (Foto: Ze Carlos Barretta/Folhapress SUP-IMOVEIS)
Cafezal no terreno do Instituto Biológico, um dos sete centros de pesquisa em agronegócio em SP

Falta café no mercado, depois de uma quebra de safra no Espírito Santo. Mesmo assim, produtores têm pressionado parlamentares para barrar a liberação temporária da importação do grão que produz a mais tradicional bebida dos brasileiros.

O Ministério da Agricultura irá recomendar ao governo federal a importação de café para abastecer torrefadoras que enfrentam uma crise de abastecimento, mas não garante que a medida será aprovada, por receber forte oposição de parlamentares ligados aos cafeicultores, disse o ministro Blairo Maggi.

"Tecnicamente estamos bem embasados e eu estou convencido que isso (importação) deverá ser feito. Mas é um tema muito delicado para o Brasil. Raríssimas vezes o Brasil importou café e tem uma resistência muito forte por parte dos produtores, especialmente os do Espírito Santo, e os políticos do Espírito Santo estão mobilizados", disse Blairo. "É uma briga grande!"

Indústrias de café torrado, moído e solúvel têm enfrentado dificuldade nos últimos meses para adquirir café, principalmente da variedade robusta, após uma forte seca prejudicar a safra capixaba.

O café robusta é uma variedade mais simples (e mais amarga), usada principalmente na produção de café solúvel. No país, o principal produtor é o Espírito Santo. O café arábica, cujo principal produtor é Minas Gerais, é mais nobre e mais caro para o bolso do consumidor.

Segundo a Conab, a produção de café nesta safra será de 45,6 milhões de sacas, 11% menor que a colheita passada, que havia sido recorde.

É normal que as safras de café sejam menores no ano seguinte a uma produção cheia, por uma característica dos cafezais. Isso é chamado da bienalidade negativa do café.

No entanto, a queda da produção do tipo robusta não é meramente sazonal. A safra deste ano deve ser de apenas 9,6 milhões de sacas, pouco maior que os 8,4 milhões produzidos no ciclo passado e muito próxima das mínimas. O recorde histórico de 13 milhões de sacas foi batido em 2014.

O Ministério da Agricultura fez recentemente um levantamento do atual estoque privado de café robusta, segundo Blairo.

"Os números que nós levantamos são números que recomendam uma importação para a manutenção da indústria brasileira, especialmente a de exportação", afirmou o ministro.

Contudo, ele relatou que foi chamado para discutir o assunto com o presidente Michel Temer, que pediu "muita calma".

"É uma decisão que, no momento que se tomar, ela vai criar arestas políticas", afirmou Blairo.

O ministro disse que a decisão será tomada no âmbito da Câmara de Comércio Exterior (Camex), envolvendo Casal Civil, ministérios da Fazenda, Relações Exteriores e Indústria e Comércio Exterior, além do próprio ministério da Agricultura.

"A decisão que sairia de lá eu não tenho como precisar", admitiu Blairo.


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