Folha de S. Paulo


Meta da inflação deve caminhar para 3% no longo prazo, diz presidente do BC

Ueslei Marcelino - 20.dez.2016/Reuters
Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn
Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse nesta terça-feira (31) que a meta de inflação no Brasil deve caminhar para patamares mais baixos, mais próximos de 3%, no longo prazo.

Segundo Ilan, o país já está no caminho para baixar a inflação para padrões internacionais. As projeções para este ano e para 2018 giram em torno do centro da atual meta, de 4,5%, salientou, durante seminário promovido pelo banco Credit Suisse para investidores em São Paulo.

Ao ser questionado sobre quando isso poderia ocorrer, ele disse que a fixação da meta para 2019 sairá em junho e que ainda não há decisão.

"Ao longo do tempo, e obviamente estou falando no longo prazo, devemos caminhar para uma meta parecida com a de outros emergentes, que têm inflação perto de 3%."

O Brasil já teve como meta de inflação índices próximos a 3%. O CMN (Conselho Monetário Nacional) definiu para 2002 o alvo de 3,5%, mas o IPCA daquele ano foi de 12,53%, com a disparada do dólar em razão das tensões com a eleição de Lula.

A primeira meta definida para 2003 foi de 3,25%, mas ela acabou depois ajustada para 8,5% -a inflação naquele ano foi de 9,3%.

Antes da fala do presidente do BC, o presidente Michel Temer afirmou, em seu discurso a investidores, que a inflação poderá ficar abaixo de 4,5% já em 2017.

ANALISTAS

Com a rápida desaceleração da inflação, passou a circular no mercado financeiro, na semana passada, a especulação de que o BC poderia tentar baixar a meta de 4,5%.

Para o superintendente do departamento econômico do Citibank Brasil, Marcelo Kfoury, a discussão é precipitada.

Ele ressalta que a taxa de juros ainda está elevada e acima do ponto em que passa a estimular a expansão da economia. Além disso, a economia em recessão também não representa potencial ameaça a um rebote da inflação, em trajetória de queda.

Porém, há riscos no front externo, com as incertezas sobre Donald Trump e as delações da Odebrecht na Lava Jato, que têm potencial de fazer o subir o dólar e afetar a inflação no Brasil.
"A inflação em 12 meses ainda está em 6%, e o governo ainda tem de aprovar a reforma da Previdência, a mais importante reforma fiscal."

Mauro Scheneider, analista da consultoria MCM, também dá ênfase às incertezas no caminho do BC.

Além das turbulências externas, ele observa que há muita indefinição sobre o governo que poderá ser eleito em 2018.

Reduzir a inflação teria custos políticos, afirma, pois implicaria uma nova rodada de ajuste fiscal.

"Para caminhar para uma inflação mais baixa com o país crescendo, precisamos de mais reformas fiscais que não param na reforma da Previdência", diz, citando a resistência de alta de diferentes gastos públicos.

O analista cita ainda a necessidade de reduzir a indexação, que faz com que muitos reajustes sejam feitos mirando a inflação passada. E ganhos de eficiência que poderiam ajudar a ampliar a oferta de bens e serviços sem aumentos de preços.

"Não é um sacrifício sem retorno", afirma.

Em troca, diz ele, o país poderia almejar ter taxas de juros mais baixas, "outro drama que nos coloca em posição diferente da do resto do mundo".

O caminho preferencial, segundo Schneider, caso o BC decida pela redução da meta, é a gradualidade, baixando progressivamente o alvo. Isso, segundo ele, ajudaria a minimizar os custos políticos e sociais de uma redução mais agressiva da inflação.

TRUMP

As turbulências externas, que ganharam novo peso com o presidente americano Donald Trump, pegam o Brasil menos vulnerável, acredita Ilan.

Ele disse que há incertezas crescentes no exterior, mas o Brasil reduziu seu deficit nas contas externas e está recuperando os fundamentos econômicos.

"O cenário global é incerto, não necessariamente para o lado ruim, mas numa economia recuperando fundamentos de forma acelerada", disse.

Ilan disse que, se Trump indica uma virada protecionista, de outro países como o Japão estão voltando a crescer.

O Brasil, disse ele, também se beneficia de uma política econômica mais combinada.

"Há um discurso alinhado que vem do presidente, passa por ministros, funcionários, empresários e investidores. Estamos no caminho certo", disse.

Ele voltou a lembrar que a inflação está cadente e caminhando para o centro da meta de 4,5% ao ano, o que abriu espaço para o BC acelerar o ritmo de corte dos juros.

Mas, se ajuda a baratear empréstimos e pode ajudar a reativar o crédito, a queda da taxa por si só não gerará crescimento, disse ele.

"A política monetária contribui para a recuperação, mas não sozinha, complementada por outras medidas. Temos que investir em reformas que ajudem na produtividade", disse ele, citando as reformas da Previdência, trabalhista e tributária.


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