Folha de S. Paulo


Investidor estrangeiro ainda mostra cautela com o Brasil

Marcos Santos/USP Imagens
A retração do Brasil puxou o resultado negativo para a economia da América Latina. A expectativa para os países da região é de retração de 0,3% este ano. Para 2017, a previsão é de crescimento de 1,6%.No relatório Perspectiva Econômica Global, o Fundo Monetário Internacional diz que no Brasil a recessão é causada pela incerteza política, em meio às contínuas repercussões das investigações da Operação Lava Jato. O FMI acrescenta que as investigações na Petrobras estão sendo mais profundas e prolongadas do que se esperava.Para o fundo, a economia global deve crescer 3,4% este ano e 3,6% no próximo, dois décimos a menos do que o previsto em outubro.Na atualização feita ao relatório, o FMI justifica a revisão para baixo do crescimento mundial tanto em 2016 quanto em 2017 principalmente com o desempenho econômico dos mercados emergentes e das economias em desenvolvimento, como o Brasil. Fonte ABR - notas de real
Notas de real

A transferência de recursos de filiais de empresas brasileiras no exterior às suas matrizes no Brasil, com o objetivo de amenizar os efeitos da crise, fez com que o investimento direto no país somasse US$ 78,9 bilhões no ano passado, uma alta de cerca de 6% em relação a 2015.

Em 2016, filiais de multinacionais brasileiras enviaram US$ 24,1 bilhões às suas matrizes no país na forma de empréstimos entre companhias, alta de 21,7% ante os R$ 19,8 bilhões registrados em 2015, segundo o Banco Central.

INVESTIMENTOS DIRETOS NO PAÍS - Em US$ bilhões

Os mais de US$ 4 bilhões de diferença entre um ano e outro explicam quase todo o crescimento do investimento direto no país, diz Luís Afonso Lima, da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais).

"Não é uma aposta no país", avalia. "Isso tem a ver com crise, com reavaliação de estratégias, com tentativa de reduzir seu endividamento no Brasil em detrimento de seus negócios no exterior."

Esses empréstimos entre empresas aconteceram com força maior em dezembro.

Somente no mês passado, as filiais de empresas brasileiras lá fora trouxeram ao país US$ 8,4 bilhões, um crescimento de 29% em relação ao mesmo mês de 2015.

Isso impulsionou o investimento direto no país como um todo no mês passado –foram US$ 15,4 bilhões, bem acima dos US$ 7,2 bilhões esperados pelo mercado.

No ano, se destacaram nesse sentido multinacionais brasileiras de petróleo, mineração e alimentos.

Quando se olha somente os investimentos em participação no capital de empresas no Brasil, há queda, de US$ 49,3 bilhões para US$ 44,8 bilhões na mesma comparação.

Para este ano, segundo o boletim Focus, do BC, os analistas de mercado esperam um investimento direto de US$ 70 bilhões, ou seja, uma redução de 11% ante 2016.

INVESTIMENTOS DIRETOS NO PAÍS EM 2016 - Em US$ bilhões

TRUMP

Lima, da Sobeet, espera que o número some US$ 65 bilhões neste ano, já que o presidente americano, Donald Trump, afirmou que pretende estimular empresas a investirem nos EUA em detrimento de outros países.

Em 2005, lembra Lima, o então presidente americano, George W. Bush, reduziu, por alguns meses, o Imposto de Renda para empresas que repatriassem capital.

"Naquele ano, o investimento direto americano no mundo caiu 95%", alerta, lembrando que Trump disse que pretende adotar medida semelhante.

Como o país é origem de mais de 20% do investimento direto no Brasil, o impacto de eventuais medidas nessa direção pode ser grande.

Com a crise econômica, que derrubou importações, remessas de lucros e gastos com viagens, o deficit nas transações do Brasil com o exterior somou US$ 23,5 bilhões em 2016, cerca de 60% a menos do que em 2015.

Em relação ao PIB, o deficit representou 1,3%, o menor percentual desde 2007, último ano que o Brasil registrou superavit nas suas transações com outros países.

DESTAQUES SETORIAIS - Variação dos investimentos entre 2015 e 2016


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