Folha de S. Paulo


Com juro alto e desemprego, crédito imobiliário desaba 38% em 2016

Raquel Cunha/Folhapress
Crédito para compra e construção de imóveis desaba 38% em 2016, mostram dados da Abecip
Crédito para compra e construção de imóveis desaba 38% em 2016, mostram dados da Abecip

O crédito para aquisição e construção de imóveis desabou 38,3% em 2016, mas o pior pode ter passado, disse a Abecip (Associação das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) nesta terça-feira (24).

No ano passado, as concessões de empréstimos pelo chamado SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), financiados com recursos de poupança, somaram R$ 46,6 bilhões, contra R$ 75,6 bilhões em 2015.

Foi o menor patamar desde 2009, quando as concessões pelo SBPE atingiram R$ 34 bilhões.

Entre janeiro e dezembro de 2016, foram financiados 199,7 mil imóveis, queda de 41,5% na comparação com 2015.

Juros e desemprego altos tiraram a confiança do consumidor na compra da casa própria, afirma Gilberto Duarte de Abreu Filho, presidente da associação.

Para este ano, a Abecip estima que as concessões devem chegar a R$ 49 bilhões, alta de 5% ante 2016, em um cenário que a entidade avalia como de "estabilidade", com "moderado crescimento" para o crédito da poupança.

"Parece que o fundo do poço passou. O ano de 2017 não deve ser de um grande rompante nessa área. O desemprego continua alto, taxa de juros está caindo, mas ainda está alta. Isso sinaliza, porém, uma reação, mesmo que moderada", diz Abreu Filho.

Em 2016, apenas para pessoas físicas, foram liberados R$ 36 bilhões para aquisição de imóveis, retração de 34% em relação a 2015.

O impacto foi maior no financiamento dos usados. O crédito para a compra dessas unidades caiu 41% em relação a 2015, para R$ 13,7 bilhões, enquanto o financiamento de imóveis novos recuou 30%, somando R$ 22,3 bilhões.

Já o financiamento para a construção (pessoa jurídica) caiu 49% na mesma comparação, fortemente impactado pela queda nas vendas das incorporadoras e menor demanda. De janeiro a dezembro de 2016, foram liberados R$ 10,6 bilhões para a construção, ante R$ 20,8 bilhões em igual período do ano anterior.

O SBPE, que financia unidades com perfil mais de classe média, pode ganhar algum fôlego com cortes na taxa básica de juros —no dia 11, o Copom (Comitê de Política Monetária) reduziu a Selic em 0,75 ponto percentual, para 13% ao ano.

Isso porque, conforme os juros subiam, menos atrativo se tornava o investimento em poupança, que começou a ter resgates de dinheiro. A inflação elevada também contribuiu para que a caderneta perdesse atratividade para o investidor. Em 2016, a captação líquida da aplicação foi negativa em R$ 40,7 bilhões.

"Com os juros caindo, podemos chegar ao final de 2017 com a poupança voltando a ser um investimento competitivo", diz Abreu Filho.

FGTS

Os empréstimos com recursos do FGTS, voltados basicamente para habitação popular, no entanto, mantiveram o crescimento.

Impulsionado pelo programa Minha Casa, Minha Vida, esse financiamento atingiu R$ 64 bilhões em 2016, ante R$ 54 bilhões em 2015. Foi a primeira vez em mais de 10 anos que o empréstimo habitacional do FGTS superou o da poupança.

"Esse é um setor menos sensível às oscilações de mercado", afirma Abreu Filho. Para 2017, no entanto, a entidade ressalta a expectativa de orçamento do Fundo de queda de 1,5% para esse tipo de financiamento.

MEDIDAS DO GOVERNO

Dentro do pacote para tentar estimular a economia anunciado pelo governo Temer em dezembro estão medidas com potencial de impacto no setor imobiliário, como a regulamentação da LIG (Letra Imobiliária Garantida), que ampliaria a oferta de crédito para a construção civil.

Sobre a permissão para saque de contas inativas do FGTS, Abreu Filho diz não saber opinar se isso pode afetar o financiamento, e se limitou a afirmar que "potencialmente, pode haver revisão no FGTS".

Ele avalia, no entanto, que a proposta sondada pelo governo de permitir o uso do FGTS para quitar dívidas não é prejudicial para o financiamento imobiliário. "Parte do recurso do FGTS vem da contribuição do emprego. A medida que a gente conseguir fazer a economia girar e ter mais emprego, vai ter mais dinheiro sendo aportado no fundo também", diz.


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