Folha de S. Paulo


FMI reduz crescimento do Brasil em 2017 e eleva o de EUA e China

A recuperação da economia brasileira será ainda mais lenta do que se pensava, segundo relatório divulgado nesta segunda (16) pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). A estimativa do Fundo é que o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2017 será de 0,2%, menos que os já modestos 0,5% previstos em outubro.

Depois de dois anos em queda (-3,8% em 2015 e -3,5% em 2016), o PIB brasileiro começa o ano sob a expectativa de melhora em desaceleração, mesmo entre os mais otimistas. No fim de 2016 o ministério da Fazenda já havia baixado de 1,6% para 1% a estimativa de expansão do PIB neste ano.

Projeções de economistas consultados pelo Banco Central no Boletim Focus apontam para crescimento de 0,50% da economia brasileira neste ano.

De acordo com o relatório Panorama Econômico Global, uma retomada mais robusta deve acontecer em 2018, quando o Fundo prevê crescimento do PIB brasileiro de 1,5%.

A saída mais lenta da recessão no Brasil puxou para baixo o crescimento como um todo da América Latina em 2017, para 1,2%.

"Na América Latina, o rebaixamento do crescimento reflete em grande parte as expectativas não cumpridas de uma recuperação de curto prazo na Argentina e no Brasil", diz o relatório, que também cita outros motivos, como condições financeiras mais estritas e a incerteza provocada pela eleição de Donald Trump.

EFEITO TRUMP

Apesar das dúvidas, o relatório aumenta levemente sua projeção de crescimento dos EUA no primeiro ano de Trump no governo, de 1,8% em outubro para 1,9%. A de 2018 pulou aumentou 0,2 ponto percentual, para 2%.

Na apresentação do relatório, Maurice Obstfeld, economista-chefe do FMI, disse que a melhora na previsão de crescimento dos EUA se deve ao bom ritmo do país no último ano e à "provável mudança no mix de políticas" que será conduzida pela equipe econômica do governo Trump.

O cenário considerado mais provável pelo Fundo para os EUA, "de uma vasta gama de possibilidades", é que, com Trump, haja "um estímulo fiscal de curto prazo e uma normalização menos gradual da política monetária". Com base nisso, projeta crescimento de 1,9% para este ano e de 2% em 2018. Em 2016, foi de 1,6%.

A promessa de estímulo fiscal e investimento em infraestrutura sustenta a expectativa de um empurrão inicial, como mostra a valorização de ativos americanos e da alta do dólar desde a eleição. Mas o FMI observa que a falta de clareza sobre os planos de Trump torna difícil saber em quanto aumentarão os gastos do governo, com "impactos resultantes na demanda agregada, no potencial de produção, no deficit federal e no dólar."

CHINA

O FMI prevê que a economia global crescerá 3,4% em 2017, depois dos 3,1% em 2016, com base em quatro motores. "Comparando com nosso relatório de outubro, agora achamos que mais desse empurrão virá de perspectivas melhores nos Estados Unidos, na China, na Europa e no Japão".

A China é um dos principais fatores para a previsão de uma retomada mais rápida da economia global neste ano, disse Obstfeld. O Fundo elevou em 0,1 ponto percentual sua projeção de crescimento do PIB chinês neste ano, para 6,5% (6% em 2018).

A mudança reflete a expectativa de continuidade nos estímulos aprovados pelo governo, afirmou o economista. Ele lembrou, porém, que a expansão do crédito de forma contínua travará as reformas necessárias e poderá levar a um pouso forçado da economia chinesa.

"Uma desaceleração acentuada ou conturbada no futuro permanece um risco, dada a contínua e rápida expansão do crédito, dívidas corporativas insolventes e apoio persistente do governo a estatais ineficientes", disse.


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