Folha de S. Paulo


Takata vai admitir culpa em casos de explosões de airbags

Shizuo Kambayashi - 4.mai.2016/Associated Press
Japonesa Takata está considerando entrar com pedido de proteção judicial para unidade nos EUA
Japonesa Takata vai admitir culpa em casos de explosões de airbag

A Takata, fabricante japonesa de autopeças que ocupa posição central na crise mundial de recall de veículos causada por explosões em airbags, fechou acordo nesta sexta-feira (13) com as autoridades dos Estados Unidos e vai se declarar culpada de transgressão criminal; três executivos da empresa foram indiciados por seus papéis no escândalo.

Os indiciamentos de Shinichi Tanka, Hideo Nakajima e Tsuneo Chirakaishi foram anunciados pela Justiça federal americana em Detroit. Os três eram empregados veteranos da Takata, com décadas de experiência no setor automobilístico. Cada um deles responderá a uma acusação de conluio para cometer fraude telegráfica e cinco acusações de fraude telegráfica.

As ações do Departamento da Justiça contra a fabricante de autopeças surgem no momento em que o governo Obama impõe uma rodada final de multas a companhias automobilísticas de todo o planeta por questões ambientais e de segurança.

O Departamento da Justiça deve anunciar um acordo criminal com a Takata em breve, de acordo com pessoas informadas sobre a situação. O valor total do acordo deve atingir cerca de US$ 1 bilhão, acrescentou uma dessas pessoas, e encerraria a investigação sobre os airbags defeituosos da empresa, além de incluir ressarcimento às montadoras de automóveis que compraram esses airbags.

Os três homens acusados "discutiam rotineiramente a falsificação de resultados e dados de testes, a remoção de informações e dados desfavoráveis de teste, e a manipulação de informações e dados de teste" sobre o sistema de inflação dos airbags da companhia, de acordo com o indiciamento.

As ações da Takata subiram em 16%, na sexta-feira em Tóquio, porque os investidores de varejo estavam apostando em que o acordo criminal aceleraria os esforços para encontrar um investidor externo que ajude a empresa a sobreviver ao escândalo de segurança.

Os episódios em questão estão ligados a pelo menos 17 mortes e a ferimentos em mais de 100 pessoas, em diversos países, que resultaram em um recall que pode afetar mais de 100 tipos de veículos vendidos por pelo menos 13 montadoras de automóveis.

EUA E AUTOMÓVEIS

O governo Obama estava ávido por adicionar a Takata à sua lista de vitórias automotivas, que nos dois últimos dias incluiu também a Fiat Chrysler e a Volkswagen. Analistas do setor automotivo esperam que o governo Trump, que está por assumir, adote postura mais relaxada quanto à regulamentação ambiental e de segurança.

Apenas horas antes da notícia sobre a Takata, a Fiat Chrysler havia anunciado que enfrentaria multa de até US$ 4,6 bilhões, depois que a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA a acusou de violar as leis de emissões. A Volkswagen havia aceitado anteriormente acordo quanto a uma multa de US$ 4,3 bilhões em um processo criminal por violação deliberada das leis ambientais dos Estados Unidos.

Ao que se sabe, a Takata está buscando uma possível reestruturação a fim de enfrentar os custos do recall mundial, e pode pedir concordata nos Estados Unidos como maneira de abrir caminho para uma transferência de controle acionário, disseram pessoas informada sobre a companhia.

"Um acordo com as autoridades dos Estados Unidos é pelo menos um ponto de partida. Mas restam muitos problemas sem solução, como os processos civis e a busca de um patrocinador financeiro", disse Mitsushige Akino, vice-presidente executivo de fundos na administradora de investimento Ichiyoshi Investment Management.

As maiores montadoras de automóveis do planeta, entre as quais Honda, Volkswagen e Toyota, estão no momento bancando o custo estimado de mais de US$ 10 bilhões pelo recall de seus carros equipados com airbags Takata potencialmente defeituosos, até que seja possível compreender porque os sistemas de inflação dos airbags apresentam propensão a explodir em condições de umidade.

Essas montadoras se reuniram no ano passado em Nova York a fim de estudar ofertas de entre US$ 1 bilhão e US$ 3,5 bilhões apresentadas por cinco grupos por uma participação controladora na Takata, mas as negociações para chegar a um acordo estão demorando mais que o esperado porque alguns dos candidatos pediram mais tempo para pesquisar a fundo sobre a empresa, disseram pessoas informadas sobre o processo de venda.

Os dois candidatos preferidos das montadoras são a Autoliv, fabricante sueca de airbags, e Key Safety Systems, fabricante de airbags controlada pela Ningbo Joyson Electronic, da China, acrescentou uma das pessoas.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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