Folha de S. Paulo


Banco mais antigo do mundo será resgatado pelo governo italiano

AFP
Banco Monte dei Paschi di Siena em Roma; ações do banco tiveram queda de 75% neste ano
Banco Monte dei Paschi di Siena em Roma; ações do banco tiveram queda de 86% nos últimos 12 meses

O banco Monte dei Paschi di Siena será resgatado pelo governo italiano por meio de um novo pacote de assistência de € 20 bilhões, já que um plano de socorro do setor privado ao mais velho banco do planeta parecia destinado ao fracasso e forçaria os credores do banco a aceitar prejuízos.

O resgate pelo governo, ao qual Roma vinha resistindo há muito tempo, tem por objetivo controlar a crise em câmera lenta no setor bancário italiano, que alarmou os investidores e se tornou a principal causa de preocupação para as autoridades regulatórias das finanças europeias.

Os problemas do setor bancário da Itália se estenderam à esfera política, contribuindo para a derrota do governo no referendo sobre reforma constitucional realizado em dezembro.

Banqueiros afirmaram que o Monte dei Paschi di Siena não havia conseguido levantar dinheiro suficiente com uma oferta de conversão de dívidas em ações, até o prazo limite da quarta-feira (21), e a expectativa era de que o governo elevasse sua participação acionária na instituição, ante os atuais 4%.

Roma pode até mesmo assumir participação majoritária, de acordo com pessoas que estão assessorando o banco.

Os fundos para o resgate do banco devem vir de um pacote de 20 bilhões de libras aprovado pelas duas câmaras do Legislativo na quarta-feira, e que pode ser usado para resgatar diversos dos mais frágeis bancos do país.

As ações do Monte dei Paschi di Siena tiveram sua negociação suspensa na manhã de quarta, depois que o banco, o terceiro maior do país pelo critério de ativos, alertou sobre uma rápida deterioração em seu nível de liquidez. Pessoas próximas ao banco afirmaram que companhias de pequeno e médio porte haviam começado a sacar o dinheiro que tinham depositado nele.

Falando ao Legislativo na quarta, Pier Carlo Padoan, ministro das Finanças da Itália, disse que a recapitalização apoiada pelo governo estaria condicionada à disposição dos bancos de apresentar planos de reestruturação que permitam que eles "caminhem com as próprias pernas, sejam lucrativos e financiem a economia".

Padoan insistiu em que, excetuadas algumas situações "críticas", o sistema bancário italiano é "sólido e saudável". Ele prometeu "minimizar, se não eliminar", qualquer impacto da intervenção pública sobre as economias dos cidadãos comuns.

As ações do Monte dei Paschi di Siena caíram em 86% nos últimos 12 meses, em meio a uma queda média de 50% nas ações dos bancos italianos em geral. A Itália está se preparando para injetar mais fundos em bancos do Vêneto e de Gênova que estão carentes em capital, dadas as expectativas de que eles tampouco conseguirão obter capital privado.

DÉCADA DRAMÁTICA

O resgate pelo governo é o ápice de uma década de dramático colapso nas fortunas do Monte dei Paschi di Siena, banco criado em 1472 para apoiar fazendeiros da Toscana e que se tornou um instrumento de poder crucial na Itália, conectado à esquerda política do país.

Mas suas fortunas decaíram desde a mal concebida aquisição do rival local Banca Antonveneta por € 9 bilhões em dinheiro, pouco antes da crise financeira.

Roma e Bruxelas vêm negociando sobre formas de estruturar o resgate de maneira que permita oferecer compensação aos 40 mil detentores de títulos de dívida de baixa prioridade, que estariam sujeitos a prejuízos, nos termos das novas regras da União Europeia.

O resgate estatal estava iminente desde que o plano de capitalização de € 5 bilhões liderado pelo JPMorgan fracassou em atrair investidores âncora. Uma parte essencial do plano era a conversão de dívidas em ações, que segundo os banqueiros estava a caminho de arrecadar € 1,7 bilhão, muito abaixo do montante necessário.

Uma venda de € 28 bilhões em ativos de mau desempenho, exigida pelas autoridades regulatórias, também está em dúvida e pode ter de ser renegociada, disseram duas pessoas envolvidas.

O Monte dei Paschi di Siena, que já queimou € 8 bilhões em capital novo desde a crise financeira, deve receber o dinheiro do governo sob uma "recapitalização cautelar" acertada com as autoridades regulatórias da União Europeia sob suas novas regras bancárias.

O apoio ao projeto de lei de resgate ao banco foi liderado pelo Partido Democrata, de centro-esquerda, que governa a Itália, mas membros da oposição de centro-direita também concordaram em votar a favor do projeto depois que Silvio Berlusconi, líder do partido Forza Italia, anunciou seu apoio.

O Movimento Cinco Estrelas, o principal partido de oposição ao establishment italiano, liderado pelo comediante Beppe Grillo, se opôs à medida, apelando pela estatização completa de todos os bancos em crise.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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