Folha de S. Paulo


Ganho maior do FGTS só será percebido no longo prazo

As mudanças no FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), propostas pelo governo Temer, vão ajudar a engordar a reserva do trabalhador para a compra da casa própria ou para a aposentadoria, mas o ganho só será sentido no longo prazo.

O governo anunciou na semana passada que planeja dividir metade do lucro anual do fundo com os trabalhadores, um caminho para compensar o rendimento baixo dos recursos sem elevar o custo do dinheiro usado para o financiamento imobiliário.

O recurso extra ainda depende de projeto de lei complementar e só deve chegar na conta do trabalhador em 2018.

Com a distribuição dos ganhos, a rentabilidade do fundo chegaria a 6% ao ano, rendimento próximo do registrado na caderneta de poupança -que perde para a inflação em períodos de elevação acelerada de preços. O dinheiro no FGTS rende hoje 3% ao ano mais TR.

"É mais do que justo. Esse projeto já existia há dez anos, para minimizar essa perda da TR", disse Mario Avelino, presidente do Instituto Fundo Devido ao Trabalhador.

O valor ficará na conta do trabalhador e deverá seguir as mesmas regras de resgate dos demais recursos, como compra da casa própria e aposentadoria.

Para Michael Viriato, professor de finanças do Insper, o impacto só será sentido em dez anos ou mais, quando os juros sobre juros fizerem o dinheiro crescer. "No curto prazo, não surte efeito", afirma.

UM POUCO MAIS - Rendimento do FGTS poderá ficar próximo da poupança

FUNDOS

O rendimento um pouco maior e fixo tampouco deve ser utilizado como pretexto para resgatar recursos do fundo que foram aplicados em ações da Petrobras e da Vale, de acordo com Viriato.

Na década passada, o governo abriu a possibilidade de trabalhadores utilizarem uma fatia do FGTS para comprar papéis dessas companhias por meio de fundos.

O rendimento desses fundos, porém, foi fortemente afetado pela crise global, que reduziu os preços de matérias-primas, como petróleo e minério de ferro. A Lava Jato, que desde 2014 revela casos de corrupção na Petrobras, também fez cair a rentabilidade desses investimentos.

Mas, neste ano, a valorização desses fundos mais que dobrou, acompanhando os ganhos expressivos dos papéis de Vale (140%) e Petrobras (120%) no ano, reflexo da entrada de recursos estrangeiros no país e esperança de retomada econômica com a mudança de governo.

"As ações já caíram, agora não é hora de vender. E qualquer investimento rende mais que FGTS e poupança", afirma o professor do Insper.

A exceção é para quem planeja comprar um imóvel em menos de um ano.

Nesse caso, é melhor ter o rendimento menor e evitar o risco de uma desvalorização dos papéis reduzir o dinheiro guardado para pagar a casa própria.


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