Folha de S. Paulo


Seca no Nordeste completa 5 anos e deixa vida da população mais cara

A seca que atinge os Estados do Nordeste há cinco anos, aliada à escalada do desemprego nas principais regiões metropolitanas da região, potencializou os efeitos da crise econômica regional.

A falta de chuva na região levou a quebras de safra, reduzindo o poder de compra da população nas cidades do interior, de perfil predominantemente rural.

No Ceará, por exemplo, a estiagem afetou a agricultura familiar e irrigada, com impactos na produção da fruticultura e da bacia leiteira.

"As áreas irrigadas estão com mais de 50% do fornecimento de água suspenso. A situação é grave", diz João Porto Guimarães, da Associação Comercial do Ceará.

Raul Spinassé /Folhapress
Felipe Sica, diretor da rede baiana Leão de Ouro, que fechou duas unidades nos últimos dois anos

A redução da oferta pressionou a inflação dos alimentos, resultando em um aumento de preços para o consumidor. A região metropolitana de Fortaleza tem a pior inflação de alimentos do país: alta de 16,2% em 12 meses até novembro, ante 11,6% na média nacional do período.

E isso se reflete em setores como o de supermercados, que, além de vendas menores, notam diferença no perfil de compra do consumidor.

João Cláudio Nunes, diretor da rede de supermercados Redemix (criada em 2004 e que tem 21 lojas na Grande Salvador), diz que produtos de custo menor passaram a ser mais procurados pelos consumidores, assim como as marcas de preço mais baixo.

Em outros setores do varejo, comerciantes fecharam as portas e entregaram pontos de venda na capital e em cidades do interior.

Segundo dados da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Salvador, 3 mil lojas fecharam as portas na Bahia em 2015, atingindo desde o comércio de rua até as grandes varejistas. Um cenário que é o oposto ao vivido até dois anos atrás.

Entre 2004 e 2014, a rede baiana de lojas de calçados Leão de Ouro teve seu maior período de crescimento desde sua fundação, em 1901.

Ela rede triplicou sua receita, passou de nove para 14 lojas em Salvador e abriu uma unidade em Aracaju (Sergipe).

"Foi, sem dúvida, o nosso melhor momento", afirma o empresário Felipe Sica, diretor da Leão de Ouro.

Nos últimos dois anos, contudo, ela foi obrigada a dar passos atrás e fechou duas das 15 lojas da rede.

"Com mais gastos e menos dinheiro entrando, a conta não fecha", afirma Sica, que também é diretor da CDL na capital baiana.

CRÉDITO

Com a baixa oferta e o encarecimento do crédito para ao consumidor, o setor de bens duráveis, como eletrodomésticos, foi um dos que foram mais atingidos.

Empresa do segmento mais tradicional da região, a Insinuante fechou lojas em shoppings de Salvador e nas principais avenidas da cidade.

A empresa faz parte da Máquina de Vendas, que surgiu da fusão com a Ricardo Eletro em 2010. Mesmo sendo do mesmo grupo, as duas marcas concorriam nas principais capitais nordestinas mas, a partir deste ano, a Ricardo será priorizada.

Em Pernambuco, por exemplo, a venda de eletrodomésticos caiu 30,4% de janeiro a novembro, mais que o dobro da média nacional (13,6%). No Ceará, queda foi de 27,2%, e, na Bahia, de 19,4%.


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