Folha de S. Paulo


Rede social Gab conquista usuários expulsos por Twitter e Reditt

Alessandro Shinoda/Folhapress
legenda: Garotas acessam a internet via celular
Criada em agosto, rede social tem regras mais frouxas

Quando o líder nacionalista branco norte-americano Richard Spencer teve sua conta no Twitter suspensa, recentemente, ele saltou ao YouTube para se comunicar com seus partidários.

Spencer acusou o Twitter de "expurgar pessoas com base em suas opiniões" e definiu a atitude da empresa como "stalinismo empresarial".

E, em seguida, delineou um caminho para o futuro. "Obviamente existe o Gab", disse. "Acho que será para lá que iremos em seguida."

O Gab é uma nova rede social, espécie de combinação entre o Twitter e o Reddit -os posts têm o limite de 300 caracteres, e os usuários votam sobre a posição que um post deve ter no feed do site.

Mas o traço que melhor define o Gab são suas regras de uso, ou melhor, a falta delas. O Gab proíbe atividades ilegais (pornografia infantil, ameaças de violência, terrorismo), mas pouca coisa mais.

"Facebook, Twitter e Reddit estão tomando o caminho da censura", afirmou Utsav Sanduja, vice-presidente da empresa. "O Gab, não."

O Gab é um recuo às regras frouxas da velha internet, antes que o Twitter começasse a reprimir assédio e agressões e o Reddit limpasse seus cantos mais obscuros.

E desde que estreou, em agosto, se tornou um porto seguro digital para a extrema direita. É lá que os defensores da supremacia branca e os youtubers que difundem teorias de conspiração podem se reunir sem interferência de liberais e progressistas.

Andrew Torba, 25, fundador do Gab, teve a ideia para o site após ler reportagens de que funcionários do Facebook removeram artigos noticiosos conservadores do feed de notícias da rede social.

Torba -que antes havia criado o Kuhcoon, um sistema de controle automatizado para campanhas publicitárias no Facebook- é um dos raros cristãos conservadores entre os presidentes de empresas de tecnologia.

O Gab foi criado para servir como corretivo para aquilo que ele chama de "grande mídia social" e se baseia no que a empresa define como "um etos pluralista de respeito mútuo e tolerância a opiniões dissonantes".
Enquanto outros sites de mídia social expulsam os usuários incômodos, o Gab os recebe de braços abertos.

O Twitter recentemente reforçou suas regras de uso para policiar não apenas ameaças mas também o discurso do ódio "contra raças, religiões, gênero ou orientação sexual". (A decisão prenunciou o expurgo que suspendeu a conta de Spencer.)

E o Reddit baniu uma comunidade em que adeptos de teorias da conspiração se reuniam para inventar mentiras sobre democratas pedófilos que agiriam em uma pizzaria de Washington.

No Gab, esse tópico está sempre na lista de mais lidos.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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