Folha de S. Paulo


Clubes de pôquer crescem com público fiel e torneios diários

O negócio é pôquer. O crescimento do jogo nos últimos dez anos –são 7 milhões de praticantes no país, segundo a confederação brasileira do esporte– permitiu a profissionalização de clubes e criou um novo mercado.

Os estabelecimentos reúnem centenas de fãs da modalidade todos os dias em torneios que começam no início da noite e terminam de manhã.

Em geral, a casa cobra uma taxa de inscrição dos frequentadores. O local fica com 15%, do valor e o resto vai para os melhores jogadores da noite –o prêmio pode ultrapassar R$ 20 mil.

Segundo Igor Trafane, presidente da CBTH (Confederação Brasileira de Texas Hold'em), há cerca de 500 espaços onde se pratica pôquer no país, alguns dedicados exclusivamente a isso –15% ficam no Estado de São Paulo.

O empresário Denis de Andrade, 39, comprou no final de 2014 30% do clube King Poker, em Campinas (a 93 km de São Paulo) por R$ 60 mil e diz que atualmente não venderia o negócio por menos de R$ 1 milhão.

Andrade transformou a marca em uma franquia, com unidades em Jundiaí (a 58 km de São Paulo) e Piracicaba (a 160 km da capital).

"Tive uma visão de que seria possível transformar a casa em algo profissional, com treinamento, atendimento, tudo o que a gente vê nas grandes empresas", diz ele.

POPULAR

A expansão do jogo na última década tem como principais fatores o aumento do jogo on-line e transmissão das partidas pela TV, o que popularizou os principais jogadores do mundo, que ganham milhões.

"Passou a ser possível ver o que o campeão mundial fazia com as cartas que tinha. E ali se começa a desvendar a cabeça dos grandes jogadores, as razões que levaram ele a jogar daquela forma", diz Trafane, da CBTH.

A insegurança jurídica, entretanto, ainda é uma barreira para empreender no setor. Isso porque o pôquer divide opiniões se deve ou não ser enquadrado como jogo de azar, mas a jurisprudência é favorável à modalidade como esporte.

A falta de uma regulamentação para o setor, contudo, dificulta a criação de um modelo comercial para esses estabelecimentos.

"Quando se quer montar uma empresa, você vai ao Sebrae, tem uma apostila para isso. O pôquer não. Você consulta outro dono de clube", afirma Georgina Velloso, 42, sócia do Hijack Poker, aberto em 2015 na zona sul de São Paulo. "A regra do jogo é uma só, mas para administrar, cada um faz de um jeito", diz.

O investimento no espaço foi de R$ 150 mil. A maior parte foi gasta com as 12 mesas, as dez cadeiras de cada uma delas e fichas do jogo, além do bar. O lucro médio mensal é de R$ 20 mil.

REGRAS

É crime, segundo a Lei das Contravenções Penais, explorar economicamente um jogo de azar –em que o ganho ou a perda dependa exclusivamente ou principalmente da sorte.

No caso do pôquer, os apoiadores do jogo o consideram um esporte intelectual. "É uma construção teórica. O juiz pode entender que não", diz Alexis Couto de Brito, professor de direito penal da Universidade Mackenzie.

Igor Trafane, da Confederação Brasileira de Texas Hold'em, afirma que todas as decisões judiciais foram revertidas a favor do pôquer. Há, inclusive, laudos de perícia técnica que o consideram jogo de habilidade.

Em 2012, a modalidade foi incluída no calendário de eventos do Ministério do Esporte. "Ter um clube é absolutamente legal, mas é preciso criar regras que deem segurança jurídica ao empresário", diz.

"Existe uma insegurança gerada pelo preconceito, principalmente porque alguns promotores e juízes não têm essa visão de que é um esporte intelectual", afirma Pedro Trengrouse, advogado especializado em direito esportivo.

Devido à falta de uma categoria específica, as casas em geral são registrados como fundação, agremiação ou clube-empresa.

O H2 Club, em Pinheiros (zona oeste de São Paulo), por exemplo, não tem donos, apenas quatro diretores eleitos por mandatos de dois anos, afirma o diretor-administrativo João Marcelo Dornellas. Aberto em 2006, o local tem 25 mil sócios.


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