Folha de S. Paulo


Aumenta número de trabalhadores que muda de profissão aos 40 anos

Ronny Santos - 25.nov.2016/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 25-11-2016 - ESTAGIO PARA QUARENTOES - O Ciee tem 7,2 mil estudantes com mais de 40 anos a procura de estagio em seu banco. Marcia Freita da Silva Borges, 40 anos, e um exemplo. Ela entrou em Pedagogia neste ano e largou o trabalho como taxista para ser estagiaria no Colegio Sao Sabas. (Foto: Ronny Santos/Folhapress, CIDADES ) ***EXCLUSIVO CIDADES *** EMBARGADA PARA VEICULOS ONLINE *** UOL E FOLHA.COM CONSULTAR FOTOGRAFIA DO AGORA *** FOLHAPRESS CONSULTAR FOTOGRAFIA AGORA *** FONES 3224 2169 * 3224 3342 ***
Márcia Borges, 40, deixou o trabalho de taxista e agora cursa pedagogia e faz estágio em escola

Depois de anos trabalhando como motorista, Márcia Freita da Silva Borges, 40 anos, decidiu dar um novo rumo para sua vida.

Com filhos criados e uma certa estabilidade financeira, Márcia voltou à sala de aula e hoje é estagiária no Colégio São Sabas, no Jardim Prudência, zona sul da capital.

"Eu sempre quis ter uma formação acadêmica. Como eu já tinha trabalhado com crianças antes e gostava muito, quis me especializar para fazer isso", explica Márcia. Para se dedicar integralmente à nova vida, ela alugou seu táxi.

Como Márcia, não são raros os casos de trabalhadores que decidem deixar as antigas carreiras para apostar em novas áreas. De acordo com o banco de dados do Ciee (Centro de Integração Empresa-Escola), há no país cerca de 7,2 mil estudantes com esse perfil estagiando em organizações públicas e privadas.

Os motivos que levam a essa mudança são os mais variados, segundo Eduardo de Oliveira, superintendente educacional do Ciee.

"Alguns profissionais migram devido às dificuldades em sua área de atuação, outros por vontade de mudar depois de tantos anos trabalhando no mesmo setor ou até por não terem conseguido completar os estudos mais cedo", explica.

Universitários com mais de 40 anos - Número vem crescendo desde 2010

MUDANÇA

Para quem tem medo de se aventurar, os especialistas afirmam que as empresas têm começado a ver vantagens em contratar profissionais mais velhos.

"Enquanto o jovem ainda está experimentando as possibilidades oferecidas pelo mundo do trabalho, profissionais mais maduros já passaram por diversas situações, por isso, tendem a ser mais tolerantes e ponderados", explica Yolanda Brandão, gerente de treinamento do Nube (Núcleo Brasileiro de Estágios).

No caso de Márcia foi justamente a certeza do que queria que garantiu a contratação na nova área.

"Ela já tinha trabalhado com criança e a postura dela era diferente das demais candidatas. Vimos nela muito vontade de aprender, o que fez toda a diferença", afirma Marta Isabel Marchetti Holanda, diretora pedagógica do Colégio São Sabas.

Nem mesmo a diferença salarial –o valor médio da bolsa-auxílio para estagiários de nível superior é de R$ 1.100,07– abala as expectativas da futura pedagoga.

"Eu imaginava que teria que começar ganhando pouco, mas essa é a fase de adquirir conhecimento e experiência. A gente tem que começar pelo começo", afirma Márcia.

IDOSOS

No filme "Um senhor estagiário", de 2015, um site de venda de roupas oferece uma oportunidade de estagiário-senior. O anúncio é visto pelo personagem de Robert De Niro como uma chance de se reinventar.

Inspirada nessa história, a agência de publicidade DMV Comunicação abriu uma vaga para idosos. A empresa não exigia formação específica, mas buscava alguém com olhar de consumidor e com experiência de vida.

Depois de receber mais de mil cartas,a empresa selecionou José Guilherme Lobarinhas, 69 anos. Ele atuava como diretor comercial até 2014, quando ficou desempregado e se aposentou.

"Foi um presente, pois estava à procura de uma oportunidade há um ano, começando a ficar deprimido. Está sendo uma experiência maravilhosa, pois os mais jovens, que são a maioria na empresa, aprendem comigo e eu aprendo com eles", afirma Lobarinhas.

Na semana passada, a pesquisa Síntese de Indicadores Sociais do IBGE mostrou que mais cidadãos acima de 60 anos não estão aposentados e estão vivendo somente com o salário.

De 37,3%, em 2005, o percentual passou a 46,2% em 2015. No ano passado, 53,8% das pessoas com mais de 60 anos estavam aposentadas e trabalhando.


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