Após delatar um cartel nas obras da usina de Belo Monte, a Andrade Gutierrez entregou ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) detalhes de um esquema para fraudar licitação para obras em favelas do Rio de Janeiro.
A empreiteira firmou novo acordo de leniência com o órgão, que instaurou processo administrativo para apurar o suposto cartel.
Segundo a Andrade Gutierrez, as concorrências ocorreram para obras no Complexo do Alemão, no Complexo de Manguinhos e na Rocinha, informou nesta quarta-feira (30) o Cade.
A licitação foi promovida pela Secretaria de Estado de Obras do Rio de Janeiro e financiada com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
De acordo com a colaboração, participaram do esquema as empreiteiras Camargo Corrêa, Camter, Odebrecht, Delta, OAS, Queiroz Galvão, Carioca Christiani Nielsen Engenharia, EIT - Empresa Industrial e Técnica e Caenge.
O acordo, firmado na segunda (28) em conjunto com o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, é mais um desdobramento da Operação Lava Jato.
NEGOCIAÇÕES
A Andrade Gutierrez informou que as conversas entre os concorrentes começaram em maio de 2007 e duraram até o início de 2008.
As construtoras citadas estavam dividas em três consórcios e combinaram as ofertas que seriam feitas, informaram ao Cade os executivos da Andrade.
A ideia era garantir que Queiroz Galvão, Caenge e Carioca levassem o lote referente à Rocinha, que Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Camter e EIT ficassem com as obras do Complexo de Manguinhos e que Odebrecht, OAS e Delta assumissem a urbanização do Complexo do Alemão.
Segundo informações da Andrade Gutierrez, a construtora Camargo Corrêa ficou insatisfeita com o percentual que teria no consórcio e decidiu sair da disputa.
OUTRO LADO
Por meio de nota, a Andrade Gutierrez afirmou que o acordo "está em linha com sua postura de continuar colaborando com as investigações em curso".
A empreiteira firmou, em maio deste ano, um acordo de leniência com o Ministério Público.
A empresa disse ainda que seguirá conduzindo auditorias internas para "esclarecer fatos do passado que possam ser do interesse da Justiça e dos órgãos competentes".
A Camargo Corrêa afirmou que celebrou acordo de leniência em que corrige irregularidades e que não participou do referido projeto.
A Queiroz Galvão disse que não irá comentar investigações em andamento.
Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia não quiseram comentar. A reportagem não conseguiu contato com as construtoras EIT, Caenge e Camter.