Folha de S. Paulo


Com repatriação, contas do governo fecham outubro com superavit recorde

Como consequência da entrada dos recursos da repatriação, as contas do governo federal fecharam outubro com superavit de R$ 40,8 bilhões, o melhor resultado para o mês desde 1997, quando começa a série histórica do Tesouro Nacional.

A arrecadação do governo no período também bateu recorde, chegando a R$ 148,7 bilhões em outubro, um crescimento real (retirado o efeito da inflação) de 33,15% na comparação com o mesmo mês de 2015.

A chamada repatriação gerou receitas de R$ 45 bilhões em outubro. Sem esse montante, o mês fecharia com deficit, e a arrecadação cairia para R$ 103,63 bilhões, o que faria as receitas do governo federal terem o pior desempenho para um mês de outubro desde 2007, quando R$ 99,3 bilhões foram arrecadados.

Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (25).

DEFICIT RECORDE

O balanço positivo para o mês não impediu que, no acumulado do ano, o deficit acumulado tenha sido o pior da história. Entre janeiro e outubro, as despesas superaram as receitas em R$ 55,8 bilhões, um crescimento de 60,1% na comparação com o mesmo período de 2015.

Em 12 meses, o rombo já é de R$ 137,6 bilhões, também o pior resultado para esse período de tempo desde 1997.

No mês passado, a Previdência teve um resultado negativo de R$ 11,2 bilhões –em outubro de 2015, o valor foi maior, de R$ 19,8 bilhões. Já no acumulado do ano os gastos com aposentadorias e pensões representaram um rombo de R$ 123,8 bilhões, valor 53,7% superior ao resultado negativo do mesmo mês de 2016.

No lado das receitas, o resultado acumulado no ano também teve queda na comparação com 2015. Entre janeiro e outubro, as receitas do governo federal totalizam R$ 1,059 bilhão, um crescimento nominal de 5,5% na comparação com os dez primeiros meses do ano passado, mas uma queda de 3,47% quando se retira o efeito da inflação.

A arrecadação específica de tributos da Receita Federal, que somou R$ 146,2 bilhões em outubro, teve alta de 36,6% na comparação com o mesmo mês de 2015. No acumulado do ano, os R$ 1,039 bilhão representaram um recuo de 2,74% em relação ao ano passado.

"Ao longo do ano observamos que a Previdência do setor urbano é que a sofre a deterioração mais rápida e mais severa", observou a secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi. "Isso acontece em função do ciclo econômico, com perda de postos de trabalho, que tem desequilibrado mais fortemente o regime urbano de previdência".

META FISCAL

Nesta semana, o Ministério do Planejamento informou que o governo passou a trabalhar com uma meta de um resultado negativo de R$ 166,7 bilhões neste ano, abrindo um espaço de R$ 3,8 bilhões para compensar os resultados dos demais entes e assim cumprir a meta para o setor público, que é de R$ 163,9 bilhões.

Desconsiderando-se o efeito do pagamento em passivos de R$ 55,6 bilhões em dezembro do ano passado, que não terá efeito no resultado deste ano, o deficit acumulado em 12 meses totaliza R$ 84,6 bilhões até outubro.

De acordo com o Tesouro, para o último bimestre do ano se espera um resultado negativo de R$ 110,9 bilhões.

REVISÃO

Vescovi disse ainda que o Tesouro estuda a modernização do sistema de garantias da União a empréstimos de Estados, tema que foi tratado por ela em reunião com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, nesta sexta-feira.

Os Estados são avaliados de acordo com sua capacidade de pagamento, e recebem ou não garantia do Tesouro para tomar empréstimos com juros mais baixos de acordo com notas —aqueles que possuem A ou B são os únicos que recebem aval para esses financiamentos.

"Queremos modernizar esse sistema, e isso passa pela revisão de procedimentos. Há muito o que otimizar. Vamos fazer uma consulta pública no início de dezembro sobre esse tema."

Ela negou, entretanto, que a mudança tenha como objetivo ajudar estados como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, que enfrentam os mais sérios problemas financeiros e que hoje não possuem capacidade de pagamento para tomar empréstimos com garantia. "Não está prevista nenhuma ajuda adicional a Estados", afirmou.


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