A digitalização do processo produtivo é o motor da nova revolução industrial, que começa a dar seus primeiros passos no Brasil e no mundo.
A ideia é que, por meio do uso de tecnologias como "big data", inteligência artificial e computação em nuvem, toda a cadeia da indústria –da matéria-prima ao cliente final– seja conectada e se comunique virtualmente.
O BRASIL QUE DÁ CERTO - INOVAÇÃO |
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Embora use tecnologias já disponíveis, a grande inovação é que elas são integradas de tal modo que permitem maior agilidade, produtividade e customização do produto –com um custo menor.
No horizonte, a ideia é que a produção aconteça em pequenas fábricas pulverizadas, cujas linhas de produção sejam flexíveis o suficiente para produzir um item customizado para um único cliente, sem perder os ganhos de escala e entregando diretamente a ele, em casa, diz o engenheiro Herman Lepikson, diretor do Instituto Senai de Inovação em Automação, parte do Senai Cinematec, em Salvador.
O movimento vem sendo chamado de "indústria 4.0" (termo de origem alemã) e de "manufatura avançada" (sua versão americana).
No Brasil, iniciativas na área são lideradas pelo governo federal e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que devem lançar, no fim do mês, política para o desenvolvimento da tecnologia.
Por enquanto, na Alemanha, nos Estados Unidos ou no Brasil, ainda há muito o que evoluir para chegar ao cenário descrito por Lepikson, mas alguns projetos já caminham para esse sentido.
O Senai Cimatec é uma das referências na área. Inaugurado em 2012, conta com carteira de R$ 170 milhões em projetos, boa parte deles em indústria 4.0, diz o engenheiro.
Uma dessas iniciativas é o desenvolvimento de hardwares de baixo custo que, instalados nas máquinas industriais, coletam dados relativos a nível de óleo e vibração do equipamento, por exemplo.
Uma estação central processa essas informações e consegue antever a possibilidade de uma falha dali a 60 horas, por exemplo, e apontar a necessidade de manutenção.
O conserto, por sua vez, é feito por meio do uso de realidade virtual. Diante da dificuldade de ter um técnico especializado sempre presente nas fábricas, a ideia é que esse sistema programado oriente um funcionário "leigo", para que ele seja capaz de colocar a máquina em plenas condições novamente.
O grande desafio, segundo Lepikson, é tornar a tecnologia acessível.
Sondagem da CNI apontou os altos custos como a principal barreira mencionada pelo empresariado para a ausência de tecnologia em suas fábricas. Falta de clareza do retorno sobre o investimento vem em segundo lugar.
APOSTA NO FUTURO
Os R$ 56 milhões investidos na primeira e segunda etapas do "Flatfish", projeto feito em parceria com a Shell para desenvolvimento de um robô autônomo para inspeção de instalações submarinas, é um exemplo do nível de recursos exigidos por algumas dessas inovações.
No setor privado, a Siemens é uma das empresas que vêm desenvolvendo tecnologias 4.0 para aplicação industrial.
Um dos projetos, parceria com a Ambev, é a Cervejaria do Futuro. A unidade, em Ponta Grossa (PR), incorpora recursos típicos da manufatura avançada, como acompanhamento digital de todo o processo de produção, que permite um controle que vai da temperatura à vazão das máquinas, diz José Borges Frias Júnior, diretor da Siemens.
Embora o país não esteja atrasado em relação ao que ocorre no mundo, dado que a indústria 4.0 ainda é incipiente, há ajustes que precisam ser feitos para que o Brasil não fique para trás.
Uma das exigências básicas desse processo é uma boa infraestrutura de rede de banda larga, dado que conexão é essencial para todo o sistema, segundo João Emílio Gonçalves, gerente-executivo de política industrial da CNI.
Outro problema é o desconhecimento –o empresariado ainda não está familiarizado com o conceito e tem receio dos altos custos que sua implementação pode implicar.