Folha de S. Paulo


Tecnologia mais barata e aprendizado na web impulsionam centro de criação

Várias ideias na cabeça e placas eletrônicas, impressoras 3D, cortadoras a laser, serras, soldas, espaços colaborativos onde encontrar tudo isso e juntar gente curiosa querendo criar novidades.

Esses são os ingredientes da cultura "maker" (algo como "fazedor", em tradução livre), que começa a se desenvolver no Brasil.

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Espaços compartilhados para o aprendizado do uso dessas ferramentas e para a criação digital vêm ganhando importância no país.

Existem por aqui 32 fab labs ("laboratório fábrica", uma das modalidades de espaços usados por "makers" idealizados no MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts) registrados na rede internacional Fab Foundation (que define parâmetros de funcionamento desses espaços). No mundo, são pouco mais de mil.

Além deles, existem dois tipos de locais de trabalho da comunidade ganhando terreno no Brasil, os "maker spaces" e os "hacker spaces". Porém ainda não existe uma rede no país que forneça dados sobre o setor.

Entre os fatores que incentivam o surgimento da cultura "maker" estão o barateamento da tecnologia (que facilita a disseminação dos aparelhos para criação digital) e a possibilidade de compartilhamento de conhecimento a partir da internet, diz José Michel, cofundador do Engenho Maker, espaço "maker" aberto em julho no Instituto de Engenharia, em São Paulo.

"Marceneiro de garagem é a coisa mais antiga do mundo. Mas, com essas novas tecnologias, a competência, a qualidade e a velocidade com a qual se faz as coisas se transformam."

Também permitem a empreendedores materializar ideias, criar protótipos, testar, descobrir o que deu errado e refazer.

Fundador da empresa Annuit Walk, Marcos Schuler, 29, conta ter desenvolvido sete modelos diferentes de um óculos eletrônico para facilitar a locomoção de pessoas com deficiência visual até chegar a uma solução ideal.

O produto usa sensores de ultrassom para identificar obstáculos no caminho que não seriam localizados por uma bengala comum e que trazem risco de acidentes (um orelhão, por exemplo).

Quando captam um perigo, os óculos vibram levemente do lado em que está o objeto, explica Schuler.

Os primeiros modelos, desenvolvidos por ele no Fab Lab Recife, eram feitos com peças de acrílico cortadas em máquina que funciona a partir de laser e montadas posteriormente.

Porém esses ainda eram feios, cheios de fios caindo pelos lados, conta ele. Depois de ouvir a opinião de cegos que testaram a invenção, ele passou a fazer seus óculos em impressoras 3D.

Em 2015, o Annuit Walk foi um dos vencedores do concurso World Summit Youth Award, promovido pela ONU para destacar projetos de jovens para inclusão social.

Schuler busca parceiros para fabricar o produto.

ACESSO

Se, por um lado, dominar a tecnologia está ficando mais fácil, de outro quem promove o ideal "maker" reconhece que ainda há muito a ser feito para que a eletrônica seja mais acessível.

Entre os desafios está o fato de a maior parte do conteúdo destinado a "makers" ser em inglês, diz Mauricio Jabur, sócio da start-up PandoraLab.

A companhia, misto de loja de componentes para "makers", produtora de conteúdo e de eventos, cria tutoriais para iniciantes desenvolverem seus primeiros projetos e faz workshops em que ensina eletrônica na prática.

Jabur diz acreditar que a cultura "maker" tem o potencial tanto de levar a criação de empresas de sucesso como também de gerar consumidores mais conscientes.

"Um controle para acender uma lâmpada pode parecer algo de outro mundo. Mas, na verdade, em três horas você pode aprender a programar isso. Sabendo o que está envolvido em cada equipamento, você sabe o real valor das coisas."


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