Folha de S. Paulo


Volkswagen vai cortar 30 mil postos de trabalho até 2020; Brasil será atingido

A Volkswagen e sindicatos de trabalhadores acertaram um acordo para corte de 30 mil empregos na marca central do grupo automotivo em troca por compromisso da empresa de evitar novas demissões forçadas na Alemanha até 2025.

Sem entrar em detalhes, a empresa também afirmou que fará cortes na América do Norte, no Brasil e na Argentina, totalizando cerca de 30 mil vagas fechadas.

No Brasil, metalúrgicos das fábricas de São Bernardo do Campo fizeram acordo com a montadora para ter garantia de estabilidade até 2021, desde que assegurado um volume especificado de produção.

"Os funcionários da unidade terão garantia de estabilidade até 2021, desde que assegurado um volume de produção na fábrica de 120 mil veículos no ano. O volume atual de produção está em 175 mil veículos por ano", informou o sindicato em agosto.

A unidade brasileira do grupo disse em comunicado que dos 5.000 cortes divulgados pela matriz no Brasil em cinco anos a partir de 2016, 2.000 já foram realizados neste ano por meio de PDV (Programa de Desligamento Voluntário). No país, a Volkswagen emprega cerca de 20 mil funcionários em quatro fábricas.

"Os 7.000 postos de trabalho [a serem cortados] na América do Sul já estão previstos nas negociações com os sindicatos", afirmou a subsidiária brasileira. "Nas unidades Anchieta e São José dos Pinhais os acordos já foram firmados no início de 2016 e tem uma vigência de cinco anos. As fábricas de Taubaté e São Carlos estão em negociação com a representação dos empregados", disse em nota.

"A consolidação do volume adicional vai depender da evolução do mercado nesses países durante a vigência do acordo com os sindicatos", acrescentou a companhia.

A Volks também prevê cortes de 2.000 funcionários na Argentina no período, dos quais 1.000 foram realizados em 2016 por PDV.

Na semana passada, o presidente da companhia para América do Sul, Central e Caribe, David Powels, anunciou investimentos de R$ 7 bilhões no Brasil até 2020.

Os cortes de vagas foram anunciados no mesmo dia em que a empresa divulgou plano de recuperação que pretende gerar € 3,7 bilhões em economias anuais até 2020 e elevar a margem operacional da marca Volkswagen para 4%, ante 2% esperados para este ano.

A meta, porém, continua abaixo do desempenho apresentado por rivais europeias como a Renault e Peugeot-Citroen, que miram margem operacional de 6% em 2021.

A Volkswagen, maior montadora da Europa, tenta superar o escândalo em que burlou testes de emissão de poluentes de veículos com motores a diesel, o que deixou o grupo alemão diante de bilhões de euros em potenciais multas e acordos judiciais.

Os cortes de vagas vão vir com a promessa da companhia de criar 9.000 posições na área de produção de baterias e serviços de mobilidade em fábricas na Alemanha, como parte da estratégia do grupo em investir em veículos elétricos e direção autônoma.

"Teremos que investir bilhões de euros em novos carros e serviços enquanto os rivais vão nos enfrentar, a transformação será certamente mais radical que tudo que experimentamos até agora", disse o presidente-executivo da marca, Herbert Diess, a jornalistas.

CORTE FUNDO O BASTANTE?

Alguns especialistas argumentaram que os cortes de custos no grupo não são profundos o bastante.

O investimento em pesquisa e desenvolvimento e equipes tem crescido há anos, diante da necessidade de se atualizar a base de custos da empresa.

"O acordo pode ter sido o melhor que a companhia conseguiu com sindicatos, mas não é uma vitória para nenhum dos lados", disse Erick Gordon, professor da Universidade de Michigan. "Os cortes são muito pequenos para tornar a VW competitiva diante da Toyota e outros rivais globais", acrescentou.

Com cerca de 610 mil empregados no mundo, a Volks produziu no ano passado menos veículos que a Toyota, que tem um quadro de 350 mil funcionários. A empresa alemã também tem se mostrado lenta em encerrar produção de veículos não lucrativos de sua base de 340 modelos.

Os representante sindicais da Volkswagen afirmaram que a direção da companhia concordou em evitar demissões forçadas na Alemanha até 2025, um passo que abre caminho para cortes de 23 mil empregos por meio de instrumentos como aposentadorias antecipadas, redução de vagas que não são em tempo integral e programas de demissão voluntária.

ESCÂNDALO

No ano passado, a Volkswagen entrou em grave crise após admitir ter instalado um software para falsear dados de emissões de poluentes em 11 milhões de veículos diesel em todo o mundo.

O sistema é capaz de detectar quanto um carro está sendo testado em laboratório, e de reduzir as emissões de óxidos de nitrogênio, um poluente associado a problemas de saúde.

As autoridades regulatórias dos Estados Unidos determinaram que as emissões de poluentes nas ruas são até 40 vezes maiores do que as demonstradas em testes. A Volkswagen controla também as marcas Audi e Porsche, e a SEAT e Skoda, na Europa.


Endereço da página:

Links no texto: