Folha de S. Paulo


Candido Bracher assume comando do Itaú no lugar de Roberto Setubal

Zanone Fraissat - 12.nov.14/Folhapress
Lucro do Itaú Unibanco cai 8,9% no terceiro trimestre, para R$ 5,595 bilhões
Cândido Bracher substituirá Roberto Setubal na presidência do Itaú

O comando do maior banco privado do país vai trocar de mãos. Candido Botelho Bracher assumirá a presidência do Itaú Unibanco a partir de abril de 2017, quando o banqueiro Roberto Setubal deixará o posto que ocupou por mais de duas décadas.

A troca de bastão só ocorrerá em abril porque é nessa época do ano que o conselho de administração do banco costuma realizar a assembleia anual dos seus acionistas. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (9).

Setubal, cuja família fundou o Itaú na década de 40, completará 62 anos de idade em abril e deixará o comando da instituição dois anos após a idade limite estabelecida pelo estatuto do banco para seus diretores, 60 anos.

Em 2013, quando foi anunciado o início do processo de sucessão, foi aberta uma exceção para o presidente, o que deu a Setubal e aos demais acionistas da instituição mais tempo para a definição do seu substituto.

"A escolha [de Bracher] foi natural, por consenso", disse Setubal ao anunciar a opção nesta quarta. "Não houve dúvida se deveria ser ele ou outra pessoa."

Bruno Poletti/Folhapress
SAO PAULO, SP, 22.09.2016: Candido Bracher - Coquetel para a entrega do premio As Melhores da Dinheiro 2016. (Foto: Bruno Poletti/Folhapress, FSP-MONICA BERGAMO) ***EXCLUSIVO FOLHA***
Candido Bracher, anunciado como novo presidente do Itaú Unibanco em 2017

Em abril, Setubal passará a ocupar o posto de copresidente do conselho de administração do Itaú Unibanco, ao lado do banqueiro Pedro Moreira Salles, da família que controlava o Unibanco antes de sua aquisição pelo Itaú, em 2008.

Bracher, que está com 57 anos, preside atualmente o banco de investimentos Itaú BBA e é responsável pela área de atacado do Itaú Unibanco. Se as regras não mudarem novamente, ele deverá dirigir o Itaú por quatro anos, até completar 62.

"Vou completar 23 anos como presidente do banco e me sinto amplamente realizado por tudo o que foi feito", disse Setubal ao comentar o crescimento anual de 20% da instituição no período em que esteve na presidência.

"A gente acredita na meritocracia, e renovação é importante. E o meu exemplo [de transição no comando] é importante", afirmou.

NEGÓCIOS

O Itaú deu o primeiro passo para a transição no início do ano passado, quando criou um comitê executivo e Bracher passou a acumular a diretoria-geral de atacado com suas funções no Itaú BBA, assumindo a responsabilidade por negócios com grandes empresas e gestão de fortunas.

Outros dois executivos também foram alçados ao comitê: o diretor de varejo, Marco Bonomi, e o de tecnologia, Marcio Schettini. Os três despontaram à época como candidatos à sucessão de Setubal. Bracher, contudo, sempre foi visto como favorito.

Bonomi, que também alcançou a idade limite de 60 anos, deixará a diretoria de Varejo do banco e deverá se tornar membro do conselho de administração do Itaú no próximo ano. Ele será substituído por Schettini.

Na diretoria de atacado, Bracher será substituído por Eduardo Vassimon, executivo que hoje dirige a área de risco e finanças. Ele está no banco desde 1980 e passará a presidir o Itaú BBA.

No terceiro trimestre deste ano, a área dirigida por Bracher foi responsável por 28% do lucro obtido pelo Itaú, que alcançou R$ 5,6 bilhões. A área de varejo foi responsável por 42% do lucro no período.

A família Bracher é sócia dos Setubal desde a incorporação do antigo BBA pelo Itaú, em 2002. Bracher assumiu o lugar de seu pai, Fernão, no comando do Itaú BBA em 2005 e expandiu suas operações de forma significativa nos últimos anos.

Setubal afirmou que seu desempenho na área de atacado o qualificou para o posto e não deu importância para a sua menor familiaridade com o varejo. O banqueiro disse que também não conhece tudo no banco e que qualquer sucessor teria lacunas a preencher.

Bracher afirmou que não pensa em mudanças no banco. "Será um trabalho de continuidade na forma de atuar do banco", disse o executivo.

CITI

Setubal disse esperar que o processo de aprovação da compra da operação de varejo do Citi no Brasil ocorra antes de sua saída do comando do banco.

"Não vemos nenhuma grande dificuldade", disse. O banco ainda não submeteu a compra à aprovação dos reguladores.

EFEITO TRUMP

As ações preferenciais do Itaú Unibanco (sem direito a voto) fecharam em queda de 3,2% nesta quarta-feira (9), dia em que a Bolsa brasileira recuou 1,4%, depois da inesperada vitória do republicano Donald Trump para a Presidência dos EUA.

Outros bancos também sofreram perdas: o papel preferencial do Bradesco recuou -2,74% (o ordinário caiu 2,10%); a ação ordinária do Banco do Brasil fechou em baixa de 3,53% e a unit do Santander teve desvalorização de 2,30%.

No terceiro trimestre, teve lucro de R$ 5,6 bilhões, queda de 8,9% na comparação com o mesmo período do ano passado.

O banco atribuiu parte da queda do lucro a despesas não relacionadas a operações de juros, como o abono salarial aos bancários, pago após o fim da greve de 31 dias.

"Estou no mesmo estado de choque", disse Pedro Moreira Salles, presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco sobre a eleição de Trump. "Ninguém acordou feliz com o que viu nos jornais de manhã."

Para ele, agora será preciso deixar passar o tempo para conhecer "o verdadeiro Donald Trump", já que ninguém conheceria ainda o novo presidente como pessoa pública.

O executivo ponderou que não está claro se as posições do novo comandante dos americanos durante a eleição são coisas que ele realmente pensa ou um personagem.

"Quem é esse indivíduo? Ninguém sabe. É um 'outsider' por essência", disse.

Trump criou polêmica durante as eleições ao falar em construir um muro na divisa com o México, impor restrições a pessoas de religião islâmica nos Estados Unidos e ainda com suas falas machistas e racistas.

Setubal complementou dizendo que existem "mais incertezas hoje do que se tinha ontem", mas não acredita que isso gere um impacto muito grande sobre o Brasil.


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