Folha de S. Paulo


Maior fornecedora mundial, China enfrenta bolha dos preços do alho

Guang Niu/Reuters
ORG XMIT: 450701_1.tif Vendedor de alho dorme em meio a sacas do produto em mercado de Pequim; o banco central da China disse que as medidas para desaquecer a economia já começam a dar resultados. A Chinese garlic vendor sleeps on his produce as he waits for customers, at an outdoor market in Beijing, June 17, 2004. China's measures to cool its fast-growing economy have started showing results, Central Bank Chief Zhou Xiaochuan said on Thursday, sounding the latest official vote of confidence in current policies. REUTERS/Guang Niu
Vendedor de alho em meio a sacas do produto em mercado de Pequim, na China

No século 17, a Holanda passou pela mania das tulipas. Agora, os chineses enfrentam uma bolha em um bulbo de odor mais pungente: o alho.

Os preços quase dobraram nos últimos 12 meses, atingindo um recorde, em razão do clima desfavorável e de uma disparada no interesse dos compradores especulativos, que aceleraram o mercado. Como a China responde por mais de 80% das exportações mundiais de alho, os importadores vêm enfrentando dificuldades.

"Acabo de voltar da China e não há como comprar alho agora", disse Joey Dean, da Denimpex, trading de frutas e legumes de Amsterdã. "Grandes especuladores, com muito dinheiro, compraram volume considerável."

Não existe mercado futuro de alho na China, mas o preço do produto físico em yuan começou a subir em 2015, depois que um período de pesadas chuvas, seguidas por neve, danificou a safra chinesa plantada para colheita em 2016. O salto no preço para um nível recorde atraiu compras especulativas, alimentando a disparada do preço, de acordo com analistas.

O alho é cultivado predominantemente na província de Shandong. A expectativa de safras pobres levou à formação de reservas pelos produtores locais, no passado, mas dinheiro vindo de Pequim e de outras grandes cidades está ingressando no mercado, segundo Cui Xiaona, analista do Sublime China Information Group, um serviço de informações sobre commodities.

"Neste ano, muita gente sabia que a safra de alho seria pobre e por isso imaginaram que seria possível ganhar dinheiro com o diferencial de preços. Assim, muitos correram para formar estoques."

Os esforços das autoridades chinesas para estabilizar o mercado de ações impondo limites às transações com ações, em 2015, resultou em que dinheiro afluísse para ampla gama de commodities.

Os plantadores e comerciantes de alho estão acostumados a essa montanha-russa. Em 2009 e 2010, os preços dispararam depois que especuladores começaram a comprar o produto devido a uma redução na área plantada e uma crença de que o alho poderia ajudar a prevenir a gripe suína. Os preços hoje estão acima dos registrados em 2009 e 2010, segundo o Mintec, serviço de informações sobre preços de commodities.

A oferta escassa e os preços altos levaram a uma queda nas exportações chinesas, à sua marca mais baixa em quatro anos. Nos primeiros sete meses do ano, as exportações de alho fresco caíram 12%, para 895 mil toneladas.

A situação é ainda mais aguda no segmento de alho seco, variedade mais fácil de armazenar que os bulbos frescos. Normas ambientais mais severas também significam que muitas empresas de processamento saíram de atividade, reduzindo ainda mais o suprimento de alho seco.

A China responde por 90% das exportações de alho seco, usado principalmente na fabricação de alimentos.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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