Folha de S. Paulo


Falta às indústrias preparo para explorar a revolução digital

Metade das empresas brasileiras não usa ferramentas digitais em suas linhas de produção e quatro em cada dez não conseguem identificar novas tecnologias importantes para seus negócios, aponta estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Para especialistas ouvidos pela Folha, é um sinal preocupante de que o Brasil não está preparado para a nova revolução industrial gerada pela digitalização, o que pode afastar o país ainda mais das cadeias produtivas que movimentam o comércio global.

"Há oportunidades para entrar nessa história pelo andar de cima, com produtos de alto valor agregado, mas falta uma estratégia. Caso contrário, vamos novamente perder o bonde", afirma David Kupfer, professor da UFRJ.

Tecnologias como as impressoras 3D e a internet das coisas prometem interligar a produção da matéria-prima até os consumidores. Se o conceito for levado ao extremo, cada produto só entrará na linha de montagem depois que o cliente comprá-lo pela Internet, o que significa estoque zero para as empresas.

Os produtos também serão feitos com especificações solicitadas pelos consumidores na hora da compra. As novas tecnologias podem permitir que isso ocorra sem que as empresas percam competitividade ou reajustem preços.

"Estamos diante de uma customização em massa da produção. A união desses conceitos, que costumam ser antagônicos, vai trazer flexibilização muito grande para a cadeia produtiva", diz João Emilio Gonçalvez, gerente executivo de política da CNI.

Para os especialistas, fatores como mão de obra e escala perdem importância na competitividade das empresas, já que a maior parte do valor dos produtos estará nos serviços agregados. Hoje, logística e tecnologia da informação já respondem por 37% do valor dos produtos manufaturados exportados, conforme levantamento da OCDE.

Marcos Troyo, diretor do BricLab da Universidade de Columbia, diz que a indústria 4.0 –como vem sendo chamado o conjunto de novas tecnologias– pode significar uma "desglobalização", ou seja, empresas multinacionais trariam suas fábricas de novo para perto do consumidor.

Emilio, da CNI, também acredita que haverá uma readequação das cadeias produtivas globais. Ele afirma que fatores como inovação, regulação e tributos, entre outros, se tornarão ainda mais vitais para a atração de empresas.

"Nas décadas de 80 e 90, América do Sul e África ficaram de fora das cadeias globais, porque não possuem mercados tão grandes ou mão de obra tão barata quanto a Ásia", diz ele. "Com as novas tecnologias, essas regiões podem ter uma nova oportunidade".


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