Folha de S. Paulo


Após reunião de Temer e líder indiano, ministro diz que Índia é 'protecionista'

Logo após o encontro entre o presidente Michel Temer e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, para tratar essencialmente de comércio e investimentos, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, disse, nesta segunda (17), que a Índia ainda é "muito protecionista" e precisa "retirar as barreiras fitossanitárias" se quiser realmente ser um parceiro estratégico do Brasil.

"A Índia, que quer o Brasil como um parceiro estratégico, precisa retirar as barreiras fitossanitárias que aí estão colocadas, porque elas não existem —o que existe é a política de não querer importar ou dar preferência a um outro país que não seja o Brasil", disse Maggi em Goa, na Índia, mencionando especificamente os casos das carnes de frango e porco e maçã.

Segundo o ministro brasileiro, dentro do próprio governo indiano há uma ala "mais tradicional" que acha que o país não precisa importar esses produtos, e outra que vê necessidade de importações. "Há uma espécie de disputa por qual caminho a ser seguido e o Brasil está à espreita para ocupar esse mercado", afirmou.

O chanceler José Serra afirmou, contudo, que Modi declarou que ia se empenhar "sinceramente" na redução dessas barreiras, especialmente no caso do frango.

Em seu discurso após o encontro, Temer disse que o mercado indiano pode ajudar o Brasil no seu "processo de transformação".

"A retomada de crescimento econômico requer presença ativa no Brasil, não só internamente, mas nos principais mercados do mundo. Entre eles, evidentemente, a Índia", disse o presidente, que convidou Modi para uma visita ao Brasil no próximo ano.

O premiê indiano também disse que o Brasil está entre "os parceiros econômicos mais importantes na América Latina". "Fizemos progresso abrindo novas áreas de cooperação durante essa visita em regulação de medicamentos, pesquisa agrícola e segurança cibernética", afirmou.

Serra repetiu que o comércio com a Índia pode triplicar nos próximos anos, principalmente por causa da complementaridade das duas economias.

"Eu fiz uma continha assim: se o Brasil tivesse com a Índia a mesma proporção das exportações que faz para a China, triplicaria, porque a complementaridade da economia indiana e da economia brasileira é até maior que a complementaridade entre a economia chinesa e a brasileira, inclusive na área de alimentos", afirmou.

A balança comercial entre Índia e Brasil é de US$ 7,9 bilhões.

ACORDOS

Temer e Modi assinaram, nesta segunda, um acordo de cooperação e facilitação de investimentos, um na área de regulação de produtos farmacêuticos e dois em pesquisa agropecuária —sobre o compartilhamento do material genético do gado zebu indiano, e de outros genomas.

"Desde 1950, o Brasil não importa mais gado indiano e, portanto, a nossa variabilidade genética tem sido diminuída nos últimos anos. Com a entrada desse novo material, vamos ganhar produtividade", afirmou Maggi.

Segundo o ministro da Agricultura, o Brasil está estimulando a Índia, que é o segundo maior produtor de açúcar do mundo, a entrar num programa de etanol. "Os empresários e a política brasileira querem que a Índia faça isso, que outros países da região façam isso, para que a gente possa segurar o preço do açúcar e não ter uma commodity com tão alta variedade de preço."

Serra disse ainda que Temer falou com Modi sobre possíveis exportações de equipamentos de defesa para a Índia. "No caso de transporte aéreo, temos temos o caça sueco que vai ser produzido no Brasil, temos o Super Tucano que é um avião de treinamento, temos um outro que serve para transporte de tropas", afirmou.

O chanceler destacou também que há possibilidades entre os dois países na aviação comercial, com a Embraer. Há interesse de empresas indianas em comprar mais aeronaves comerciais. "É uma coisa [na área] privada, mas que o governo aqui tem peso", disse Serra.

Outra área de interesse para o Brasil, segundo Maggi, e que será beneficiada com o acordo de pesquisa agrícola, é a de exportação de lentilhas. A Índia diz que, até 2030, precisará de 30 milhões de toneladas anual do grão.

"Eles buscam fornecedores, e nós vamos começar agora a transferência de material genético para fazer experimentação no Brasil. Nós estamos falando de uma coisa muito significativa."


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