Folha de S. Paulo


Analistas econômicos estrangeiros expressam otimismo com Brasil

O Brasil deixou de ser um pária entre os investidores e se tornou um dos mercados emergentes favoritos em menos de 12 meses —e muitos analistas acreditam que a maior economia da América Latina possa estar a caminho de avanços ainda maiores.

O real brasileiro já subiu quase 23% diante do dólar este ano, e o índice Ibovespa de ações teve alta de quase 41% devido ao impeachment da ex-presidente, a esquerdista Dilma Rousseff, por violações das leis orçamentárias.

Os analistas dizem que novos avanços são prováveis, à medida que o novo governo pró-mercado do presidente Michel Temer, o substituto de Rousseff, leva adiante as reformas econômicas prometidas.

A Câmara aprovou em primeiro turno nesta segunda (11) a primeira dessas mudanças, uma emenda constitucional que limitaria os aumentos reais de gastos públicos a zero por até 20 anos. Isso ajudaria as finanças públicas brasileiras a se recuperarem do colapso sofrido na era Rousseff.

"O ímpeto é muito forte e eles [o novo governo] estão cumprindo o que prometeram", disse Alex Czerwonko, estrategista de ações de mercados emergentes no UBS Wealth Management.

O entusiasmo quanto ao Brasil começa a eclipsar até mesmo a preferência pela favorita do mercado, a Argentina, que capturou a imaginação dos investidores depois que o novo presidente Mauricio Macri, que favorece o setor empresarial, substituiu sua predecessora, a populista Cristina Kirchner.

Rousseff foi criticada por políticas intervencionistas que conduziram a uma explosão no deficit orçamentário e a um rápido aumento na dívida pública bruta, que atingiu valor equivalente a quase 70% do Produto Interno Bruto (PIB) —um patamar insustentável dadas as altas taxas de juros brasileiras.

Isso assustou os investidores e os levou a fugir, causando a pior recessão em mais de um século no país. As estimativas são de que a economia venha a sofrer contração de mais de 7% nos dois anos até o final de 2016.

Pedro Ladeira/Folhapress
Deputados da base do governo comemoram aprovação em 1º turno da PEC 241, que limita gastos públicos, em Brasília, nesta segunda
Deputados governistas comemoram aprovação em 1º turno da PEC 241, que limita gastos públicos

No entanto, há sinais de que a queda esteja chegando ao fim. A confiança dos consumidores cresceu em setembro pelo quinto mês consecutivo, e hoje atinge seu nível mais elevado desde janeiro de 2015. Enquanto isso, a confiança dos empresários do setor industrial é a maior já registrada desde julho de 2014.

A inflação, o velho flagelo da economia brasileira, registrou seu mais baixo aumento mensal em 27 meses, em setembro, o que deu ao Banco Central espaço para começar a baixar sua taxa de juros de referência, a Selic, do pico atual de 14,25%.

A queda aguardada dos juros pode oferecer um estímulo bem vindo à economia e acelerar ainda mais os preços dos ativos brasileiros, dizem analistas.

"Acreditamos que exista espaço para avanços ainda maiores", afirmou David Beker, economista do Bank of America Merrill Lynch. Ele disse estar prevendo um ciclo de relaxamento monetário pelo banco central da ordem dos 450 pontos básicos (4,5%), ante os 350 pontos básicos previstos pelo consenso do mercado, com os juros por fim se estabilizando pouco abaixo de 10% e a inflação caindo para a meta de 4,5% estipulada pelo banco central.

Mais que os fundamentos econômicos, é a política que vem trazendo alta aos ativos brasileiros, dizem analistas. Temer vem demonstrando capacidade de lentamente superar os obstáculos que seu governo enfrenta, e seu partido, o PMDB, emergiu no geral intacto do primeiro turno das eleições municipais, em outubro.

O desempenho razoável nas eleições, nas quais o PMDB conquistou o maior número de prefeituras embora tenha sido derrotado nas duas maiores cidades do país, São Paulo e o Rio de Janeiro, abriu caminho para que Temer pressione pela aprovação de seu pacote de reformas de mercado no Congresso. O projeto de lei deve ser seguido por outros tratando de áreas como a previdência social e as leis trabalhistas. Reformas menores, como a abertura de blocos importantes de exploração petroleira a outros operadores que não a estatal Petrobras, também estão sendo considerados pelo Congresso.

A sequência sólida de reformas sugere que as ações brasileiras podem ter mais a subir, a despeito de a relação preço/lucro futura das ações que compõem o índice MSCI Brazil estar cerca de 1,3 desvio padrão acima de sua média histórica, disse Czerwonko.

"Vai haver bom desempenho continuado", ele disse, enfatizando, porém, que os avanços devem ser mais modestos daqui por diante do que do começo do ano para cá.

Os analistas dizem que a parte notável da história quanto ao Brasil é a dimensão da virada econômica —a contração de 3,5% este ano deve se transformar em alta de 1,5% no PIB no ano que vem.

FUTURO

Mas ainda restam muitas incertezas. As reformas mais ambiciosas de Temer, especialmente mudanças no sistema de aposentadoria e propostas de mudança nas leis trabalhistas, podem encontrar forte oposição na sociedade. Isso poderia assustar o Congresso e paralisar o processo de reforma.

A janela de Temer para a aprovação de reformas também é curta, já que a campanha para a eleição presidencial de 2018 deve começar no final do ano que vem. É improvável que o Congresso queira debater mudanças impopulares quando começar a temporada eleitoral.

Por fim, o presidente e membros de seu partido continuam a ser investigados como parte da averiguação de um grande escândalo de corrupção na Petrobras que ajudou a derrubar o governo de Rousseff.

Mas mesmo considerados esses riscos, o Brasil continua a ser a melhor história de investimento da região este ano, com avaliações que ainda não refletem a possível alta, disse Walter Molano, da BCP Securities.

"O Brasil é o mercado mais promissor da América Latina no momento, mais que a Argentina, dadas as baixas avaliações de suas ações e o direcionamento de suas políticas públicas", disse Molano.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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