Folha de S. Paulo


Empresas transformam burocracia em fonte de renda

Eduardo Anizelli/Folhapress
Rodrigo Scotti, presidente-executivo da Nama, no escritório da empresa no bairro do Paraíso (SP
Rodrigo Scotti, presidente-executivo da Nama, no escritório da empresa no bairro do Paraíso (SP)

Sinônimo de dor de cabeça, a burocracia costuma ser evitada por muita gente, exceto por quem encontrou nela um setor vasto e lucrativo.

Empresas especializadas em descomplicar a vida dos cidadãos comuns, empresários e, cada vez mais, do setor público, têm se espalhado pelo Brasil. A aposta é na terceirização da burocracia.

Um exemplo é a Cartório Mais. A rede de franquias opera com margem de lucro de 40% e teve um aumento de receita de 89% no último ano, quando chegou a R$ 2,36 milhões. E a expectativa é continuar crescendo. "Não atingimos nem 10% do nosso potencial de negócios", afirma o diretor da companhia, Marcus Naves.

Entre os pontos fortes da franquia estão o baixo investimento —são de dois a quatro funcionários por unidade— e inadimplência zero. "O valor cobrado para montagem de loja, em média, de
R$ 15 mil, é muito econômico. Além disso, todos os produtos são ofertados após o pagamento", afirma Naves.

A taxa de franquia varia de R$ 880 a R$ 3.080, e a promessa é de retorno em 18 meses.

Outra companhia do ramo, a Contabilizei, surgiu há dois anos para solucionar problemas da área contábil e, no primeiro semestre de 2016, registrou 400% de crescimento em relação a 2015 inteiro. "Nosso modelo de negócio é favorecido na crise por oferecer economia e facilidade às empresas", diz o CEO Vitor Torres.

Para o advogado da USP Marcelo Domingues de Andrade, especialista em direito empresarial, a realidade brasileira faz com que as empresas que lidam com burocracia se tornem cada vez mais fundamentais. "É um emaranhado de normas, com várias legislações esparsas, muitas criadas a toque de caixa. O cidadão comum e até os empresários, às vezes, não ficam nem sabendo", diz.

Segundo ele, o poder público também tem trabalhado para diminuir a burocracia. Isso abriu outro nicho para as empresas. É o caso da Nama, contratada pelo Poupatempo de São Paulo para melhorar o SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor).

Por meio de robôs, a tecnologia da Nama responde dúvidas que chegam no site e nas redes sociais do programa, o que reduz o tempo de espera, e um funcionário só é usado em casos mais complexos. Segundo o CEO da empresa, Rodrigo Scotti, em dois anos de operação, a companhia gerou R$ 25 milhões em economia para seus clientes.

Apesar do sucesso da empresas, Andrade, da USP, recomenda algumas precauções nesse setor. "As companhias podem prometer mundos e fundos para desburocratizar o dia a dia, assinam contratos e pedem valores adiantados, mas às vezes são situações comuns, que são fáceis de resolver sozinho."


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