Folha de S. Paulo


Crise econômica faz comerciantes do Brás fecharem as portas

Comerciantes da rua Maria Joaquina, no Brás (região central de SP), estão fechando as portas por conta da crise. Famosa por ser "a rua do jeans" de São Paulo, até novembro de 2015 era destino de um enxame de sacoleiras e revendedores todos os dias.

Os pouco mais de 400 metros de extensão da rua Maria Joaquina não são mais os mesmos: das cerca de cem lojas da via, a reportagem contou 28 fechadas. Segundo a Alobrás, associação de lojistas, 30 lojas fecharam na rua e nos arredores neste ano.

Os motivos são variados, mas, na maioria, estão associados à crise. "Essa era uma das ruas mais caras do bairro, mas está acabando. A crise acabou com a Joaquina", diz Robson Hamuche, 39 anos, dono de uma das lojas de jeans na rua.

Ao seu redor, são três estabelecimentos fechados. Ele já conseguiu reduzir o valor do aluguel e cogita mudar o negócio de endereço, para ruas mais próximas à Feirinha da Madrugada, nas imediações da avenida Vautier, onde o movimento de clientes de varejo e atacado ainda é mais intenso.

Robson Ventura/Folhapress
Sao Paulo, SP 23/09/2016 Brasil Crise afeta lojas do Bras, Lojas fechada na rua Maria Joaquina que foi uma das mais afetadas pela crise. Lojas do numero 247 ao 255 que estao fechadas Personagem Robson Hamuche Robson Ventura/Folhapress. EMBARGADA PARA VEICULOS ONLINE *** UOL E FOLHA.COM E FOLHAPRESS CONSULTAR FOTOGRAFIA DO AGORA *** FONES 32242169 3224 3342 ***
O comerciante Robson Hamuche, 39, que cogita mudar loja de endereço

"As lojas começaram a fechar há um ano e meio. Algumas foram para pontos mais movimentados, outras fecharam a segunda unidade que ficava aqui e há as que fecharam de vez", diz Rayane Trigueiro, 23 anos, vendedora em uma loja da rua há dois anos. Na frente de onde trabalha, oito lojas, uma do lado da outra, estão fechadas.

Cristina Souza, 34 anos, que é vendedora em uma loja na rua Xavantes há cinco anos, contabiliza que, só no seu entorno, quatro lojas fecharam nos últimos dois meses. "As vendas caíram 60%", diz.

ALUGUEL

Com as lojas fechando, os aluguéis na região começaram a cair. Luiz Ricardo Santos, 34 anos, gerente de loja na rua Xavantes, diz que, se o comerciante negociar, consegue reduzir bem o aluguel. "Se fosse fechar meu contrato de aluguel hoje, conseguiria passar de R$ 8.000 para R$ 7.000. Em uma loja grande o preço do aluguel era de R$ 20 mil, mas agora quem oferecer R$ 12 mil fecha."

Com esse cenário, alguns proprietários preferem não aceitar ofertas muito baixas e mantêm os imóveis fechados. Em alguns casos, as portas estão fechadas há quase três anos.

A chamada "luva" —um valor cobrado pelo donos dos imóveis pelo direito de alugar o ponto— também não vem sendo praticada por boa parte dos proprietários. Antes da crise, esse montante chegava a R$ 300 mil por contrato.

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Do que os comerciantes reclamam

>> Falta de fiscalização em lojas e confecções irregulares, que não pagam impostos e contratam mão de obra irregular

>> Concorrência desleal dos produtos importados ilegalmente da China, que chegam ao Brasil muito mais baratos

>> Os revendedores diminuíram as compras nas lojas do Brás com medo de ficarem com peças encalhadas no estoque por causa da crise

>> Pelo mesmo motivo, se tornaram mais comuns as compras fracionadas e não regulares

Desemprego no setor

>> Até julho, as lojas de roupas, tecidos e calçados fecharam 7.212 postos de trabalho

>> Em julho deste ano, o setor empregava 95.902 trabalhadores na capital

>> No setor têxtil e de confecção, em todo o Estado, foram 2.504 empregos a menos de janeiro a julho

Queda nas vendas

>> O volume de vendas no varejo de tecidos, vestuário e calçados caiu 11,8% em 12 meses em todo o país

>> No Brás, as vendas caíram 10% no acumulado de janeiro até agosto deste ano

Temporários para o natal

>> O comércio deve contratar 135 mil temporários para o fim deste ano

>> A estimativa é de retração de 3,5% no faturamento do varejo e de recuo de 2,4% nos postos de trabalho ofertados em relação a 2015

>> O maior volume de contratação deve se concentrar no segmento de vestuário, com 62,4 mil vagas


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